É sem sentido esta coisa de sentir.
Sensações que tenho e que sinto em mim.
Sento-me e sinto-me sozinho.
Sofrido e suado de pensar.
Porque há feridas que não saram.
Sentidos que esvoaçam.
Sons que soam sonoros no meu cérebro.
Mas em silêncio.
Se eu soubesse que sofrer seria assim.
Se eu tivesse visto.
Saio de mim por um pedaço de tempo e sem querer, sou só eu.
Sorvo as lágrimas e subo ao mais cimo dos cimos.
Sussurro só para me lembrar de não me esquecer .
Dou-te um beijo e despeço-me das sombras. Os dois somos um. É só um.
Dá-me um sorriso. Dá-me um sabor bom num beijo sôfrego. Dá-me um som de prazer. Serena, sossega. Segura em mim. Para sempre.
sábado, dezembro 30, 2006
Para 2000 e Sete
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
domingo, dezembro 24, 2006
Boas Festas On Tour
Os filhos de pais separados têm um Natal diferente dos outros.
Os filhos de pais separados sofrem nesta altura de um problema que é não terem o dom da ubiquidade. Não temos, pronto, mas dava jeito se o tivéssemos.
Quando somos pequenos, dividimo-nos – obrigatoriamente – pelos almoços e jantares sucessivos de véspera, almoço do dia de Natal, jantar do dia de Natal, lanche do dia de Natal, enfim, uma tourné de farta comezaina e prendas até mais não. Mas isto é quando somos pequenos.
Quando somos grandes, a coisa piora. Porque temos vontade própria, porque este ano não me apetece andar de um lado para o outro mas lá vai ter que ser, porque isto ou muitas vezes – e isto é muito frequente – porque aquilo.
Depois de sermos grandes, somos finalmente adultos, juntos com uma mulher que também tem família e que – é preciso procurar muito mas com um bocadinho de trabalho encontra-se – também é filha de pais separados. Dobra a parada. 4 conjuntos de pais para duas pessoas. É muita fruta – para não dizer que é como o Super Sumo dos Gato Fedorento.
E se durante alguns anos conseguimos gerir a coisa, ferindo uma susceptibilidade aqui, uma susceptibilidade ali, quando temos filhos a coisa piora. Oh lá se piora. Agora não somos nós o centro das atenções, são os nossos filhos. É a Pim Pim que é desejada e querida e adorada por todos os avós – os legítimos e os postiços (que para mim também são avós).
Acontece que há sempre alguém a ficar pendurado e necessariamente, mais do que um ano seguido. Pendurados, mas para as grandes ocasiões – que são 3; a saber: jantar de Natal, Almoço do dia e jantar do dia. É assim que tecnicamente se designam os repastos da época.
E isto levanta uma série de problemas a quem, como eu, de contabilidade conhece o T e 2 ou 3 noções. Fraquinho, portanto.
E por norma, dá merda.
“Ah, porque o ano passado não vieste cá” e o outro “Ah porque já é o 3º ano que não jantas na véspera” e outro ainda “Ah – e começam todos sempre por Ah – porque eu gostava de ver a Pim Pim na noite de Natal”. Irra.
Não é fácil.
Se somarmos a isto o meu irmão – filho do 2º casamento da minha mãe que, surprise surprise, é filho de pais separados, está o caldo entornado. É mais um que tem que gerir a sua agenda de Natal para jantar com o mano, ou almoçar com o mano, ou – como este ano – ver o mano ao almoço de 30 de Dezembro.
Afinal de contas, até aos Reis ainda é Natal não é?
terça-feira, dezembro 19, 2006
Era assim
Acertavam as agendas – aquelas duas mulheres com vida a depender de alguém – e marcavam o dia. Um dia qualquer do meio de Dezembro. Era um dia especial, aquele de fazer os doces e os fritos e as delícias todas que só as avós sabem fazer. E naquele dia viravam a cozinha do avesso. Farinha na bancada de pedra, a mesa ao centro pronta a receber ingredientes – antes - e resultado final – no fim. Garrafas de óleo, alguidares e um tacho enorme e largo de barro. Colheres de pau, ovos, farinha e mais farinha. Rolo de amassar, e aquele instrumento com a roda irregular que servia para abrir a filhó.
Era uma labuta de um dia inteiro e eu gostava.
Ia com uma avó para casa da outra e os mimos eram todos meus. Ajudava – desajudando – e fazia parte. Os doces também eram meus. Rapava os tachos, lambia as colheres e amassava a massa. Ajudava aqui e ali e no fim, a provar todos os doces.
Era eu ali naquela cozinha. Com as minhas avós que ainda tenho mas que já não fazem doces. Estão velhotas, longe de mim e aqui tão perto. Estão longe da minha vida de todos os dias e sei que um dia ainda vou ter saudades. Já sinto a falta desses dias de Dezembro. Desses dias de fazer doces.
Dessas mulheres cheias de força que hoje, são uma sombra dessas tarde frias.
Era assim que o meu Natal começava a saber a Natal.
sexta-feira, dezembro 15, 2006
De
De amor: quero, sempre, os dois, nós, um só, quente, ainda, lembras-te?, o primeiro beijo, o primeiro olhar, o primeiro, os dias, as noites, quero-te, amo-te.
De raiva: larga-me, cala-te, deixa-me, sai, nem consigo olhar para ti, não tem graça, não tens graça, ridículo, que figura, que tristeza, que retrato tão pobre de ti próprio.
De carinho: dou-te um beijo, abraça-me com força, chega-te a mim, faço-te uma festa, olho para ti, sinto-te, pego-te na mão, dou-te a mão, guia-me, escrevo para ti.
De paixão: quente, sentes?, toca-me, toca-te, dá-me um beijo, provo-te, sinto-te, agarro, aguento, aguenta, força, suo, aquela música de Vanessa Daou, leva-me, abre a janela, puxa o lençol.
De ódio: mato-te.
São só palavras soltas de associação directa entre o cérebro e a alma. Palavras de letras pequenas, de gritos largados na noite, num dia, aqui ou em qualquer pedaço de terra. Palavras de querer dizer e não sair e ficar a sentir a explosão na boca (-9), palavras de querer sentir sem deixar a razão tomar conta de nada. Palavras. São só palavras.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
quinta-feira, dezembro 14, 2006
Hoje vai
Há 3 dias que ando a pensar que quero escrever sobre o meu filme azul. E agora vai. Queria fazer um filme azul; fresco como as manhãs, doce como um beijo, quente como tu.
Um filme em película da boa, com qualidade, com garantia e selo de inviolabilidade. Um filme cheio de grão – de cafés – de fumo – nos planos largos – e de música – baixinho mas lá.
Queria fazer este meu filme pelas ruas da cidade. Queria mostrar tudo sem mostrar nada. Dar a ideia de uma rua, de uma luz, de uma pedra. Dar a ideia. Deixar que tu visses tudo e descobrisses o resto – que o tudo tinha que ser pouco.
Queria fazer um filme às cores. Esbatidas do sol sem ser gastas. Pastel sem ser mortas. Pinceladas largas na tela de projecção. Cores e mais cores. Pontos de luz atrás uns dos outros. Sai preto, entra azul e sai e vem vermelho. Tudo assim milhões de vezes por segundo num bailado suave.
Queria fazer um filme curto como a vida. Uns anos de película a serpentear pelo chão. Queria ser realizador, guionista, produtor e assistente – sempre me dou uma ajuda. Queria fazer este filme numa noite. Pelas ruas, pelas estrelas.
Queria agarrar nesta ideia e dar-lhe nexo mas a única coisa que parece fazer sentido são estes flashes que os meus olhos vêm.
Não vendo a ideia a ninguém mas eu compro para mim. Se calhar fica guardada no meu arquivo morto aqui do sótão. Mais ideia menos ideia; não é de certeza isso que me vai deixar passar a linha.
Hoje foi, mas se o tivesse posto aqui há 3 dias tinha saído melhor. O filme já não é o mesmo. Aliás, nunca é, mas não posso parar a cada vez que surge uma ideia.
Se calhar devia – assim não ficava com este gosto amargo na boca de que não era bem isto e ontem estava melhor. 3 dias é muito tempo para encubar coisas simples. E as minhas ideias são simples, são básicas. São coisas de sentir e isso, toda a gente sabe o que é.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
terça-feira, dezembro 05, 2006
Já tinha saudades de vir aqui
Já lá iam uns dias grandes como o vento que tem soprado. Já as velas enfunavam rumo ao frio mais frio e eu sem escrever.
Foi uma semana proibida. Difícil. Um documento – o documento – com prazo intransponível, inadiável. Com os tempos de produção a esmagarem os dias do princípio e do fim uns contra os outros.
Por fim lá saiu. E está bonito até.
Na cabeça de sempre as ideias do costume. A pim, o pingente que aí vem, a mãe dos dois, o mar de manhã e à noite. O Chiado à chuva e ao sol. O Natal de T-shirt no corpo.
E ao mesmo tempo, tantos marcos importantes. O primeiro trabalho para a escola no papel de “pai”. As palavras e as frases novas como “vamos fazê uma ideia” ou o “vamos fazê achim ‘tá bem?”.
O articular de novas expressões é diário.
Os raciocínios são novos sobre coisas simples que naquela cabeça pequenina parecem fazer tanto e sempre sentido.
A cama nova grande. O descobrir do espaço. O vou domi’ antes de jantar com um livro na mão para v(l)er na cama. Os puz’es cada vez menos complicados de levar até ao fim e eternamente os desenhos. A mão e o traço mais firmes. Mais linhas e menos rabiscos. Contornos (é a última das últimas). E as histórias inventadas, os personagens. O Rod’igo que agora é “o meu Rod’igo”.
O lobo mau – sempre ele – que arca com tanta desgraça que chego a ter pena do bicho e a achar que se calhar não é assim tão mau como isso.
E o tanto que isto vale.
Os dias vão passando assim por mim, e eu aqui, a acenar-lhes como a uma regata de horas boas, seguindo umas atrás das outras.
Foi uma semana proibida. Difícil. Um documento – o documento – com prazo intransponível, inadiável. Com os tempos de produção a esmagarem os dias do princípio e do fim uns contra os outros.
Por fim lá saiu. E está bonito até.
Na cabeça de sempre as ideias do costume. A pim, o pingente que aí vem, a mãe dos dois, o mar de manhã e à noite. O Chiado à chuva e ao sol. O Natal de T-shirt no corpo.
E ao mesmo tempo, tantos marcos importantes. O primeiro trabalho para a escola no papel de “pai”. As palavras e as frases novas como “vamos fazê uma ideia” ou o “vamos fazê achim ‘tá bem?”.
O articular de novas expressões é diário.
Os raciocínios são novos sobre coisas simples que naquela cabeça pequenina parecem fazer tanto e sempre sentido.
A cama nova grande. O descobrir do espaço. O vou domi’ antes de jantar com um livro na mão para v(l)er na cama. Os puz’es cada vez menos complicados de levar até ao fim e eternamente os desenhos. A mão e o traço mais firmes. Mais linhas e menos rabiscos. Contornos (é a última das últimas). E as histórias inventadas, os personagens. O Rod’igo que agora é “o meu Rod’igo”.
O lobo mau – sempre ele – que arca com tanta desgraça que chego a ter pena do bicho e a achar que se calhar não é assim tão mau como isso.
E o tanto que isto vale.
Os dias vão passando assim por mim, e eu aqui, a acenar-lhes como a uma regata de horas boas, seguindo umas atrás das outras.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
terça-feira, novembro 21, 2006
Diz que disse 5
E quando em dado momento da história eu li que "os animais disseram em coro: nós vamos ajudar-te a descobrir para que é que serve isto", ouvi a sua voz doce dizer "icho é qué p'echiju".
