quarta-feira, maio 31, 2006

A pim-pim na bicla



Com a jinga, comprei uma cadeira. Daquelas para colocar atrás e que dá para levar as crianças. Foi a melhor compra que fiz nos últimos tempos. Passeio marítimo para cá, passeio marítimo para lá, vimos os b’aquinhos, os si’ores, o carro g’ande e rimos muito os dois. Ah! O capachete. Que pinta. Como a bicilceta da mãe estava esta’gada, fomos só os dois e mãe andou a passear a pé. “vamos à procura da mãe pim-pim?” “chim. Mamãããã; onde tá’is? Anda...”
Ficou prometido regressar.
E é já este fim de semana. Os 3 e em grande. Dia 4 de Junho, Marginal sem Carros de Oeiras a Algés. Vai ser a loucura

A jinga



Descobri hoje que estou para as bicicletas como estava há 4 anos para as consolas de jogos. Eu explico. Quando comprei a PS2 foi vindo directamente do 48k. Do Spectrum. Do que tinha jogos com cassetes que demoravam horas a entrar com aquele barulhinho, então irritante, e hoje capaz de soltar um sorriso.

E hoje fui comprar uma bicicleta.

Se aparentemente nada tem a ver uma coisa com a outra, vão já perceber a relação.
O 48k era básico, tinha aí umas 8 cores, gráficos que hoje qualquer apresentação de power point meteria no bolso e era bruto. Tal como as biclas. Eram duras, pesadas, não tinham mudanças, não tinham nada. Era um quadro, um volante e 2 rodas. Com sorte, uns travões dignos desse nome. Ora a bicicleta que comprei hoje não é nada disso. É leve o suficiente para sem esforço ser colocada em cima do carro, tem 24 mudanças, um assento não sei quê, um volante não sei que mais, suspensão dianteira, travões do raio que a parta e mais umas mariquices lá pelo meio que protegem qualquer coisa. Bem sei que devo ter feito uma figurinha ao perguntar ao Sr. se aquilo vinha com livro de instruções, mas pela resposta: não se preocupe que está tudo no livrinho, percebi que não devo ser o único. E não fiquem os Srs. leitores com a ideia que gastei uma fortuna na jinga (se calhar os mais novos não sabem o que é isto e acham que eu devo ter para aí uns 190 anos). Não amiguinhos. Tenho 34. E voltando à jinga, foi pelo preço perfeitamente aceitável que a trouxe para casa. Disse o Sr que era uma excelente relação qualidade/preço.
Anda, e isso é o que interessa. Agora que tive que ir dar uma leitura ao livrinho, lá isso tive. Só por via de dúvidas, não fosse aquilo desmontar-se na primeira curva.

segunda-feira, maio 22, 2006

Qué dumi’


Acordou a mãe, acordei eu, tomámos banho. O biberão já estava quente, os estores abertos e os rádios do quarto e da casa de banho com “as manhãs da comercial” no ar.
Tudo dentro da normalidade de uma manhã de dia de semana. Tudo excepto a pim-pim? A pim-pim, de papo para o ar na sua caminha e de chucha na boca teimava em não se levantar.
- Queres beber o leite aqui ou na cama do pai?
- Num qué.
- Não queres o quê amor?
- Num qué bibê o lêti. Qué dumi’.
- Oh filha, mas o pai tem que ir trabalhar, tu tens que beber o leitinho para depois mudar a fralda e vestir e irmos para a escola.
- Num qué. Qué dumi’
- Oh filha, vá.
A muito custo lá se sentou e bebeu o leite.
E tudo mudou.
- A pim-pim qué b’incá. Pode? Pode?
- Podes sim filha.
- A mamã?
- A mamã foi trabalhar.
- Esc’itóio?
- Sim filha. A mamã foi para o escritório.
A caminho da escola, cantámos, rimos, vimos os barquinho e as motas “g’andes”.

