segunda-feira, maio 31, 2010

Diz que disse 32

Sábado foi dia de Festa de Final de Ano do colégio.
Ele, uma flor que diria carnívora a julgar pela posição meio "dread" em que colocava as mãos quando dançava.
Ela, uma borboleta que dançou como se não houvesse amanhã. E por ter dançado bem e ter sido uma borboleta linda - e porque há pais simpáticos no colégios dos meus filhos - no fim da festa, foram vários os elogios: "estavas tão linda Pim"; "dançaste tão bem"; "que linda borboleta". Meio envergonhada lá ia agradecendo os elogios.
Já à saída, cruzamo-nos com mais um pai: "Oh Pim, tu dançaste muito bem, cheia de ritmo. Eras uma linda borboleta."
O "obrigada" da praxe, sorriso de circunstância e um desabafo: "isto agora vai ser sempre assim?".
Acho que a minha estrela não lida bem com os admiradores.

sábado, maio 22, 2010

Deep blue state of mind



À direita, escarpas que desenham inclinadas as paredes deste mundo. À esquerda, o horizonte. E por baixo de mim, um estado de alma de um profundo azul para onde mergulho.
Não é a pressão das 2 atmosferas que me esmaga. É o silêncio.
Não é a vida marinha que me surpreende. É poder tocar ao de leve numa anémona e vê-la fechar-se.
Não é o fato que me aquece. É o sol que desce para lá da tona de água.
Estou numa narcose consciente, numa dormência sensorial que me torna uno com a água, na água.
É uma experiência de vida. O som, a luz.
Mas hoje, a primeira vez. Descer ao que parece ser o fundo e perceber que ali ao lado ainda se pode descer mais e mais. Descer mais um pouco.
Ajoelhar-me nas rochas cobertas de algas, tocar nos peixes que me rodeiam e respirar. Respirar fundo, com calma. Mover-me devagar. Subir, equalizar e voltar a descer. Equalizar outra vez para os ouvidos deixarem de estalar.
E o sol que muito lá em cima – muito mais que o normal – ilumina o fundo do mar.
Perdi-me atrás de um peixe sem sair do sítio. Perdi-me no tempo que estive lá em baixo e foi muito menos do que queria ter estado. Amanhã há mais e ainda mais profundo.
E eu, num estado de alma de um profundo azul que me esmaga, me surpreende e me aquece.

