sábado, dezembro 29, 2012

Quente e Frio


Hoje está frio. Daquele frio que se viesse com o vento me cortava ao meio. Daquele frio em que os miúdos na rua expiram o ar quente a fingir que fumam e são crescidos. Está aquele frio que nos sobe pelo ossos, trespassa a roupa e nos deixa gelados.
Hoje está frio assim mas voltar a ver os meus filhos depois de 3 dias longe deles aquece-me a alma e esqueço o frio. Esqueço tudo e derreto-me a ouvi-los.

terça-feira, novembro 27, 2012

Diz que disse 48


- Pai, posso jogar no teu "tu"?
- Qual "tu" Digos?
- No teu "tufone"
:-)

Diz que disse 47



Entrou na sala e deitou um olho à televisão enquanto me perguntava qualquer coisa. 
Nem 2 minutos depois, vira-se para a mãe e dispara: o Stephen é canibal? - Stephen era um dos personagens do filme que passava na televisão.
- Canibal? perguntou a mãe.
- Sim. o outro senhor estava a dizer: eu sei que o Stephen andava a comer a Jenny.

O riso foi tanto que só conseguimos dizer-lhe que não, o Stephen era tudo menos canibal.

sexta-feira, novembro 16, 2012

Olha para mim



Pungente, doente, sedento, diferente, sadio, vadio, sem saber como ir; vingou o prazer de uma morte obscura, vence o selvagem nesta luta que dura.

Da candura da pose, do estar sem se ver, da firmeza do estado ao gemer sem querer.

Dos dias sofridos, dos sonhos caídos, da tristeza que pesa ao destino que leva; de uma mão que acompanha outra mão que se amanha e penteia o cabelo num desgrenho total, sai assim, indiferente, num andar meio doente, num parco equilíbrio amparado por mim.

Caminhamos os dois; mão aqui, mão ali.
Vens agarrado, amparado; e eu com o cuidado que me trouxe encostado estes anos a ti.
Vale o que te ris e não paras. Vale essa força com que te agarras e não largas. Essa força que não é tua. São os teus músculos que se fecham, não és tu.
Não te consigo tirar disso. Ninguém te consegue tirar isso de cima. Olhas de lado mas de cima para baixo sou eu que te procuro.
Olha para mim a olhar para ti. 

quinta-feira, setembro 13, 2012

Aos políticos da minha terra

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Ser pai é uma experiência altamente complexa. De todas – e vivi algumas – é sem margem para dúvidas aquela que nos põe  em perspectiva tudo.
Não só o que com eles se relaciona mas tudo. Todos os pequenos gestos, todas as palavras, todos as acções.
Não sinto que me tenha anulado enquanto indivíduo e que seja apenas pai. Não sou. Sou homem, cidadão, marido, colega e tudo o que mais cabe em mim enquanto ser pensante e enquanto pessoa integrado numa miríade de conjuntos com outras pessoas.
Mas ser pai obrigou-me definitivamente a olhar para mais longe. A pensar mais além, a antecipar, a prever.
Ser pai obrigou-me a medir as mudanças levando em linha de conta as suas vidas – e não apenas a minha.
E é por ser pai que no próximo sábado me vou manifestar.
Não é por mim; é por eles.
Porque eu trabalho há mais de 20 anos e desconto há mais de 20 anos.
Porque consegui (com sorte e audácia e coragem e felicidade e sei lá que mais) trabalhar em áreas e projectos que me fizeram feliz e me pagaram as contas e me permitiram ter uma vida sem ter de olhar constantemente para a coluna da direita no menu do restaurante.
Porque quando sai de casa do meu pai para ir viver com a pessoa que amava (e que amo), fizemo-lo com as contas aos salários e foi com a mesma folha de papel, rabiscando e alterando valores, que mudámos de casa, comprámos carros, fomos de férias, fizemos viagens, tivemos 2 filhos.
Porque nós temos idade para sobreviver seja de que forma for e por isso, não é por mim, não é por nós que me insurjo. É por eles.
Porque fui enganado e roubado. Porque me obrigaram a refazer as contas sem que me tenha enganado a fazê-las.
Porque me obrigaram a olhar ainda mais à frente e a perceber uma tremenda incógnita.
Não é por mim que me manifesto nem   ter que pagar.para governarretroactoivamente a pensar em 2020 e nas facturas que outros vam garantir o meu futuro e deveriam dé por mim que escrevo. É por eles. Porque o meu trabalho e os meus descontos de mais de 20 anos mais os anos que ainda vou trabalhar deveriam garantir o meu futuro e deveriam deixar que os meus filhos escrevessem o deles.
Não deveria ser uma corja de interesses instalados a hipotecar os seus sonhos.. Com que direito?
Foram eleitos para governar hoje. Não foram eleitos para governar a pensar que em 2020 alguém pagará as facturas.
Foram eleitos para resolver hoje os problemas de hoje. Com medidas à medida de hoje. Com equidade e com respeito. Com um olhar crítico sobre a sociedade. Com a capacidade de auto crítica que nunca tiveram.
Não são capazes.
Não me interessa quem provocou o problema. (para o caso, quem governa hoje foi quem governou no passado intercalando com o maior partido da oposição entre arranjinhos e jantaradas).
Vão à merda e tenham vergonha.
Há pessoas desesperadas. Há quem comece a ter fome. Vê-se nas ruas.
As pessoas têm medo e quando as pessoas têm medo, fazem o que não fariam em situações normais.
Façam a vossa parte. Tomem medidas que façam a diferença. Ponham os olhos noutros países.