É um doce a minha pim-pim. Um doce.
Mesmo quando custa mais um bocadinho a sair da cama.

quarta-feira, maio 17, 2006

A birra


Nunca o trajecto de elevador entre o 7º andar e a garagem no –3 foi tão longo. 12 longos minutos e uma birra de que não há memória. Arrastou-se pelo chão, esperneou, gritou, berrou, babou-se. E depois de a consegui sentar na cadeirinha – a muito custo – e de lhe ter limpo as lágrimas e assoado o ranho e tirado a baba e de lhe ter dado meia dúzia de beijos, acalmou-se. Passámos, portanto, de um histerismo-louco-furioso para uma acalmia-catatónica. Eu sei que são 2 anos, 1 mês, 1 semana e 1 dia. Eu sei que não tenho uma filha birrenta e que se porta lindamente e que come e dorme como um anjo – o dormir é que é como um anjo, que o comer é mais como o diabo. Come bem a bichinha.
Eu sei que é tempo de tudo isto acontecer.
Mas no fundo o que me irrita não é a birra, o tempo que não se tem de manhã para poder calmamente conversar e levar a coisa a bem. O que me irrita são os nervos com que ela fica. O soluçar, o olhar no vazio.
Vimos o mar – que a deve ter acalmado um bocadinho – e num semáforo, depois de várias “negas”, lá consegui faze-la rir. E riu muito.
Chegámos ao colégio e, como sempre, lá foi. Sem choros. Deu um beijo ao pai e foi brincar.

E o pai foi para a reunião para a qual estava a ver que não chegava a tempo. Mas cheguei. Quem não chegou foram os Srs. que vinham para a reunião. Ligaram a dizer que estavam “atrasados”. Atrasado estava eu que cheguei às 9 e 25 para um compromisso às 9 e meia. Eles – que são quase meia dia e ainda não apareceram – é que estão atrasados. Não fossem gajos importantes e iam ver a birra. Até já sei como é que se faz.

quarta-feira, maio 10, 2006


Este espaço foi ocupado - ainda nem há um minuto - por meia dúzia de palavras tristes. Metáforas saídas sem força para dizer apenas do quanto a admiro e do quanto admiro a sua coragem. Preferi apagar tudo e dizer coisas felizes.
Antes das palavras e destes minutos de pé aqui na cozinha, fui ver a pim-pim (como sempre faço várias vezes ante de me deitar). E como sempre, ali estava ela, serena - como só os bebés são serenos, tranquila e completamente virada do avesso - como a minha filha faz tão bem. Pu-la direita, tapei-a e perdi-me alguns minutos a observá-la. A sua respiração, a posição das mãos, os cabelos pela cara abaixo. Perdi-me naquela incomensurável beleza. Nestas alturas, assola-me um desejo - que obviamente reprimo - de a levantar e pegá-la ao colo. Sentir o seu corpinho pequenino encostado ao meu. Sentir o seu ajeitar no meu peito, a sua procura de ninho. Sentir o seu calor. Dar-lhe beijos sem fim e dar-lhe aquele abraço apertado como ela me faz antes de a deitar. Apertado que dói de tanto que a amo. Sorrio sempre quando me lembro que horas antes, numa qualquer brincadeira com a mãe ou comigo, soltava as suas pequeninas gargalhadas e repetia: out'a vech. "Outra vez" todos os dias filha. O pai e a mãe vão amar-te outra e outra vez todos os dias. Dorme bem pim-pim.

Elizabethtown - parte II


Apetece viver mais. Dar importância às pessoas. Ouvir cada palavra e perceber cada gesto. Tirar o melhor do melhor que alguém tem para nos dar. Apetece-me olhar para a minha filha e desejar ainda mais vê-la crescer. Apetece não deixar nenhuma viagem por fazer, nenhuma palavra por dizer. Apetece lembrar para sempre isto tudo e acima de tudo, apetece ter vontade de não esquecer nada disto.
Fosse a vida assim tão simples. E se calhar é.

Se alguém souber onde é que se arranja o mapa da Claire que apite.
Obrigado NG

sexta-feira, maio 05, 2006

500

Já tive 500 visitas cá em casa. Nem todas se sentaram para beber café, fumar um cigarro à varanda ou ver um filme. Poucos vieram e ficaram para jantar. Poucos apareceram de surpresa. A verdade é que já somam o grande número 500. Talvez não tenha dado a todos a devida atenção mas nem por isso gosto menos que venham. Continuem. E obrigado.

quarta-feira, maio 03, 2006

da varanda


da varanda vejo o mar. vejo a entrada da barra do tejo, os barcos que entram e saem e as histórias que levam e trazem.
da varanda vejo o sol e à noite a lua. cheia quando está, encoberta ou fora de alcance.
da varanda vejo o infindável céu. vejo aviões que dia adentro e noite afora rasgam as nuvens sempre que as há lá no alto.
da varanda vejo o combóio cujo grito metálico emudece os cães e os gatos e as pessoas.
da varanda vejo todo este mundo dia após dia.

não vale nada esta vista.prefiro mil vezes o reflexo do teu olhar numa onda pequenina ou o riso contagiante da pim-pim numa corrida.