domingo, maio 16, 2010

a minha TEDx perience




Fui ontem assistir ao TEDx que, para quem não sabe, não é mais que uma versão local das TED Conferences. (para saber mais, aqui e aqui)
E de facto foi uma experiência. Quem costuma assistir às TED talks ou às conferências – ao vivo ou na net – saiu decerto com um sentimento de….. poucochinho.
E com isto não estou a dizer que foi mau. Não foi. Mas podia ter sido tão melhor.
Quem esteve ontem no Auditório pôde ver coisas interessantes e outras nem por isso.
Mas vamos por partes.
O tema da TEDx Lisboa era “Um dia com mentes abertas” e dividia-se depois em 4 sub-temas: “à descoberta”, “à acção”, “à mudança” e “à sabedoria”.
Em cada bloco, 6 oradores e uma performance musical (excepto no da sabedoria – estaremos com uma crise de sábios?).
Para mim, o TED é aquele ponto de encontro de ideias e não é por acaso que assina com “ideas worth spreading”. É o local – virtual para quem não pode lá ir – onde há descoberta. Um repositório de pessoas diferentes que tanto podem discorrer sobre como mudar o mundo através dos jogos on-line como ver John Hodgman (o PC das campanhas Apple) numa cómica intervenção sobre como não estamos sozinhos no universo e como foi em Portugal que ele percebeu isso numas férias no Algarve.
No TED há de tudo mas na maior parte das vezes, há ideias. E ontem foi isso que falhou nalgumas intervenções.
O modelo é simples. No tempo do lusco-fusco, pouco mais, um orador e uma ideia que vale a pena espalhar.
E no TEDx Lisboa houve ideias mas também houve ausência das mesmas. Houve ideias sobre tecnologia, monitorização e tratamento de informação em tempo real. Houve ideias sobre como podemos politicamente ser mais interventivos. Houve partilha de intenções. De integrar o conceito das bibliotecas itinerantes num registo “prosumer” (PROducers and conSUMERs of information) onde se partilham a literatura existente com o registo das nossas histórias (storytelling… é procurar no YouTube). Houve divulgação de projectos interessantes (com ideias subjacentes, alguns, e outros nem por isso) como um edifício na Ilha do Fogo em Cabo Verde ou a possível presença portuguesa na Antárctida. Houve momentos altos como a de um ex-autarca que explicou como se faz bem e que teve uma ovação de pé. Houve explicações sobre genética, sobre o ensino, sobre tendências e sobre design.
Houve António Barreto e toda a sabedoria dos números, da estatística e de como trabalhar em cima deles e houve lições de vida, como a que nos falou do Dhaka Project. Esmagador. Mais uma ovação de pé para um trabalho notável de uma miúda de 32 anos.
Houve música, como já disse, com projectos bem interessantes. Não conhecia nenhum e gostei de todos. Especialmente de Noiserv. Mas também de Natália Juskiewicz, de Rodrigo Viterbo e de Nome Comum.
E houve humor com Simão Rubim que é sempre bom, mordaz e assertivo e um fecho à laia de resumo do dia com João Cunha (segundo ele, membro da maior família de sucesso em Portugal, os “Cunhas”). Muito bom.
Pelo meio, uma data de actos falhados. Sem ideia, sem conteúdo, sem sentido. E isso terá eventualmente manchado o colectivo. Eventualmente.
E as ideias?
Houve algumas de facto, mas não o fartote que estava à espera. Queria ter saído de lá de cabeça cheia. Com novos pontos de vista. Com novas formas de abordar as questões. E disso houve pouco.
Mas a verdade é que gostei. Foi um cheirinho a TED que soube a pouco mas ainda assim, um cheirinho a TED.
Quanto à organização: imaculada. Os horários, o respeito pelas entradas e saídas, os mimos (como o almoço e os coffe-breaks) e a atenção de cada um da organização foram impressionantes e podia ver-se em cada um, o empenho e a vontade de ver tudo a correr bem.
Dizia-me um amigo – cáustico por natureza – que por €20 não se podia pedir mais. De facto. Não meço as coisas assim mas numa relação preço/qualidade ficou claramente muito em conta.
Para a próxima será melhor. E se puder, serei novamente um TEDxter.

terça-feira, maio 04, 2010

Ponto de Fuga




Quanto mais de mim poderei eu dar? Quão mais honesto saberei eu ser? Noite escura e não sei responder.
Quanto do tempo vou perder por não ter Espaço e quanto mais por querer saber?
O que é que faço?
Deito a cabeça por cima do braço. Colo-me a ti e somos um só de cansaço.
Emudeço. Ensurdeço. Anoitece depressa e sou eu quem escureço.
Vi há bocadinho um homem que tocava guitarra. Tirava sons deliciosos de 6 cordas. Imagino com 20, 30, 100. Imagino todo o som que aquela guitarra tem.
Imagino o que seria aquele génio à solta numa rua de Lisboa. O que seria o som que se ouve se estivesse numa praia. Sentado, a conversar. O mundo todo parado excepto o mar.
E eu e tu à conversa. Com o sol a bater, o quente a subir; numa mão um copo e na outra o desejo. Não é preciso dizer que eu vejo. Eu sinto. Vejo nos teus olhos o que queres que eu também quero e como tu, não minto.
Eu também o sinto.
E sento-me direito outra vez. Apago as luzes do mundo e escondo-me um segundo. Um minuto. Uma hora. Escondo-me de tudo o que me demora.
De tudo o que me afasta. Se me deixo ir, vou.
E é a tua mão que me arrasta.
Todos os dias, todas as noites. Não me dou descanso. Encosto-me às palavras e balanço.
E sem sair do lugar, embalado pelas noites, vemos a mesma lua e o mesmo mar.