De memória:
Diz que disse
quinta-feira, novembro 16, 2006
Começou
De manhã
-“Queres fazer um desenho para a D?”
-“Sim.”
-“Então faz lá o desenho enquanto o pai vai tomar banho”
Fui, tomei banho e voltei. O desenho estava feito. Ou melhor, os desenhos. Um num postal e outro num A4.
-“Que bonitos. São os 2 para a D?”
-“Não; são p’ó Rud’igo.”
(Hummmmm)
A medo, perguntei:
-“O Rodrigo lá da escola?”
-“Sim.”
-“E o Rodrigo é teu namorado?”
-“Sim.”
-ahhhhh
Pensei: mas tu ainda não tens 3 anos.... e porque carga de água é que disseste que sim com um misto de vergonha e denguice?
Acho que vou começar a ficar de olho no Ru’digo.
-“Queres fazer um desenho para a D?”
-“Sim.”
-“Então faz lá o desenho enquanto o pai vai tomar banho”
Fui, tomei banho e voltei. O desenho estava feito. Ou melhor, os desenhos. Um num postal e outro num A4.
-“Que bonitos. São os 2 para a D?”
-“Não; são p’ó Rud’igo.”
(Hummmmm)
A medo, perguntei:
-“O Rodrigo lá da escola?”
-“Sim.”
-“E o Rodrigo é teu namorado?”
-“Sim.”
-ahhhhh
Pensei: mas tu ainda não tens 3 anos.... e porque carga de água é que disseste que sim com um misto de vergonha e denguice?
Acho que vou começar a ficar de olho no Ru’digo.
terça-feira, novembro 14, 2006
Diz que disse 4
No carro, à vinda da escola:
- "O que fizeste hoje na escola filha? Brincaste?"
- "Não. Não b'inquei."
- "E não brincaste com quem filha?"
- "C'o Rud'igo, com a Cata'ina..."
- "O que fizeste hoje na escola filha? Brincaste?"
- "Não. Não b'inquei."
- "E não brincaste com quem filha?"
- "C'o Rud'igo, com a Cata'ina..."
De memória:
Diz que disse
quarta-feira, novembro 08, 2006
Diz que disse 3
- "Filha, queres que o pai te chame Pim ou Pim Pim?"
- "Pim Pim"
- "O.K."
- (Silêncio)
- (Silêncio)
- "PAPÁ... chama."
- "Pim Pim"
- "O.K."
- (Silêncio)
- (Silêncio)
- "PAPÁ... chama."
De memória:
Diz que disse
sexta-feira, novembro 03, 2006
Diz que disse 2
- "Oh pim-pim, assim magoas o pai... vá lá ver..."
- "não vou lá ver não"
- "não vou lá ver não"
De memória:
Diz que disse
Diz que disse 1
- "Filha, porque é que não estavas aqui à espera do pai?"
- "não 'tava aqui pu'que 'tava ali"
- "não 'tava aqui pu'que 'tava ali"
De memória:
Diz que disse
quinta-feira, outubro 26, 2006
O ano passado era quarta
Faz hoje um ano.
Agarrei na Bic e desatei a escrever. Escrevi muito mas muito menos do que queria. Escrevi acima de tudo por 2 bons motivos – como no anúncio da Olá – por tudo e por nada. Escrevi alguns dias porque sim. Outros, porque não? Escrevi porque a pim pim sorria ou porque a pim pim chorava. Escrevi porque um dia amava ainda mais os dias e outro dia me apetecia mandar da ponte. E este foi um ano um bocado grande, um bocado doce e muito amargo. Foi um ano de ver a filha crescer e aprender e explicar-se cada vez melhor. Foi um ano de ver o que fazia e como fazia tantas coisas novas que a vidinha lhe ia oferecendo. Foi – claro que foi – um ano muito negro, muito duro, muito diferente. Foi um ano de chorar muito e pouco. Mas foi um ano de chorar.
E foi um ano de esperar o próximo bebé. Um mano para a pim pim.
Foi ano de mudar de vida.
E foi ano de mudar de emprego.
E de hábitos.
Acompanha-me este bloco de notas há exactamente um ano e não o quero perder. Nem as visitas que – regra geral – não conheço.
Quero continuar a escrever e quero escrever pelos motivos de sempre.
Porque a pim pim chora ou porque a pim pim ri. Porque fez isto ou até mesmo, porque fez aquilo. Porque continuo apaixonado como no primeiro dia e amo mais ainda do que ontem. Porque aquele beijo de bom dia foi diferente e aquele olhar matou-me de amor. Porque vai ser tão bom fumar um cigarro enquanto vejo a chuva cair no mar como olhar para as estrelas no verão deitado na rede.
Porque o Alentejo vai continuar a cheirar a férias e as noites quentes me vão tirar o sono e dizer para escrever só mais um texto, só mais uma linha, só uma palavra que seja que suou tão bem na minha cabeça.
Escrevo mais agora, por causa deste vício de escrever aqui.
Descubro-me – às vezes – a cada linha e abro o peito a cada ideia.
E mesmo assim não escrevo tanto como queria.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
domingo, outubro 15, 2006
Mais um
Mesmo quando o dia acaba – ali no final depois do mundo estar a dormir – agarro em mim e na cabeça cheia e deposito-a – serena – na almofada doce do dormir. Faço o balanço, meço e desmeço as horas de sono, prometo a mim que amanhã será melhor. Mas nunca é.
É sempre tarde para ir para a cama, é sempre cedo para me ir deitar.
Somos 2 na cama e na minha cabeça há sempre uma palavra a mais que não me deixa fechar os olhos. Sempre uma ideia. Um jogar de forças do que fiz bem ou fiz mal. Do que não fiz. E é sempre o que não fiz. O que ficou por dizer, por escrever. O que deixei solto num canto do dia e que amanhã já não vai lá estar. Há sempre mais um cigarro até nos dias em que não há mais. Posso fumar tantos numa noite como nenhum. E amanhã logo se vê no humor do dia. No bom dia de cada um. Nas noites mal dormidas de tanta gente mal amada e mal vivida. No que não disseram no dia que passou e que guardam para dizer nunca dos dias todos em que nada disseram. Parece mentira como de tantas bocas sai tão pouco.
Parece doença crónica de não dizer nada.
E todas as noites penso que não revelo fotografias desde o verão passado. Não edito um filme desde que a miúda nasceu.
A primeira vez que o disse foi quando peguei nela a primeira vez, mas continua a ser verdade que esta filha me ocupa o corpo todo.
É tanto o prazer de a ter e de a sentir que me quebra o raciocínio. Sofro de me sentir bem em cada abraço apertado. Não quero que saias do meu colo nunca. Tantas festas e tão doces. As tuas mãos pequeninas e os pés fora da cama.
Os dias que se apresentam com um chamar tão calmo. Os dias em que acordas com fome ou os que acordas com sono e te aninhas em mim ou na mãe.
Não sei se é dos meus olhos mas os meus dias são sempre bons.
É sempre tarde para ir para a cama, é sempre cedo para me ir deitar.
Somos 2 na cama e na minha cabeça há sempre uma palavra a mais que não me deixa fechar os olhos. Sempre uma ideia. Um jogar de forças do que fiz bem ou fiz mal. Do que não fiz. E é sempre o que não fiz. O que ficou por dizer, por escrever. O que deixei solto num canto do dia e que amanhã já não vai lá estar. Há sempre mais um cigarro até nos dias em que não há mais. Posso fumar tantos numa noite como nenhum. E amanhã logo se vê no humor do dia. No bom dia de cada um. Nas noites mal dormidas de tanta gente mal amada e mal vivida. No que não disseram no dia que passou e que guardam para dizer nunca dos dias todos em que nada disseram. Parece mentira como de tantas bocas sai tão pouco.
Parece doença crónica de não dizer nada.
E todas as noites penso que não revelo fotografias desde o verão passado. Não edito um filme desde que a miúda nasceu.
A primeira vez que o disse foi quando peguei nela a primeira vez, mas continua a ser verdade que esta filha me ocupa o corpo todo.
É tanto o prazer de a ter e de a sentir que me quebra o raciocínio. Sofro de me sentir bem em cada abraço apertado. Não quero que saias do meu colo nunca. Tantas festas e tão doces. As tuas mãos pequeninas e os pés fora da cama.
Os dias que se apresentam com um chamar tão calmo. Os dias em que acordas com fome ou os que acordas com sono e te aninhas em mim ou na mãe.
Não sei se é dos meus olhos mas os meus dias são sempre bons.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
terça-feira, outubro 10, 2006
Mão na mão
Quase a chegar a casa ouviu-se uma vozinha vinda do banco de trás: pai, dá a mão. Com a ginástica necessária - e já habitual - dei.
A mão pequenina enroscou-se na minha procurando os dedos para se segurar. Não havia máquina com milhões de pixeis suficientes ou câmara com película sensível o suficiente para retratar o que foi. É uma mão pequenina que procura na minha o conforto, a segurança. É uma mão pequenina que se agarra a mim. É aquela mão pequenina que todos os dias seguro quando saímos do carro, quando vamos para o elevador, quando a ajudo a subir para a sua cadeira ou, pura e simplesmente, quando ela quer. É uma mão igual à de todas as crianças mas esta procura na minha o que só esta lhe pode dar.
É uma mão pequenina numa mão grande. É aquele toque suave a deslizar por entre os meus dedos que me aconchega a alma e a conforta. A ela e a mim. E isto tudo só por ter a sua mão na minha. Deve ser mágica a minha pim pim.
quinta-feira, outubro 05, 2006
Na sombra da lua
"Estou de Alentejo" para este fim de semana maior que os outros. Sãõ férias depois das férias.
E no Alentejo o tempo anda mais devagar e estes 4 dias vão saber a 10.
Queria vir com a caixinha arrumada sem mágoas, mas as saudades são coisa dura de mandar embora e acabámos por fazer uns quilómetros de lágrimas penduradas nos olhos a ofuscar os máximos de quem vinha em sentido contrário.
É sempre bom vir para aqui mas por enquanto nunca é ão bom como já foi.
Valem estas estrelas e iluminar as nossas noites e os caminhos junto ao mar.
Valem as noites frescas de calções à lua e camisola quente no corpo.
Vale o silêncio.
E valem as memórias que por entre um choro mais contido lá deixam sair um sorriso e nos vão aconchegando e embalando.
E no Alentejo o tempo anda mais devagar e estes 4 dias vão saber a 10.
Queria vir com a caixinha arrumada sem mágoas, mas as saudades são coisa dura de mandar embora e acabámos por fazer uns quilómetros de lágrimas penduradas nos olhos a ofuscar os máximos de quem vinha em sentido contrário.
É sempre bom vir para aqui mas por enquanto nunca é ão bom como já foi.
Valem estas estrelas e iluminar as nossas noites e os caminhos junto ao mar.
Valem as noites frescas de calções à lua e camisola quente no corpo.
Vale o silêncio.
E valem as memórias que por entre um choro mais contido lá deixam sair um sorriso e nos vão aconchegando e embalando.
quarta-feira, outubro 04, 2006
Mais um Raio-X à cabeça.
Não sei se inato é o termo certo. Se é droga, vício. Necessidade talvez. Não sei bem explicar mas é uma vontade enorme esta que me dá de vez em quando. As palavras perecem acumular-se caixote acima. Uma e mais outra. E outra palavra e mais uma ideia. Vou escrever então.
.
.
.
.
Ideias que se vão formando por motivo nenhum. Pequenos momentos.
Pode ser o sol, o céu, o ar por cima de mim.
Pode ser uma fotografia que tentei tirar de Lisboa até casa sem nunca ter apanhado o ângulo que queria, a luz que queria e acabou por sair isto.