Não peçam às pessoas coragem e paciência. Tenham vocês a coragem de dizer “basta” às corporações e aos interesses instalados. Tenham a coragem de  condenar meia dúzia de gente suja. Tenham a coragem de dar o exemplo. Cortem nos carros, nas despesas de representação. Não resolve nada? Pois não, mas dão o exemplo. Mostram que estão com as pessoas e não contra as pessoas.
A continuar tudo como está, terão cada vez mais pessoas contra vocês.

Não é por mim que sinto a revolta, é por eles.
Porque eles vão crescer num país que não os quer, que os manda embora, que lhes dá sinais que não querer que a justiça funcione, que os tribunais julguem de forma independente. A continuar tudo como está – e não há sinais de mudança – vão crescer num país só para alguns.
A continuar tudo como está, correm até o risco de crescer noutro país. Por isso sábado, quando sair de casa e eles me perguntarem onde é que vou, eu vou responder-lhes que vou dar 2 gritos de revolta e tentar fazer alguma coisa. Não é por mim; é por eles.

quinta-feira, agosto 02, 2012

O que me faz falta


Já me faziam falta estas noites aqui. Dos grilos ao longe – tão perto – da lua inteira – enorme – e das estrelas todas – tantas.
Fazia-me falta apagar a mesquinhez que preenche os dias na cidade. Fazia-me falta escrever neste frio de Agosto.
Acordar para o sol com o sol ao meu lado. Acordar para os dias sem ter os dias contados. Fazia-me falta sentir a areia nos pés.
Fazia-me falta ser pai de manhã à noite. Lavar a fruta que vamos comer na praia. Levar as pranchas, as pás, a bola e o mundo inteiro numa mochila e meia.
Fotografar cada rosto molhado enrolado numa toalha ao sol. As pestanas encharcadas, o sal no corpo, os pés nus, quarenta mergulhos e duas voltas de bicicleta.
Fazia-me falta o azul do céu, o verde do mar e as cores todas dos sorrisos mais perfeitos. Faziam-me falta os risos. Os abraços e os braços enrolados a mim.
Fazia-me falta e agora só me faz bem.