Era aquele vermelho sangue – mas do bom. Daquele que diz que o dia a seguir vai ser quente. Pode ser um semáforo vermelho que queria fazer funcionar para fazer parar o tempo e olhar... olhar infinatamente para lado nenhum. Só aquele tom vermelho. Só aquele azul celeste do fim do dia. Só eu.
Era uma hora de faz de conta que o dia acabou. De vamos embora para casa receber um abraço enorme de uns braços pequeninos e um beijo grande de uma mulher quase mãe outra vez.
Era hora do banho. Dos sorrisos e dos risos.
Da água quente que é quente e fria que é fria e que as duas juntas sabem tão bem. Hoje foi dia de tomar banho de pé como os crescidos. Como o pai e a mãe.
Ontem foi dia de ver o mano na ecografia e perguntar: e eu? Tu já aqui estás filha. E eu? E eu?
Não consegui articular um raciocínio a tempo porque ela fugiu a rir e aos saltos. Já estava noutra.
É este desejo de que a noite não acabe sem começar e não começe tão funda sem desligar a cabeça.
Este desejo grande de amontoar à toa palavras e mais palavras - que remédio doce este.
É este café surpresa em cima da mesa virada para o mar que me sabe tão bem.
É o cinzeiro que teima em não funcionar como quero e o feriado aí à porta.
É o fumo deste cigarro novo que me envolve como se o vento soprasse à minha volta menos aqui.
É a lua quase cheia que ilumina a água da noite.
São as distâncias. A vontade de ir e voltar. O mistério da pressão que faz voar aqueles gigantes de aço. Dos ventos que fazem andar um barco em todas as direcções.
Tudo isto me faz escrever.
E a minha filha que – temo – perca um dia o nome de tanto ser pim pim. São as palavras novas, as ideias claras.
O jogo do sério a seguir a jantar que não consegue jogar porque se perde de riso com o sorriso escondido da mãe.
É o dormir. Aquela coisa pequenina que me apetece tirar da cama só para sentir ao meu colo e dar beijos até de manhã.
O mistério que é querer deixar aqui um bocado meu todos os dias.
Dá vontade de não parar. De encher páginas e páginas de mim.
É o medo de me entregar para que toda a gente me leia.
Pessoas que eu nunca vi e outras que vejo todos os dias. Pareço outro aqui mas sou o mesmo. Não se ouve a minha respiração. Não se sente o meu cheiro. Não me sentem.
Não me tocam.
Ninguém do outro lado me vê e toda a gente sabe quem eu sou.
.
.
.
.
Ideias que se vão formando por motivo nenhum. Pequenos momentos.
Pode ser o sol, o céu, o ar por cima de mim.
Pode ser uma fotografia que tentei tirar de Lisboa até casa sem nunca ter apanhado o ângulo que queria, a luz que queria e acabou por sair isto.
Era aquele vermelho sangue – mas do bom. Daquele que diz que o dia a seguir vai ser quente. Pode ser um semáforo vermelho que queria fazer funcionar para fazer parar o tempo e olhar... olhar infinatamente para lado nenhum. Só aquele tom vermelho. Só aquele azul celeste do fim do dia. Só eu.
Era uma hora de faz de conta que o dia acabou. De vamos embora para casa receber um abraço enorme de uns braços pequeninos e um beijo grande de uma mulher quase mãe outra vez.
Era hora do banho. Dos sorrisos e dos risos.
Da água quente que é quente e fria que é fria e que as duas juntas sabem tão bem. Hoje foi dia de tomar banho de pé como os crescidos. Como o pai e a mãe.
Ontem foi dia de ver o mano na ecografia e perguntar: e eu? Tu já aqui estás filha. E eu? E eu?
Não consegui articular um raciocínio a tempo porque ela fugiu a rir e aos saltos. Já estava noutra.
É este desejo de que a noite não acabe sem começar e não começe tão funda sem desligar a cabeça.
Este desejo grande de amontoar à toa palavras e mais palavras - que remédio doce este.
É este café surpresa em cima da mesa virada para o mar que me sabe tão bem.
É o cinzeiro que teima em não funcionar como quero e o feriado aí à porta.
É o fumo deste cigarro novo que me envolve como se o vento soprasse à minha volta menos aqui.
É a lua quase cheia que ilumina a água da noite.
São as distâncias. A vontade de ir e voltar. O mistério da pressão que faz voar aqueles gigantes de aço. Dos ventos que fazem andar um barco em todas as direcções.
Tudo isto me faz escrever.
E a minha filha que – temo – perca um dia o nome de tanto ser pim pim. São as palavras novas, as ideias claras.
O jogo do sério a seguir a jantar que não consegue jogar porque se perde de riso com o sorriso escondido da mãe.
É o dormir. Aquela coisa pequenina que me apetece tirar da cama só para sentir ao meu colo e dar beijos até de manhã.
O mistério que é querer deixar aqui um bocado meu todos os dias.
Dá vontade de não parar. De encher páginas e páginas de mim.
É o medo de me entregar para que toda a gente me leia.
Pessoas que eu nunca vi e outras que vejo todos os dias. Pareço outro aqui mas sou o mesmo. Não se ouve a minha respiração. Não se sente o meu cheiro. Não me sentem.
Não me tocam.
Ninguém do outro lado me vê e toda a gente sabe quem eu sou.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
segunda-feira, outubro 02, 2006
Postais
Não quero escrever muito para não estragar. Faltam aqui os sorrisos da pim-pim, as corridas, a genérica arrogância francessa e o muito mau serviço um pouco por todo o lado. Falta o espanto de não se poder comer fora, fora de horas - tipo almoçar às 2 e um quarto - e os milhares de quilómetros de auto-estrada. Falta o sinal que não estava lá e que nos levou quase a Marselha quando queríamos ir a Avignon. Falta o pôr do sol em Cannes e a banda que tocava jazz no cocktail da Regata. Faltam os milhões de "puquês" até ao ponto do "porque tem que mesmo que ser assim filha". Faltam as conversas na varanda até às 2 da manhã. Faltam os mapas. Faltam as frases todas que sabia dizer com os artigos errados. Faltam a genovesa bezana que só dizia para a pim pim: "ma que bela". Falta muita coisa que guardo para mim.
Ficam os postais.
Ficam os postais.
segunda-feira, setembro 25, 2006
Até já
Vou de férias. Eu, a mãe, a pim pim e o mano. Vamos todos. Uma semana fora daqui. Sem sobresaltos, sem o telefone à beira da cama, sem nada que nos encha a cabeça. Vamos uma semana para fora daqui.
Já tarde para estar aqui a escrever.
Tenho o táxi lá em baixo à espera daqui a pouco e tenho que ir dormir mas não me podia ir embora assim.
A pim pim está excitadíssimia com a ideia de ir andar de avião – é a primeira vez – mas acho que ela não faz a mínima ideia do tamanho do bicho, da quantidade de pessoas que vão no “avião do pai”, do barulho que faz e afinal de contas, do que é aquilo que ela vê passar lá em cima quando diz “avião”. Amanhã, quando espreitar pela janela antes de entrar e vir aquele gigante que voa logo se verá.
Não levo o portátil, mas isso não quer dizer que não escreva. Se me apetecer...
A todos, um “au revoir” pequenino do tipo “vou ali já venho”.
quinta-feira, setembro 21, 2006
Agarro na Bic com uma ideia na mão e sai outra no papel. Não é que a caneta seja desobediente ou que sofra de alguma disfunção ao nível psicológico que faça viver em mim várias personalidades. São é muitas. As ideias. Queria entrar neste texto de mansinho. Dizer que ela quer crescer e aprender e fazer sem ajuda tantas coisas. Era mesmo mesmo para estar aqui uma frase que falava da vontade que ela tem em saber tudo, da sua curiosidade, da sua enorme alegria e da sua variação de humor que alterna entre o sorriso mais doce quando tudo está bem e a beiça mais sentida quando é ao contrário. Era para dizer – e digo-o – mas era para ser só isso. Ao invés, saem-me estas palavras todas pela caneta fora. Encho o papel digital com caracteres que me escapam. São pontos e vírgulas que à pressa às vezes não põe. São acentos virados do avesso porque o shift ficou preso ao dedo e a ideia já lá devia estar. É a mão em cima deste espacinho pequeno, de espaços e espaços. São as ideias caraças, são estas ideias todas que me obrigam a escrever a cem à hora para as apanhar. “escreves depressa tu” escrevo o quê? São as ideias todas a matraquilahr aqui em cima. São estes dedos ligados ao cérebro com um bypass no coração, um nó na garganta e o cigarro a arder mesmo aqui ao lado. E fumo outro que este já foi.
“Faz save” digo-me baixinho. Já ‘tá.
São as memórias. São os olhos. Os sorrisos todos que passam por mim. As ideias. Sempre as ideias – que pensamento é bonito de ter mas como palavra deixa muito a desejar – que não param. Não me dá descanso a minha cabeça. Não me dou descanso.
Há sempre mais uma palavrinha e como o blog é meu se estiver a mais não faz mal. Pode não fazer bem mas e então? É mais uma porrada de zeros e uns a encher o espaço virtual. Se calhar é isto que eles chamam de “lixo cibernético”. São milhões de milhões de milhões de terabytes a encher milhões de milhões de milhões de servidores.
Mais um gesto mecânico de sorver tabaco e pousar cigarro. E vai outra vez.
São esta ideias todas que transbordam. E não é gota a gota. É mesmo de enchurrada.
Não sou capaz.
Se calhar gravava e depois passava tudo direitinho com ferro a vapor. Não sejas parvo. Então as ideias passam-se a vapor? Tem que ser com um pano por cima para não deixar brilho.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
Curioso
Sempre me tive na conta de um pai carinhoso, atento e dedicado. Ainda antes da pim pim nascer falava para a barriga e dizia-lhe segredos só nossos. Falava quase todos os dias com ela – mesmo quando ainda não sabia que era uma “ela”. Falava muito e fazia muitas festas na barriga. Era o centro das minhas atenções e o epicentro das minhas emoções. E foi assim durante 9 meses e tem sido assim desde que nasceu. Desde que fui pai que é assim todos os dias.
Agora vem o 2º freguês a caminho. Já lá vão 20 semanas – mesmo mesmo no meinho – e já estou cheio de vontade que o bichinho venha cá para fora. Quero vê-lo. Quero pegar-lhe ao colo e dar-lhe banho e quero muito ver a pim pim com ele. É verdade que já faz parte da família e já tem direito a beijinhos e música de boas noites. É verdade que quando vamos a algum lado e alguém lhe pergunta quem vai, ela responde: vai o papá, a mamã, a pim pim e o mano. Ela já o tem como parte integrante. E depois? Como será quando perceber que ele chora, que ela mexe, que ele dorme cá em casa? Como é? Como é que vai ser quando ela perceber que tem que repartir o colo com o mano, os mimos com o mano, o tempo com o mano? Como é que vai ser quando os dias forem passados a 4 e não a 3 mais uma barriga? A curiosidade matou o gato e a mim consome-me devagarinho. Não vejo a hora de os ver juntos.
quarta-feira, setembro 13, 2006
Mais um bocadinho
Quando escrevo, faço-o de forma egoísta. Sentida mas para mim. Para ver aparecer no écran, letra após letra, as palavras que o meu cérebro dita baixinho. Para não explodirem por dentro as ideias todas, as frases todas; os gritos e as lágrimas. E os sorrisos.
Escrevo para me libertar do que me enche a cabeça e arranjar espaço no caixote para coisas novas. Escrevo porque sim.
Podia abrir um documento a que daria um nome qualquer e lá deixar tudo em vez de o fazer aqui. É verdade que não precisava e também não sei muito bem porque é que o quis fazer neste cantinho aberto ao mundo. Mas quis. Não sei se é pela audiência, pela intrínseca necessidade de aprovação e de reconhecimento ou apenas porque noutro lado estes textos pareciam fora de contexto.
A verdade é que a cada palavra minha aqui menos de mim vai sobrando para mim. Vou abrindo a cabeça às fatias e o resto tabém. Se calhar é mesmo só porque gosto de escrever e nas gavetas já não cabem tantos papeis e textos soltos. Se calhar é porque aqui o arquivo é eterno e assim como assim, é de pessoas que eu mais gosto na vida. É nelas que eu acredito. E se alguém ler o que escrevo, lê. É assim que eu sou. E este é mais um bocadinho de mim; outra vez.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
terça-feira, setembro 05, 2006
Obrigado
Obrigado a todos os que ouviram no sábado, no domingo ou nos dois dias o "O meu Blog dava um programa de rádio".
Foi muito engraçado ouvir alguém - que ainda por cima admiro e ouço todos os dias há não sei quantos anos - dizer coisas minhas. Coisas escritas com a Bic Cristal para o Bic Cristal.
Foi uma hora inteirinha de emoção com coisas boas que foi bom ouvir e outras que não queria recordar mas que, vá lá saber-se porquê, alguém na Comercial achou que deviam ir para o ar. É verdade que fazem parte da história do blog e logo, da minha história, mas havia um post que teria trocado. Um só. Tudo o resto foi único.
E foi também uma agradável surpresa ter sido o Pedro Ribeiro a lê-los. Porque, como já disse, sou ouvinte dos programas da manhã do Pedro desde sempre e porque - sem qualquer tipo de demérito ou desconsideração - se me tivessem dado a escolher quem é que eu queria que lesse aquilo no programa, seria sem dúvida ele.
Por fim, obrigado também pelos comentários no post anterior de pessoas que nunca cá tinha vindo e que gostaram o suficiente de ouvir o programa para querer saber mais. Voltem sempre.
Mesmo mesmo a acabar, obrigado à Rádio Comercial. Foram 60 minutos muito bons.
Para quem não ouviu, até ao fim da semana eles andam por aqui.
quarta-feira, agosto 30, 2006
Bic Cristal na Rádio Comercial
O Bic Cristal vai chegar em versão acústica ao planeta todo.
Medo, muito medo.
Sábado às 21h e domingo às 23h.
Vou tentar andar distraido até que de repente: "olha... isto fui eu que escrevi... e 'tá a dar na rádio do Xô Pedro Ribeiro."
Ando num limbo de "ai meu deus" e "falta muito para o fim de semana?"
Assim como assim vai ecoando na minha cabeça o "faz de conta que é sexta". pode ser que ajude o tempo a passar.
Agora como é que eu vou explicar à Pim Pim sábado à noite: "sabes filha, isto que o sr está a ler foi o pai que escreveu". ? tá bem 'tá.
Medo, muito medo.
Sábado às 21h e domingo às 23h.
Vou tentar andar distraido até que de repente: "olha... isto fui eu que escrevi... e 'tá a dar na rádio do Xô Pedro Ribeiro."
Ando num limbo de "ai meu deus" e "falta muito para o fim de semana?"
Assim como assim vai ecoando na minha cabeça o "faz de conta que é sexta". pode ser que ajude o tempo a passar.
Agora como é que eu vou explicar à Pim Pim sábado à noite: "sabes filha, isto que o sr está a ler foi o pai que escreveu". ? tá bem 'tá.
terça-feira, agosto 29, 2006
Acho que já te disse isto
Já te escrevi aqui o que te disse em casa. Antes e depois de tudo.
Já te disse como preciso de ti.
Já te disse como é bom acordar ao teu lado e aninhar-me no teu corpo quente.
Já te disse tantas vezes que te amo que às vezes tenho medo de desvalorizar o tanto que me importa.
E já te disse isto também.
Já te disse que sempre fui feliz contigo mas que desde que a filha nasceu é que sou feliz porque já não percebo bem como se pode ser feliz sem ela.
Já te disse - porque é verdade que eu falo um bocado - que é contigo que quero passar os meus dias todos.
Já te disse que não preciso de estar longe de ti um segundo para sentir a tua falta.
Já te disse - esta de certeza que já disse - que te amo mais que a vida mais que o mundo.
(São coisas nossas, não é? Mas é assim mesmo.)
Já te disse que ainda estou tão feliz como no início e mais ainda um bocadinho.
Acho que já disse mas não faz mal dizer outra vez, pois não?
Parabéns. Estes 3 anos não parecem nada comparado com tudo.
(Amo-te - também acho que já tinha dito isto, não tinha?)
domingo, agosto 20, 2006
Lisboa tem mais cor do que parece
Lisboa parece outra. Diferente da cidade dos dias da semana. Há menos pessoas, menos carros, menos barulho.
Parece que avançou e deixou toda a gente para trás. Parece parada a pensar na vidinha dela.
Ainda assim, aqui neste meu canto as coisas são sempre diferentes. Nesta zona da cidade mais urbana, mais trendy e mais fashion, a paisagem acaba sempre por ser diferente. Diferente do resto da cidade e diferente de tudo. O que aqui existe só existe aqui.
Cá em baixo, virado de frente para a Rua Garret como quem dá as boas vindas a quem desce, o edifício dos Armazéns do Chiado observa, sereno e abre as suas portas ao melting pot que o Chiado também é.
A descer vem a “menina” da Bad Bones; uma mulher de cabelo encarnado com 50 e tal anos, tatuada dos pés à cabeça, dizem – que há partes que não se vê e eu também não tenho grande curiosidade - 3 betos de camisinha Tommy, calcinha de pinça da Gant e mocassin Sebago do El Corte Inglês.
Mais à frente 2 gays de camisolita de alças e calça descaída – e não era preciso tanto rapazes! -e um executivo ao telefone com ar de quem dá ordens de compra em Wall Street mas que muito provavelmente está a dizer ao mecânico que se calhar é melhor carregar a bateria mais uma vez que aquilo ainda aguenta porque ele tem um primo que fez mais de 300 mil quilómetros com um Punto de 87 e a bateria foi carregada vezes sem fim.
Um pouco mais abaixo, 3 caixas do balcão do Totta da R. do Ouro e mais 3 tias com saquitos da Zara metidos dentro de outros da Hermès e da Paris em Lisboa.
Mais um maluco a falar sozinho e a andar às voltas.
E mais um músico de viola no colo a embalar esta gente toda com bossa nova.
Atrás, 3 putos do IADE e 3 miúdas da ESBAL com os cadernos de desenho A3 debaixo do braço.
Paradas no cimo da R. do Carmo, 2 miúdas estrangeiras com ar de quem está ali numa pensão da R. Augusta e que à noite quando se deitam pensam sempre: será que ela vai tentar alguma coisa. Eu até era gaja para experimentar. Pronto, assim naquela de estou de férias e longe como o caraças de toda a gente e aqui ninguém nos conhece e era só uma vez e era um segredo só nosso e já não morria estúpida!
2 boiolas com 60 e tal anos que disseram às mulheres e aos filhos lá em Munique que vinham a uma reunião de negócios em Lisboa, decidiram sair do armário e andam agora de mão dada a tirar fotografias ao pé das Vacas da Cow Parade com as suas peuguitas brancas enfiadas nas sandaluchas.
A entrar, 2 actrizes riem e conversam.
E logo a seguir, uma jornalista bem conhecida caminha com os olhos no chão escondidos pelas lentes esuras dos óculos.
Quais semáforos, 2 punks com crista às cores atravessam a rua.
Cruzam-se com os taxistas que param em frente ao Hotel do Chiado e cruzam-se com 2 caramelos com aquele ar de que se aparecessem numa rua deserta às 3 e meia da manhã, eu era gajo para dar meia volta e acelerar o passo.
No passeio, 3 agentes da Policia Municipal em patrulha motorizada e poucos metros acima destes, 4 homens com ar de quem parou a obra um bocadinho para ver “o ambiente” e não consegue deixar de olhar para as 2 bifas da pensão. Para elas e para todas as outras que passam à volta – as cabeças perecem um radar.
Lá em cima - desilusão – um casal perfeitamente normal.
O chiado é isto e é isto todos os dias.
Tem muita cor esta cidade. Muita cor mesmo. Muito mais cor do que aquilo que parece.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
Eu sou uma besta e a minha filha é muito educadinha
Dito assim, até parece uma afirmação sem possibilidade de rebate. Ao pormenor, confirma-se: é mesmo uma afirmação sem possibilidade de rebate.
Na quinta feira passada, depois de chegar a casa e dar banho à Pim Pim, levei-a para o quarto para lhe pôr o creme e vestir.
Há 2 anos e meio que lhe ponho creme e há 2 anos e meio que faço exactamente os mesmos movimentos. Há 2 anos e meio que o esquema é pernas, barriga, braços, cara e costas. Sempre foi assim e sempre foi assim. Sempre foi assim.
Na quinta feira, deitei-a no muda fraldas, levantei o toalhão e comecei. Creme nas mãos esfrega uma na outra para não ficar tão frio e vai de massajar. – acho que este esquema que arranjei tem também a ver com o facto de ela nunca ter deixado fazer o programa inteiro de massagens do curso que nós tirámos... Não pára quieta a bicha... – pernas para cima e para baixo, primeiro uma, depois a outra. Passamos à barriga. Movimentos circulares. O I L U (I Love U) – eu posso explicar depois a quem estiver interessado ou dar o contacto da massagista – e mais umas cócegas e umas festas e umas palermices que ela gosta. Chegamos então aos braços. Das axilas até às mãos, normalmente os dois ao mesmo tempo. Ela sempre gostou assim, sempre se riu muito. E estava a rir-se até ao momento em que fez uma cara muito assustada. Agarrou o braço direito com o esquerdo e começou a dizer: dói, dói. Então fez beiça e começou a chorar.
Pensei que tivesse sido um bocadinho mais bruto – e não ainda uma besta como mais tarde se veio a comprovar – que lhe tivesse aberto o pulso ou dado um jeitinho qualquer. Acabei de lhe pôr o creme mas a carita de desconforto não saía.
Fomos jantar, sempre a choramingar. A espaços, lá levantava um bocadinho o braço, mas não comeu por ela, foi a mãe que lhe deu. E para ela não comer, uma gajita que está sempre: “a Pim Pim com’i, a Pim Pim com’i chójinha”.
Depois de jantar, a rotina do costume. E lá foi dormir, sem stresses. Não acordou durante a noite e sempre que a fomos ver, estava na posições habituais: pés fora da cama, virada ao contrário, atravessada, enfim, the usual.
Sexta de manhã: “paiiiiiii“, “oh papáááááá”. Levantei-me e fui buscá-la. Estava bem disposta e com o seu habitual enorme sorriso. “Bom dia filha. Dormiste bem?” “xim” ainda com a chucha na boca.
Até que a agarrei pelos braços – como sempre faço para a ajudar a levantar e pegar-lhe ao colo. “Aiiiiii, dói”. Agarrou-se ao braço e dói dói dói.
Como mais vale perder uma hora ou 2 no hospital para o médico dizer que não tem nada do que a bichinha andar com dores não sei quanto tempo, lá fomos para as Novas Urgências Pediátricas do S. Fransico Xavier.
E vamos atalhar a história porque senão nem amanhã.
Chegámos ao hospital e ela foi vista por um médico que a mandou fazer um raio-x. Daí, fomos até à Ortopedia para que o médico especialista pudesse dizer de sua justiça. Em menos de 2 horas fizemos tudo. “Pim Pim à Ortopedia” pelo sistema de som e lá fomos nós.
“A radiografia diz que ela não tem nada. Mostra lá o braço”. Ela, muito diligentemente, lá foi anuindo e mostrando o braço e mais o que a médica – muito simpática – lhe pedia. “Provavelmente foi só um jeitinho”. Suspirei de alívio e pensei que afinal não tinha sido bruto nem nada. Um bocadinho só, vá. Mas só um bocadinho.