terça-feira, junho 12, 2012

Os pássaros da minha rua não sabem o que é a crise

Na minha rua há 2 pássaros pretos que esvoaçam por entre os arbustos sempre que os vejo. Não sei se é o seu modo de ser ou se é o que fazem por fazer. A verdade é que seja manhã cedo ou noite funda, lá estão eles. Chilreiam por tudo e por nada e às vezes, quando me apetece ouvi-los, calam-se, como se brincassem comigo.
E seja da forma que forem os dias, lá estão eles atrás um do outro sem saber que para mim, estes têm sido meses turbulentos – e truculentos.
Chuva intensa que me apanha na curva dos dias e que não previ. Às vezes tempestades e granizo. Mas, por convicção ou pura ingenuidade, lá mais à frente vejo sempre um arco-íris, um raio de sol por entre as nuvens. Um acreditar sem saber muito bem em quê.
Ainda assim, a crise dos mercados, o desemprego, o banco central europeu e uma data de instituições que governam agora o meu país, fazem-me vergar a cabeça com as preocupações que carrego.
São as bolsas oscilantes, os mercados emergentes, os ratings inconsequentes e acima de tudo, as saídas que parecem inexistentes. Tudo levo e trago comigo um dia inteiro entre os intervalos da cama. Tudo é preocupação, inquietação, indignação.
O esgrimir de argumentos surdos entre governo e oposição, o desembainhar de razões em programas de televisão, o assombro do desplante de uns tantos e a aparente tranquilidade de uns quantos; tudo numa manhã e 2 noticiários ouvidos à pressa.
É uma sombra que só se quebra com os amigos, com a mulher de sempre e com os miúdos. Esses sim. Esses são só luz. Brilham até a dormir.
Levam-me para os seus mundos inventados de jogos de bola improvisados. De golos marcados de livre directo de uma ponta à outra de um quarto. De casas de bonecas e castelos, de dragões, vilões e “aqui temos o desenho de um tigre muito feroz e aqui temos o barco de um pirata e este és tu e esta é a mãe, esta aqui é a mana e este sou eu pendurado no barco. E aqui é um tubarão... vês os dentes?”.
Já ouviram falar do estado em que se encontra a economia e da crise mas essa conversa séria de gente crescida “que vocês já têm idade para entender” não passa disso mesmo, de uma conversa; é mais um tema que, como dizia ela hoje ao jantar: “é giro; nós começamos a falar de uma coisa e acabamos sempre a falar de outra e pelo meio falamos de montes de coisas diferentes”.
Pois é. E este é apenas mais um tema entre um barco pirata que voa carregado de monstros por entre as princesas e dois cromos da liga dos campeões que já acabou.
Não há maneira de os fazer parar de sonhar. Nem eu queria. Fazer aterrar duas cabeças brilhantes que voam sem espaço aéreo definido seria como fazer calar os pássaros da minha rua e para eles, também não há crise. Só o voar entre os arbustos, seja manhã cedo ou noite funda.

quinta-feira, abril 19, 2012

Diz que disse 46

- Pai, afinal decidi que já não vou ser árbitro de futebol
- ah sim filho? Então?
- Agora decidi que vou ser ninja. Vou ter que estudar muito e aprender a dar saltos muito altos.
- Pois é filho. Estuda.

E é isto o futuro.

domingo, abril 08, 2012

8 anos num instante

Há 8 anos passámos de 2 a 3. Foi o principio desta Familia onde agora somos 4. Foste o inicio. De tudo o que é bom e é medo e é feliz. Foste o sol na noite. Foste o primeiro dos meus melhores projectos. Foste o mais sucedido esboço tornado vida. Foste mais do que esperava e muito mais do que parecia. Foste o brilho dos dias, o mar no verão, o vento na cara. Foste a adrenalina maior, o maior vício. Reinventei-me em cavalo, príncipe e castelo. Fui avião, fui barco. Sou o mais forte, o mais corajoso, o mais bonito, o melhor pai do mundo. Sou porto de abrigo contigo. Sou tudo o que quiseres que eu seja porque sou feliz quando me pedes. Sou a voz que se zanga e a voz que te elogia. Sou a mão da palmada e a mão de mão dada. Sou o que te faz chorar e o que chora por ti. Sou o que dança contigo a meio do jantar. O que te pega ao colo e te dá voltas no ar. Sou o que te vê crescer todos os dias. O que te viu nascer e hoje te ouve ler. Sou tanto. Sou tudo e muito mais do que alguma vez julguei ser capaz. Sou o que te diz que consegues, o que alimenta os sonhos que persegues. Sou eu, a mãe e o mano. 
E há 8 anos passámos de 2 a 3. E agora somos 4. E eu nunca fui tão feliz.
Parabéns meu anjo. Amo-te muito.

sábado, fevereiro 25, 2012

Diz que disse 45

Como faço sempre, vou vê-los antes de me deitar.
E hoje fui. Ela, no sono mais profundo e com os lençóis mais revoltos, nem deu que a pusesse direita e a tapasse. Já ele... que dormia atravessado na cama e completamente destapado, depois de o "compor", diz-me por entre dentes:
- quero continuar a dormir
- continua filho (disse baixinho)
- ainda é de noite?
- é meu anjo. Dorme.
E com um sorriso sem abrir os olhos
- yesss

Adoro isto.