De saída, disse-lhe: “diz adeus à Sra. Dra. filha”. E ela lá levantou um bocadinho o braço e acenou. Acto contínuo, a médica chama-a. “Anda cá Pim Pim”. Ela foi. Uma mão no cotovelo, outra na mão. Para cima para baixo para cima para baixo e.... click.
“Pronto, já está. Tinha o cotovelo deslocado”.
- acho que se fez um vazio no mundo quando a médica disse isto, pelo menos na minha cabeça era o que parecia –
Eu sou uma besta que deslocou o cotovelo à sua pobre filha de 2 anos e meio e ela, tão educadinha, que disse adeus à Sra. Dra. mesmo em sofrimento. Não fosse ela dizer adeus e teríamos que voltar lá seguramente nesse mesmo dia ou no outro a seguir.
Agora quando lhe ponho creme parece que estou a tratar de um achado arqueológico com 2 milhões de anos que se pode desintegrar à mais pequena pressão. Mas que serei sempre uma besta, lá isso..
quinta-feira, agosto 17, 2006
Return on Investment
Agarrei pela primeira vez nesta caneta simples para dizer coisas minhas. Palavras de amor e de dor. Lágrimas de papel que se acumulam por vezes neste caixote que trago em cima dos ombros. Comecei a brincar, sem obrigações. Foi por prazer que agarrei pela primeira vez nesta ideia de ter ideias minhas e partilhá-las. E assim tem sido desde o início. O que nunca me passou pela cabeça foi o tanto de carinho e de palavras doces que isso me podia dar. É tão bom passar aqui e ler-vos.
Porque aqui não há favores, não há rituais, não há nada além de pessoas. Como um café onde se juntam amigos novos e antigos. E nunca todos. Mas sempre alguém que traz algo para nos dar.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
sexta-feira, agosto 11, 2006
Ainda não é desta
Vim para aqui hoje à noite e isto ainda não é nada do que eu queria escrever. Só que tenho a cabeça a mil, o trabalho todo que tem que ser feito e o outro que ainda se vai fazer. Deixei a pim-pim a dormir um soninho bom. Cantou o vitinho aí umas 5 ou 6 vezes. Para a avó – lá no céu – para a mãe – ainda não tínhamos acabado de lavar os dentes e já ela estava, com a escova na boca a trautear a melodia – para o mano na barriga da mãe para o pai e para... ela só queria cantar. Mas aterrou na cama e ficou. Deve cansar um bocadinho isto de ter 2 anos e meio e não parar um bocadinho.
Agora vou-me embora. Aninhar-me no corpo da mãe logo depois de uma festa e de um beijo na filha. E antes de dormir, encosto-me e ainda passo a mão pela barriga que já cresce e digo: “dorme bem filho; o pai ama-te muito”.
Agora vou-me embora. Aninhar-me no corpo da mãe logo depois de uma festa e de um beijo na filha. E antes de dormir, encosto-me e ainda passo a mão pela barriga que já cresce e digo: “dorme bem filho; o pai ama-te muito”.
quinta-feira, agosto 03, 2006
Telegrama
Tenho muito para escrever... stop
Fomos ver o bebé e é menino... stop
Tenho ideias que quero aqui deixar para nunca mais me esquecer... stop
Quando fazemos amor, o mundo inteiro parece parar... stop
Os carros deslizam pelas ruas... stop
São os meus olhos fechados ainda no prazer... stop
Um homem tocava música ali nas escadas e fez-me voar nas notas que saiam da guitarra... stop
Ontem foi um dia feliz... stop
E foi um dia feliz também porque me lembrei de alguns dias que passaram e percebi que já tive muitos dias felizes... stop
Vou tentar voltar ainda hoje... stop
Não se vão embora... stop
Fomos ver o bebé e é menino... stop
Tenho ideias que quero aqui deixar para nunca mais me esquecer... stop
Quando fazemos amor, o mundo inteiro parece parar... stop
Os carros deslizam pelas ruas... stop
São os meus olhos fechados ainda no prazer... stop
Um homem tocava música ali nas escadas e fez-me voar nas notas que saiam da guitarra... stop
Ontem foi um dia feliz... stop
E foi um dia feliz também porque me lembrei de alguns dias que passaram e percebi que já tive muitos dias felizes... stop
Vou tentar voltar ainda hoje... stop
Não se vão embora... stop
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
sexta-feira, julho 21, 2006
Lisboa. Ébom.
Estou de lua de mel. Apaixonado. Enamorado por isto tudo outra vez.
Estou numa Lisboa bonita, com vida, com cor, com dor e com muito amor espalhado pelas calçadas. Cada esquina respira vida, cada saída de metro. Cada homem e mulher. Cada criança que grita e canta rua afora. O sol parece ter outra cor, outro brilho. Parece tudo tão diferente. E pela primeira vez, foi preciso estar de fora para perceber como é tão bom estar cá dentro. Aninhado no Chiado e na Rua Garret. Na Rua do Carmo e na Nova do Almada. É tão bom perceber a vida à nossa volta sem ser por nós. Perceber o mundo todo num bocadinho de história e de chão. Olhar para o céu, ver a nuvens. E tudo sem uma janela. Mas respira-se melhor aqui.
Estou em Lisboa. Mesmo mesmo aqui no meio.
E sabe tão bem
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
quinta-feira, julho 20, 2006
Vamos por partes
Vamos por partes
1ª parte - O grito - maior que o de munch (que o meu ensurdece)
Ando oco, vazio, nervoso, choroso. Andei 5 meses para não chorar e agora choro por fim. Andei 5 meses a aguentar e agora basta um sorriso invisível e já está. Foi-se embora a dor maior de ver sofrer quem nada sente e ver partir quem ainda cá está. Já está. Agora foi.
2ª parte - Porque.
porque fui e vim e fui. E vim - que agora já cá estou. Fui com medo de ter que vir. E vim. Logo no dia a seguir.
Foi a pior viagem da minha vida. Com a pim-pim a chorar porque doía o ouvido de uma outite a vingar e ela ao meu lado, a chorar baixinho para a filha não ver mais do que as lágrimas que já tinha visto. 300 quilómetros de estrada à frente. 300 mil de dor moída; cá dentro. Foi um inferno.
Foi um inferno a viagem e a tarde de dizer adeus. Um rosto tapado. Uma noite de sono cansado. 5 meses a dormir com o telefone à cabeceira e nessa noite não.
5 meses a espaços de sono. E nessa noite não.
Foi um inferno a manhã seguinte.
E depois cheguei a casa e chorei tudo.
3ª parte - Isto vai em frente. Isto da vida, quero eu dizer.
Regressámos às férias. Numa paz que 5 dias antes não havia. Numa saudade imensa e numa mágoa instalada. Voltámos para as noites quentes a olhar o céu por cima do mundo. A procurar as estrelas e em particular aquela para quem a pim-pim manda "beijinho" todas as noites." É a avó, filha". E ela, com a cabecinha virada à noite manda beijinhos sem fim e diz na voz mais doce: "até manhã. do'mi bem"
4ª parte – A coisa. Esta coisa dos dias em que não estamos de férias.
Voltámos ao trabalho, à rotina. Ao trânsito das manhãs, ao Pedro Ribeiro e aos Caixilhos e Laminados. Voltámos a fazer a marginal - eu a pim-pim - a ver os barcos, as motas, os carros. Ela voltou à escola e gostou.
E muda tudo. Desde ontem, novo local, nova aventura. Nova equipa, novas pessoas, novos projectos. Nada é assim tão novo como isso. Conheço as pessoas, conheço os projectos, conheço a equipa. Os desafios nem tanto, mas às tantas é mesmo por isso que se chamam desafios.
Acho que a energia que tenho e a vontade de começar outra vez não disfarça o nervoso. É sempre novo. Mas vai ser bom. Até porque quando saímos há sempre uma palavra mais doce que nos deseja boa sorte, que nos diz quanto foi bom trabalhar em conjunto. É sempre bom ouvir isto. São festinhas no ego da gente.
E a gente gosta.
5ª parte - As palavras todas
Ainda tenho vontade de escrever como antes. Ainda me apetece agarrar no teclado minúsculo, olhar para o écran pequeno e debitar palavra atrás de palavra. Especialmente nestas noites em que tinha tantas guardadas aqui no bolso desta cabeça mal engomada.
Voltei aos medos e às paixões. Ao amor de sempre e à pim-pim de manhã à noite. Voltei aos amigos. Voltei para mim ao fim de algum, tempo.
E já tinha saudades minhas aqui agarrado à bic.
1ª parte - O grito - maior que o de munch (que o meu ensurdece)
Ando oco, vazio, nervoso, choroso. Andei 5 meses para não chorar e agora choro por fim. Andei 5 meses a aguentar e agora basta um sorriso invisível e já está. Foi-se embora a dor maior de ver sofrer quem nada sente e ver partir quem ainda cá está. Já está. Agora foi.
2ª parte - Porque.
porque fui e vim e fui. E vim - que agora já cá estou. Fui com medo de ter que vir. E vim. Logo no dia a seguir.
Foi a pior viagem da minha vida. Com a pim-pim a chorar porque doía o ouvido de uma outite a vingar e ela ao meu lado, a chorar baixinho para a filha não ver mais do que as lágrimas que já tinha visto. 300 quilómetros de estrada à frente. 300 mil de dor moída; cá dentro. Foi um inferno.
Foi um inferno a viagem e a tarde de dizer adeus. Um rosto tapado. Uma noite de sono cansado. 5 meses a dormir com o telefone à cabeceira e nessa noite não.
5 meses a espaços de sono. E nessa noite não.
Foi um inferno a manhã seguinte.
E depois cheguei a casa e chorei tudo.
3ª parte - Isto vai em frente. Isto da vida, quero eu dizer.
Regressámos às férias. Numa paz que 5 dias antes não havia. Numa saudade imensa e numa mágoa instalada. Voltámos para as noites quentes a olhar o céu por cima do mundo. A procurar as estrelas e em particular aquela para quem a pim-pim manda "beijinho" todas as noites." É a avó, filha". E ela, com a cabecinha virada à noite manda beijinhos sem fim e diz na voz mais doce: "até manhã. do'mi bem"
4ª parte – A coisa. Esta coisa dos dias em que não estamos de férias.
Voltámos ao trabalho, à rotina. Ao trânsito das manhãs, ao Pedro Ribeiro e aos Caixilhos e Laminados. Voltámos a fazer a marginal - eu a pim-pim - a ver os barcos, as motas, os carros. Ela voltou à escola e gostou.
E muda tudo. Desde ontem, novo local, nova aventura. Nova equipa, novas pessoas, novos projectos. Nada é assim tão novo como isso. Conheço as pessoas, conheço os projectos, conheço a equipa. Os desafios nem tanto, mas às tantas é mesmo por isso que se chamam desafios.
Acho que a energia que tenho e a vontade de começar outra vez não disfarça o nervoso. É sempre novo. Mas vai ser bom. Até porque quando saímos há sempre uma palavra mais doce que nos deseja boa sorte, que nos diz quanto foi bom trabalhar em conjunto. É sempre bom ouvir isto. São festinhas no ego da gente.
E a gente gosta.
5ª parte - As palavras todas
Ainda tenho vontade de escrever como antes. Ainda me apetece agarrar no teclado minúsculo, olhar para o écran pequeno e debitar palavra atrás de palavra. Especialmente nestas noites em que tinha tantas guardadas aqui no bolso desta cabeça mal engomada.
Voltei aos medos e às paixões. Ao amor de sempre e à pim-pim de manhã à noite. Voltei aos amigos. Voltei para mim ao fim de algum, tempo.
E já tinha saudades minhas aqui agarrado à bic.
sábado, junho 24, 2006
quinta-feira, junho 22, 2006
segunda-feira, junho 19, 2006
Vai ser bonito
No sábado fomos a um casamento . À saída, a pim pim quis ir dar um beijo à noiva e na resposta de "mu'tas f'i'ichidades" recebeu um "eras a mais bonita da festa". Sim, ficámos um bocadinho babados.
Por estes dias a pim pim parece ter crescido. Se calhar fomos nós, não sei. Sei que na quinta feira passada a D. disse que, da sala dela, ela era a mais avançada na fala e se destacava dos outros também pela rapidez de raciocínio. É verdade que a bichinha é esperta e apanha tudo. É verdade que já canta grande parte do hino da Comercial para o Mundial e quando canto "Trinidad..." ela acaba ''Tinhidá e tomaguuuu". É verdade que uma das músicas preferidas (para além dos Noddys, Leopoldinas e Patinhos) é a música do "pam pam" - Love Generation de Bob Sinclair. Também é verdade que não resiste a Jack Johnson ou Nina Simone. É também igualmente verdade que acompanha o pai no "Sei-te de cor" do Paulo Gonzo ou no "Secretamente" da Rita Guerra. É dada a música, pronto. Mas não é só.
Nestas últimas semanas começou com o que os psicólogos chamam na gíria clínica de "as saídas". E são umas atrás das outras. Numa destas noites, depois do jantar, quando lhe perguntei se sabia que horas eram, respondeu prontamente a apontar para o pulso: "num chabe. num tem riloijo". Ou ontem de manhã, quando viu a mãe vestir uma t-shirt minha e lhe disse: "num pode visti echa camichola. é do papá"
Pela amostra, cheira-me que vamos ter aqui algum trabalho. Ou como dizem os psicólogos: "vai ser fresca". Mas não é por falta de atenção ao que nos têm dito. Até aquela história do "fazia-lhe falta era um irmãozinho" nós levámos a sério. Lá para fevereiro de 2007 se verá a reacção da pim pim. Também no que diz respeito a essa matéria ela já opinou: se for menino chama-se "manooo" e se for uma mana chamar-se-á "maninha". Vai ser bonito vai.
Por estes dias a pim pim parece ter crescido. Se calhar fomos nós, não sei. Sei que na quinta feira passada a D. disse que, da sala dela, ela era a mais avançada na fala e se destacava dos outros também pela rapidez de raciocínio. É verdade que a bichinha é esperta e apanha tudo. É verdade que já canta grande parte do hino da Comercial para o Mundial e quando canto "Trinidad..." ela acaba ''Tinhidá e tomaguuuu". É verdade que uma das músicas preferidas (para além dos Noddys, Leopoldinas e Patinhos) é a música do "pam pam" - Love Generation de Bob Sinclair. Também é verdade que não resiste a Jack Johnson ou Nina Simone. É também igualmente verdade que acompanha o pai no "Sei-te de cor" do Paulo Gonzo ou no "Secretamente" da Rita Guerra. É dada a música, pronto. Mas não é só.
Nestas últimas semanas começou com o que os psicólogos chamam na gíria clínica de "as saídas". E são umas atrás das outras. Numa destas noites, depois do jantar, quando lhe perguntei se sabia que horas eram, respondeu prontamente a apontar para o pulso: "num chabe. num tem riloijo". Ou ontem de manhã, quando viu a mãe vestir uma t-shirt minha e lhe disse: "num pode visti echa camichola. é do papá"
Pela amostra, cheira-me que vamos ter aqui algum trabalho. Ou como dizem os psicólogos: "vai ser fresca". Mas não é por falta de atenção ao que nos têm dito. Até aquela história do "fazia-lhe falta era um irmãozinho" nós levámos a sério. Lá para fevereiro de 2007 se verá a reacção da pim pim. Também no que diz respeito a essa matéria ela já opinou: se for menino chama-se "manooo" e se for uma mana chamar-se-á "maninha". Vai ser bonito vai.
terça-feira, junho 06, 2006
Declaração (pública) de Amor
Liguei para combinar um café – na esperança de não levar a segunda “nega” da semana. Tive sorte.
Fui buscar-te a casa depois de jantar e arrancámos para a Baixa. Era uma noite de Verão e havia muitas pessoas a passear. Sentámo-nos numa esplanada da Av. da Liberdade e ali estivemos à conversa. Desta vez só os dois. Desta vez éramos só nós.
“Vamos dar uma volta?”
Levantámo-nos e descemos.
Na Praça do Rossio, um telescópio. Era giro aquilo de ver estrelas.
Tu eras mais.
Seguimos. Dá a mão. Tira a mão. Dá a mão. Tira a mão.
"Hoje ainda te vou roubar um beijo".
Eu não sabia bem o que queria a não ser que queria um beijo teu. Queria porque eras linda.
E és.
Já não me lembro do que é que falámos. Mas falámos. E rimos.
A meio caminho perguntei:
“Tens mesmo de ir para casa?”
“Tenho mas não quero.”Já ganhei.
Virei tão rápido quanto pude. Encostei e saímos. Parecíamos duas crianças e estava calor nessa noite.
Lembro-me de entrar no carro, olhar para ti e como em todos os beijos, juntar a minha boca à tua.
Foi o primeiro beijo.
Foi o melhor.
Foi o melhor dessa noite.
Foi a primeira vez e não há beijo como o primeiro.
Saíste-me ao caminho numa noite de Junho e essa noite ainda a tenho cada vez que vejo a lua.
De repente olho para trás e dou por mim a dizer que te amo.
De repente olho para trás e dou por mim a pensar que quero e preciso e desejo que fiques para sempre comigo.
De repente olho para trás e temos uma filha linda.
De repente passaram 12 anos desde essa noite e cada dia contigo é sempre o melhor dia da minha vida.
Amo-te.
segunda-feira, junho 05, 2006
No seguimento
Hoje de manhã na marginal.
"Olha o barco grande filha"
"Não é g'ande"
"É sim filha, olha lá"
"Não. O b'aco não é g'ande"
"Oh filha olha lá..."
"....."
"Então é o quê? É pequenino?"
"Não."
"'Tás a ver. É grande."
"Não. É Castanho."
"....."
quarta-feira, maio 31, 2006
A pim-pim na bicla
Com a jinga, comprei uma cadeira. Daquelas para colocar atrás e que dá para levar as crianças. Foi a melhor compra que fiz nos últimos tempos. Passeio marítimo para cá, passeio marítimo para lá, vimos os b’aquinhos, os si’ores, o carro g’ande e rimos muito os dois. Ah! O capachete. Que pinta. Como a bicilceta da mãe estava esta’gada, fomos só os dois e mãe andou a passear a pé. “vamos à procura da mãe pim-pim?” “chim. Mamãããã; onde tá’is? Anda...”
Ficou prometido regressar.
E é já este fim de semana. Os 3 e em grande. Dia 4 de Junho, Marginal sem Carros de Oeiras a Algés. Vai ser a loucura
A jinga
Descobri hoje que estou para as bicicletas como estava há 4 anos para as consolas de jogos. Eu explico. Quando comprei a PS2 foi vindo directamente do 48k. Do Spectrum. Do que tinha jogos com cassetes que demoravam horas a entrar com aquele barulhinho, então irritante, e hoje capaz de soltar um sorriso.
E hoje fui comprar uma bicicleta.
Se aparentemente nada tem a ver uma coisa com a outra, vão já perceber a relação.
O 48k era básico, tinha aí umas 8 cores, gráficos que hoje qualquer apresentação de power point meteria no bolso e era bruto. Tal como as biclas. Eram duras, pesadas, não tinham mudanças, não tinham nada. Era um quadro, um volante e 2 rodas. Com sorte, uns travões dignos desse nome. Ora a bicicleta que comprei hoje não é nada disso. É leve o suficiente para sem esforço ser colocada em cima do carro, tem 24 mudanças, um assento não sei quê, um volante não sei que mais, suspensão dianteira, travões do raio que a parta e mais umas mariquices lá pelo meio que protegem qualquer coisa. Bem sei que devo ter feito uma figurinha ao perguntar ao Sr. se aquilo vinha com livro de instruções, mas pela resposta: não se preocupe que está tudo no livrinho, percebi que não devo ser o único. E não fiquem os Srs. leitores com a ideia que gastei uma fortuna na jinga (se calhar os mais novos não sabem o que é isto e acham que eu devo ter para aí uns 190 anos). Não amiguinhos. Tenho 34. E voltando à jinga, foi pelo preço perfeitamente aceitável que a trouxe para casa. Disse o Sr que era uma excelente relação qualidade/preço.
Anda, e isso é o que interessa. Agora que tive que ir dar uma leitura ao livrinho, lá isso tive. Só por via de dúvidas, não fosse aquilo desmontar-se na primeira curva.
segunda-feira, maio 22, 2006
Qué dumi’
Acordou a mãe, acordei eu, tomámos banho. O biberão já estava quente, os estores abertos e os rádios do quarto e da casa de banho com “as manhãs da comercial” no ar.
Tudo dentro da normalidade de uma manhã de dia de semana. Tudo excepto a pim-pim? A pim-pim, de papo para o ar na sua caminha e de chucha na boca teimava em não se levantar.
- Queres beber o leite aqui ou na cama do pai?
- Num qué.
- Não queres o quê amor?
- Num qué bibê o lêti. Qué dumi’.
- Oh filha, mas o pai tem que ir trabalhar, tu tens que beber o leitinho para depois mudar a fralda e vestir e irmos para a escola.
- Num qué. Qué dumi’
- Oh filha, vá.
A muito custo lá se sentou e bebeu o leite.
E tudo mudou.
- A pim-pim qué b’incá. Pode? Pode?
- Podes sim filha.
- A mamã?
- A mamã foi trabalhar.
- Esc’itóio?
- Sim filha. A mamã foi para o escritório.
A caminho da escola, cantámos, rimos, vimos os barquinho e as motas “g’andes”.
É um doce a minha pim-pim. Um doce.
Mesmo quando custa mais um bocadinho a sair da cama.
quarta-feira, maio 17, 2006
A birra
Nunca o trajecto de elevador entre o 7º andar e a garagem no –3 foi tão longo. 12 longos minutos e uma birra de que não há memória. Arrastou-se pelo chão, esperneou, gritou, berrou, babou-se. E depois de a consegui sentar na cadeirinha – a muito custo – e de lhe ter limpo as lágrimas e assoado o ranho e tirado a baba e de lhe ter dado meia dúzia de beijos, acalmou-se. Passámos, portanto, de um histerismo-louco-furioso para uma acalmia-catatónica. Eu sei que são 2 anos, 1 mês, 1 semana e 1 dia. Eu sei que não tenho uma filha birrenta e que se porta lindamente e que come e dorme como um anjo – o dormir é que é como um anjo, que o comer é mais como o diabo. Come bem a bichinha.
Eu sei que é tempo de tudo isto acontecer.
Mas no fundo o que me irrita não é a birra, o tempo que não se tem de manhã para poder calmamente conversar e levar a coisa a bem. O que me irrita são os nervos com que ela fica. O soluçar, o olhar no vazio.
Vimos o mar – que a deve ter acalmado um bocadinho – e num semáforo, depois de várias “negas”, lá consegui faze-la rir. E riu muito.
Chegámos ao colégio e, como sempre, lá foi. Sem choros. Deu um beijo ao pai e foi brincar.
E o pai foi para a reunião para a qual estava a ver que não chegava a tempo. Mas cheguei. Quem não chegou foram os Srs. que vinham para a reunião. Ligaram a dizer que estavam “atrasados”. Atrasado estava eu que cheguei às 9 e 25 para um compromisso às 9 e meia. Eles – que são quase meia dia e ainda não apareceram – é que estão atrasados. Não fossem gajos importantes e iam ver a birra. Até já sei como é que se faz.
quarta-feira, maio 10, 2006
Este espaço foi ocupado - ainda nem há um minuto - por meia dúzia de palavras tristes. Metáforas saídas sem força para dizer apenas do quanto a admiro e do quanto admiro a sua coragem. Preferi apagar tudo e dizer coisas felizes.
Antes das palavras e destes minutos de pé aqui na cozinha, fui ver a pim-pim (como sempre faço várias vezes ante de me deitar). E como sempre, ali estava ela, serena - como só os bebés são serenos, tranquila e completamente virada do avesso - como a minha filha faz tão bem. Pu-la direita, tapei-a e perdi-me alguns minutos a observá-la. A sua respiração, a posição das mãos, os cabelos pela cara abaixo. Perdi-me naquela incomensurável beleza. Nestas alturas, assola-me um desejo - que obviamente reprimo - de a levantar e pegá-la ao colo. Sentir o seu corpinho pequenino encostado ao meu. Sentir o seu ajeitar no meu peito, a sua procura de ninho. Sentir o seu calor. Dar-lhe beijos sem fim e dar-lhe aquele abraço apertado como ela me faz antes de a deitar. Apertado que dói de tanto que a amo. Sorrio sempre quando me lembro que horas antes, numa qualquer brincadeira com a mãe ou comigo, soltava as suas pequeninas gargalhadas e repetia: out'a vech. "Outra vez" todos os dias filha. O pai e a mãe vão amar-te outra e outra vez todos os dias. Dorme bem pim-pim.
Elizabethtown - parte II
Apetece viver mais. Dar importância às pessoas. Ouvir cada palavra e perceber cada gesto. Tirar o melhor do melhor que alguém tem para nos dar. Apetece-me olhar para a minha filha e desejar ainda mais vê-la crescer. Apetece não deixar nenhuma viagem por fazer, nenhuma palavra por dizer. Apetece lembrar para sempre isto tudo e acima de tudo, apetece ter vontade de não esquecer nada disto.
Fosse a vida assim tão simples. E se calhar é.
Se alguém souber onde é que se arranja o mapa da Claire que apite.
Obrigado NG
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
sexta-feira, maio 05, 2006
500
Já tive 500 visitas cá em casa. Nem todas se sentaram para beber café, fumar um cigarro à varanda ou ver um filme. Poucos vieram e ficaram para jantar. Poucos apareceram de surpresa. A verdade é que já somam o grande número 500. Talvez não tenha dado a todos a devida atenção mas nem por isso gosto menos que venham. Continuem. E obrigado.
quarta-feira, maio 03, 2006
da varanda
da varanda vejo o mar. vejo a entrada da barra do tejo, os barcos que entram e saem e as histórias que levam e trazem.
da varanda vejo o sol e à noite a lua. cheia quando está, encoberta ou fora de alcance.
da varanda vejo o infindável céu. vejo aviões que dia adentro e noite afora rasgam as nuvens sempre que as há lá no alto.
da varanda vejo o combóio cujo grito metálico emudece os cães e os gatos e as pessoas.
da varanda vejo todo este mundo dia após dia.
não vale nada esta vista.prefiro mil vezes o reflexo do teu olhar numa onda pequenina ou o riso contagiante da pim-pim numa corrida.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
quarta-feira, abril 19, 2006
As coisas como elas são
Muitas vezes advoguei que a desculpa do “sou assim” como argumento último de não mudar era uma desculpa falaciosa. Era – e é – só uma desculpa para não fazermos um esforço para mudar, para inverter o sentido de algumas coisas e para “deixar estar”.
A verdade é que, se há muitas coisas que podemos – com mais ou menos esforço – mudar, há outras que pura e simplesmente não podem ser alteradas. Por muito que se queira, que se deseje. Por muita força que façamos, por muito pensamento positivo ou boas vibrações que queiramos provocar, há coisas que são como são. Como a finitude da vida. É imutável, inegável e não é há volta a dar. É assim porque é assim.
Se há coisas que são como são, esta é uma delas.
______________________
Ao fim de um tempo, por muito que não se queira, começa a impregnar-se o hábito. Entra no ritual de todos os dias vê-la assim. Frágil, magra, doente. Não que pareça que sempre foi assim – porque nunca o foi – mas não custa tanto como da primeira vez.
Ao mesmo tempo – apesar de toda a consciência – começamos lentamente a pensar se algo não terá mudado? Se não haverá volta a dar? Se o fim é mesmo agora ou um bocado mais tarde? Se por um acaso clínico-químico não terá despoletado uma reacção qualquer que faça inverter e/ou estabilizar as coisas?
As coisas como elas são nem sempre são como nós queríamos que fossem. Mas é assim que elas são. É assim.
quarta-feira, abril 12, 2006
ignorance is bliss
Já aqui diversas vezes se elogiou o banal. Curiosamente, foi sempre a propósito do mesmo tema: a pim-pim. Provavelmente é a inocência das crianças que nos leva ao mais puro dos olhares, mas não é só. São também as histórias menos felizes, as desilusões, os reveses da vida. E é disso, é sobre isso que me apetece falar. Não sobre as agruras, as desilusões ou os reveses, mas sim sobre o que isso nos pode ensinar. Melhor; sobre o que isso me pode ensinar.
Às vezes são as coisas mais pequenas as que mais nos obrigam a olhar para isto tudo com outros olhos.
São as mãos dela encostadas ao rosto quando dorme, os dedos pequenos dobrados numa paz tranquila e tranquilizante. E são as mãos da mãe. São iguais. É o doce cheiro da pim-pim a seguir ao banho - e esse é único. Faz-me pensar no quanto vale a pena esta rendição diária em prol de um carro, de uma casa com vista para o mar e de milhas e mais milhas no passaporte. e depois há sempre aquela ideia do Alentejo. Quente e despovoado. Puro. Feito de rugas e tempo e mais tempo. Há sempre a vontade de ir e deixar para trás isto tudo.
Gradualmente cresce em mim uma vontade de ter mais tempo para ver crescer a minha filha em detrimento da conta bancária.
Ver as flores, as nuvens. Olhar para o céu sem parecer um doido no meio de uma avenida a olhar para o ar. Não é só o ar. É o tempo todo do mundo numa nesga de sol.
Às vezes dá vontade de parar tudo e deixar o olhar percorrer para lá da janela o mundo todo sem ter que acabar de o ver à pressa para se mandar um e-mail e ligar ao cliente simpático que nos vai dizer banalidades que não queremos ouvir. Até porque nem temos tempo. às tantas o homem até tem algo de interessante para dizer. Mas eu não tenho tempo. Quero chegar a casa cedo para brincar um bocadinho com a princesa antes que a mãe nos mande ir tomar banho. Quero ter tempo para dois abraços grandes e apertados. Para dizer amo-te a uma e amo-te a outra. Em tempos diferentes. Cada uma a seu tempo, a seu ritmo próprio. Isto em vez de um amo-te muito - de fugida - com a mais pequena ao colo com ciúmes do beijo que dei à mãe.
Não consigo dormir mais de 6 horas por dia. Sinto sempre que há mais alguma coisa a pensar, a escrever, a programar, a ver. Há mais um pedaço de informação que pode fazer falta. Mais um cigarro para fumar à varanda. Mais dois barcos que se cruzam na barra do Tejo. Quem vai lá? Quantos são? São felizes? Vêm de onde? Para onde é que vão? Há sempre um turbilhão de ideias para pôr no papel, para escrever no [ai-dia], no bic cristal. Há sempre um milhão de páginas por abrir na Internet. Pessoas e mais pessoas que cruzam os olhos com os meus e outras tantas que nem sequer me viram passar. que história terão para contar? que histórias lhes vão na cabeça? Com o que é que sonham? Percebem o mundo como eu? Vendem-se como eu? O que é que querem?
Passo por ti na auto-estrada. És tu? Podias ser sabias? Nós não nos conhecemos. Não sabemos quem somos. Estes todos que aqui andamos. Vamos aqui deixando lágrimas e suspiros. Sorrisos e gritos surdos que acabamos por nunca dar. Qual é o preço disto tudo afinal? Desta falta de mimo latente, crescente; quanto custa isto tudo? Quanto nos custa? Há quanto tempo não olhas lá para fora e te deixas levar por uma estrela? Quantas vezes não te apeteceu já parar o carro na marginal para ver o sol pôr-se ao longe? Gozar só uma vez aquele bocadinho de magia? Não perder os olhos nos carros da frente e nos de trás. Quantas vezes te apetecia acordar cedo para beberes o dia todo? Sorver cada gota de sol? Abraçar cada pedaço de vento? Quantas?
Cada folha de árvore seca é uma vida que já foi forte e que acabou. Cada pedra que cabe na palma da tua mão já foi um bocadinho do mundo.
Há quanto tempo não vês as flores?
segunda-feira, abril 10, 2006
Doich
Sábado, 8 de abril. A pim-pim faz dois anos. Uma semana de telefonemas, reservas, cattering. Escolhe o menú de x euros. Escolhe o outro. Afinal não vale a pena que os putos não comem tanto como isso. Afinal comem. E animadores, há? Há. Pinturas faciais e escultura em balões. E o espaço? É giro? Tem uma piscina com bolas e escorrega e labirintos e bolas gigantes e tem sol. De manhã? De tarde? É melhor de manhã. É sempre melhor de manhã para dormir a sesta à tarde. E será que vai dormir com a excitação? Mas tentamos.
Faz-se o convite, manda-se por e-mail. Não recebeste? Oh pá, eu mando outra vez. Não recebeste outra vez? Então pronto, é sábado a partir das 10 e meia. Sabes onde é? Se te perderes liga.
E chega sábado. A pim-pim acorda. Eu e a mãe fazemos a festa. Ela ri-se. Quantos anos fazes filha? Doich. Boa amor. Parabéns. Lêti. A mãe vai aquecer o leite. Vá filha, papa. Vamos para a festa.
Mas ainda falta ir buscar o bolo e as velas e os sacos para as prendas dos putos. E mais? Não falta nada. A caminho toca o telefone. Já chegaste? Não, ‘tamos quase. Há quem chegue antes mesmo da aniversariante. Mas é uma festa de putos e o protocolo ficou - de comum acordo - na gaveta. Ninguém liga. Os putos chegam e chegam e chegam. O volume aumenta. Os balões voam pelo ar. As bolas da piscina também. É a loucura. Há saltos para a piscina de fazer arrepiar o mais desprendido dos pais. Razias monumentais. Os pães de leite chegam? E os croquetes? É melhor pedir mais. Mais uma prenda e mais uma prenda e mais outra e esta que gira. Munto gi’o.
A festa acabou. Estamos nós mais de restos do que ela. Ela, aliás, nem sequer dorme a sesta.
Quando se tem um sorriso destes permanente, vale mesmo a pena.
Fazemos outra amanhã? Chim. Tonta. Agora só para o ano filha.
sexta-feira, março 31, 2006
-
No fundo, esta é a grande injustiça desta doença: faz com que tenhamos saudades das pessoas antes de as perdermos. Faz com que recordemos tudo o que de bom guardamos antes da altura certa. Sentimos a falta que nos fazem quando ainda estão presentes. Precisamos delas quando ainda estão sem estar disponíveis. Precisamos mais do que nunca de as ver quando já não conseguimos encará-las de frente e conter as lágrimas.
E eu que nunca como agora preciso de chorar e não posso. Estou tão cansado. Dói-me o corpo todo de olhar para ti, ver-te desvanecer e não poder fazer nada para te agarrar. Nem eu nem ninguém.
Só que devia ser eu a poder dar-te a mão. Devia e tinha que o fazer, mas é impossível entrar em ti.
Quando percebi que existias e te comecei a conhecer, disse-te um dia que podias largar essa capa de durona inatingível que usavas, que eu iria estar sempre lá para ti. Disse-te que te protegeria, que tomaria as tuas dores. Disse-te e prometi a mim mesmo que o faria. E até hoje nunca faltei com a minha palavra. Nunca.
E hoje tu pediste-me para fazer alguma coisa que não a querias perder e a única coisa que eu te consegui dizer foi que o faria se pudesse. E não posso. A verdade é que não posso. E o facto de o não poder fazer também dói. Queria tanto dar-te um beijo como dou à filha e dizer: já passou. Mas não passa. Nem um milhão de beijos. Já não tens a inocência da nossa princesa e agora quando dói por dentro não há beijo que cure, não há beijo que sare. Eu sei que dói quando se ama e se vê alguém sofrer. Sei que dói e muito. Mas não sei o que é perder quem nos deu vida, quem nos deu colo. Não sei o que é perder quem nos tratou as feridas, mesmo aquelas que se tratavam só com um beijo.
E eu que nunca como agora preciso de chorar e não posso. Estou tão cansado. Dói-me o corpo todo de olhar para ti, ver-te desvanecer e não poder fazer nada para te agarrar. Nem eu nem ninguém.
Só que devia ser eu a poder dar-te a mão. Devia e tinha que o fazer, mas é impossível entrar em ti.
Quando percebi que existias e te comecei a conhecer, disse-te um dia que podias largar essa capa de durona inatingível que usavas, que eu iria estar sempre lá para ti. Disse-te que te protegeria, que tomaria as tuas dores. Disse-te e prometi a mim mesmo que o faria. E até hoje nunca faltei com a minha palavra. Nunca.
E hoje tu pediste-me para fazer alguma coisa que não a querias perder e a única coisa que eu te consegui dizer foi que o faria se pudesse. E não posso. A verdade é que não posso. E o facto de o não poder fazer também dói. Queria tanto dar-te um beijo como dou à filha e dizer: já passou. Mas não passa. Nem um milhão de beijos. Já não tens a inocência da nossa princesa e agora quando dói por dentro não há beijo que cure, não há beijo que sare. Eu sei que dói quando se ama e se vê alguém sofrer. Sei que dói e muito. Mas não sei o que é perder quem nos deu vida, quem nos deu colo. Não sei o que é perder quem nos tratou as feridas, mesmo aquelas que se tratavam só com um beijo.
quarta-feira, março 29, 2006
Posso / Não Posso
Já não vamos ou ao cinema tantas vezes como antes. Já não vamos jantar fora sempre que nos apetece. Já não tiramos 2 noites para ir, simplesmente. Já não posso abrir a janela do carro numa noite como a de hoje e ir até onde a música me levar. Já não posso aceitar os convites todos para todos os jantares. Já não posso pôr a música alto quando me apetece. Já não podemos passar uma semana fora sem horários. Já não podemos ir passear à noite para a praia até que nos apeteça.
Há muita coisa que não podemos fazer, mas podemos esperar que amanhã ela acorde com aquele sorriso lindo, o cabelo à frente dos olhos e diga: Olá. Bom dia filha. Vamos acordar a mamã?
Há muita coisa que não podemos fazer, mas podemos esperar que amanhã ela acorde com aquele sorriso lindo, o cabelo à frente dos olhos e diga: Olá. Bom dia filha. Vamos acordar a mamã?
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
sábado, março 25, 2006
por nada
és o meu D. quixote de saias que em vez de lutar contra moinhos de vento, tenta a cada minuto derrotar castelos de dor.
sexta-feira, março 17, 2006
Este meu dia
Chovia de manhã quando fui à janela. Saí do banho e ainda com o toalhão enrolado à cintura espreitei a varanda e ao longe, a ondulação forte fazia levantar os barcos ancorados. “que merda de dia” pensei. Voltei ao quarto para me vestir. Em cima da cama, a minha princesinha acabava o seu biberão de leite. Um sorrisinho maroto seguido de um “nã qué maich”. “Queres ir para o chão?” “Chim”. Até parece que é das beiras, mas não é. Tem é 2 anos para fazer no mês que vem e uma chucha colada à boca. Percebe-se o que quer dizer e isso é o mais importante.
Depois da fralda mudada e de vestida, arrancamos para o colégio. “Olhó o mar filha...” “baquinhos” diz ela. “São os barcos sim”. chegamos. Abracinho ao pai. Beijinho ao pai. Até alogo amor. “chau”.
Para um dia que prometia ser mau como o diabo, o sol brilha cá com uma força. Até queima de bom.
terça-feira, março 07, 2006
Próxima Estação: Estação Terminal
Fez o caminho que outros já tinham feito e era a esta altura, uma mulher feliz. Tinha 2 filhas lindas, já mulheres, e 3 netas de cortar a respiração. A mais velha – ainda sem ter 2 anos feitos – e as gémeas – com menos um ano – faziam as delícias da jovem avó. Tinham sido todas uma luz que se acendera dentro dela. A par das suas filhas e dos pais – ainda vivos – as princesas eram a sua luz e os “tão lindas” repetiam-se a cada visita, a cada gesto.
Era para elas que dirigia a sua atenção e eram elas – tão pequeninas – que a faziam levar um pesado barco para a frente. Mas ia.
Como tantas outras mulheres, tinha enfrentado um divórcio penoso e difícil e como tantas outras mulheres tinha conseguido sair do negro buraco da solidão.
Levava a vida por objectivos e apontava a direito rumo às metas. Uma viagem, uma cozinha nova, uma casa de fim de semana. Tudo metas que atingira com esforço e com trabalho mas onde orgulhosamente chegara.
A viagem fizera-se como qualquer viagem. Com altos e baixos, mudanças de estação, confortos e desconfortos, agrados e desagrados. Fizera a sua viagem com discussões, chatices, indisposições. Acima de tudo, fizera a viagem com a consciência de uma boa mãe e a devoção de uma boa filha. Norteara por aí o seu caminho e não falhara.
Feliz ao seu modo e timidamente sociável conhecera algumas carruagens para além da sua. Por curiosidade e desmedida vontade de aprender, agarra-se à pintura com carinho e ostentava com orgulho as suas obras. Perdia horas e reproduzir uma fotografia que achava “bonita”. E finda a tarefa, mostrava-a a toda a gente. “Já viste o meu quadro novo?” e entrava uma neta em cena: “tão linda”.
Eram estes os seus dias mais recentes. Por entre uma ida ao ginásio e as tarefas normais de uma jovem-avó-reformada-ama-das-netas, ainda arranjava tempo e paciência para um jantar com amigos, um passeio de fim de semana, uma ida ao Alentejo.
Por altura do natal, o tempo frio e uma súbita perda de apetite fê-la ir abaixo e temer uma nova operação.
Maldito bicho que teimava em formar-se no corpo com uma cadência estupidamente ritmada e que fazia soar os alarmes de ano a ano.
Mais uma vez, viu-se na injusta rotina de exames repetidos vezes sem conta e diagnósticos que já sabia na ponta da língua. “temos que operar”. Mas desta vez foi diferente. Não foi possível tirar o bicho fora. Não foi possível mudar de carruagem e seguir viagem.
Guinchou no desvio e magoou toda a gente à volta. Fez mossa.
Apagaram-se as luzes da esperança, da vontade, da vida.
A meio caminho da estação com correspondência com “Mais Tempo”, desviou-se o combóio para a Estação Terminal.
Apesar de tudo, a viagem tinha sido boa.
Boa Viagem. Vai com cuidado.
segunda-feira, fevereiro 27, 2006
Luz
A marginal de manhã tem sempre um brilho diferente. Tem luz tem mar. Tem o silêncio das ondas calmas que se vêm ao longe e os barcos que entram e saem da barra.
A marginal de manhã tem luz. E perdura todo o dia nos meus olhos.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
terça-feira, fevereiro 14, 2006
"hoje ainda te vou roubar um beijo"
É um prazer.
Uma vidinha a caminho de tudo que partiu do quase nada numa noite cheia de estrelas.
São só imagens – mas serão sempre as primeiras.
Tu e eu na baixa em frente à loja das noivas. Dá a mão, tira a mão, dá a mão, tira a mão.
Olha uma estrela, um planeta. "hoje ainda te vou roubar um beijo".
"tens mesmo de ir para casa?" "tenho mas não quero".
Já ganhei. Saiu-me a sorte de uma vida com mais vidas por acréscimo.
Saíste-me ao caminho numa noite de junho. E essa noite é uma imagem.
Amo-te.
quinta-feira, janeiro 19, 2006
Reunião às 10
Entrou afogueado no escritório. Estava atrasado, tinha um relatório para fazer antes da reunião das 11 e meia e outro para terminar que tinha começado em casa. E já eram 9 e um quarto. Afogueado ou não, atrasado ou mais que a tempo, a verdade é que sorriso da loura do departamento jurídico não lhe saía da cabeça. Raios parta – pensou. Concentra-te um bocadinho; larga as gajas e começa a fazer a merda dos relatórios antes que dês por ti e não tenhas nada feito. Assim foi. Fechou a porta, sentou-se e assumiu uma postura firme de quem é capaz de levar a empreitada até ao fim sem um bocejo. Enquanto o computador iniciava, foi tirar um café. Nem por acaso, a loura. Bom dia. Olá Maria. Café? – perguntou ela. Sim se faz favor. - silêncio incómodo – sai um café que ela lhe entrega. Não, fica com esse. Não deixa. Queres açúcar? Sim sim. Fazes-me companhia? Ahhhh – às tantas os relatórios podiam esperar mais um bocadinho; o que não podia esperar nem ser negado era este convite – claro. Sentaram-se. Muito trabalho? Algum. Tenho que acabar uns relatórios para uma reunião agora às 10. e tu? Uns pareceres e umas coisinhas. Sabes, estava aqui a pensar que já trabalhamos aqui há uns dois anos e tal e nunca fomos almoçar, nunca conversámos. – Olá... que conversa boa logo de manhã. Vá, convida-a para almoçar hoje e vai mas é acabar a porra dos relatórios. Pode ser hoje? – disse-lhe enquanto se levantava e bebia o último golo de café.
Olhos nos olhos ela disparou: hoje não me dá jeito que vou almoçar com o meu marido e vamos ao colégio dos miúdos, mas amanhã por mim ‘tá óptimo. Aproveitamos e falamos um bocadinho daquele cliente novo. Acho que me podes dar uma ajuda a perceber melhor o que é que se pretende. Só não largou um "f***-se" porque era chato e a despropósito. Mas apeteceu-lhe. Amanhã? ‘tá bem. Saiu cabisbaixo e foi fazer os relatórios. Não há nada como um duche de água fria para um gajo se concentrar.
terça-feira, janeiro 03, 2006
o que é que se diz?
Quando alguém nos faz sorrir – como tu – só de te ver, o que é que se diz?
Quando alguém nos faz sentir bem – como tu – só de estar a pé de ti, o que é que se diz?
Quando alguém nos faz ter vontade de agarrar os dias – como tu – só de saber que os vamos passar contigo, o que é que se diz?
Quando alguém nos faz querer viver para sempre – como tu – só de sentir o teu corpo quente, o que é que se diz?
Quando alguém nos faz sentir único no meio de uma multidão – como tu – só de cruzar os olhos com os teus, o que é que se diz?
Quando alguém nos faz escrever textos assim – como tu – só de me lembrar que existes, o que é que se diz?
Quando alguém nos faz sentir bem – como tu – só de estar a pé de ti, o que é que se diz?
Quando alguém nos faz ter vontade de agarrar os dias – como tu – só de saber que os vamos passar contigo, o que é que se diz?
Quando alguém nos faz querer viver para sempre – como tu – só de sentir o teu corpo quente, o que é que se diz?
Quando alguém nos faz sentir único no meio de uma multidão – como tu – só de cruzar os olhos com os teus, o que é que se diz?
Quando alguém nos faz escrever textos assim – como tu – só de me lembrar que existes, o que é que se diz?
Subscrever:
Mensagens (Atom)