quinta-feira, junho 06, 2013

19 anos



São os dias todos.
Ao fim destes anos aprendemos a relativizar. Perdemos a inocência mas ganhamos a solidez e as certezas. Pesamos, medimos e pensamos.
Não é só paixão desenfreada nem deixamos de comer. Mas também é.
Mas ainda sorriu quando te vejo depois de estar muito tempo sem te ver (e um dia é muito tempo sem te ver).
Ainda penso em ti 40 vezes por dia e te ligo 10 (porque se ligo mais sou chato).
Ainda sonho em fazer as viagens todas. Contigo.
Não me questiono se é o amor que nos une, se a amizade. Não me questiono se é o hábito.
Já não questiono. Sei que somos felizes como a música: os 2.
Temos ideias diferentes mas somos transparentes.
Não fazemos a mesma estrada mas chegamos ao mesmo sítio e ao mesmo tempo.
Somos os 2 | desde 1994.
Amo-te muito.

sábado, janeiro 26, 2013

e vão 6

De tão parecido que és, morro de medo.
Ao menos não fosses tão arisco, tão mexido.
Ao menos não me lembrasse do que ouvi para te dizer.
Que fossemos iguais em traços, iguais no desenho; isso eu não me importava mas assim, igual no feitio e na falta de medo...
E há 6 anos atrás não fazia ideia do que me esperava. 
Parabéns meu anjo. 
Que guardes o sorriso e a gargalhada com que contagias o mundo.
Amo-te muito.

sábado, dezembro 29, 2012

Quente e Frio


Hoje está frio. Daquele frio que se viesse com o vento me cortava ao meio. Daquele frio em que os miúdos na rua expiram o ar quente a fingir que fumam e são crescidos. Está aquele frio que nos sobe pelo ossos, trespassa a roupa e nos deixa gelados.
Hoje está frio assim mas voltar a ver os meus filhos depois de 3 dias longe deles aquece-me a alma e esqueço o frio. Esqueço tudo e derreto-me a ouvi-los.

terça-feira, novembro 27, 2012

Diz que disse 48


- Pai, posso jogar no teu "tu"?
- Qual "tu" Digos?
- No teu "tufone"
:-)

Diz que disse 47



Entrou na sala e deitou um olho à televisão enquanto me perguntava qualquer coisa. 
Nem 2 minutos depois, vira-se para a mãe e dispara: o Stephen é canibal? - Stephen era um dos personagens do filme que passava na televisão.
- Canibal? perguntou a mãe.
- Sim. o outro senhor estava a dizer: eu sei que o Stephen andava a comer a Jenny.

O riso foi tanto que só conseguimos dizer-lhe que não, o Stephen era tudo menos canibal.

sexta-feira, novembro 16, 2012

Olha para mim



Pungente, doente, sedento, diferente, sadio, vadio, sem saber como ir; vingou o prazer de uma morte obscura, vence o selvagem nesta luta que dura.

Da candura da pose, do estar sem se ver, da firmeza do estado ao gemer sem querer.

Dos dias sofridos, dos sonhos caídos, da tristeza que pesa ao destino que leva; de uma mão que acompanha outra mão que se amanha e penteia o cabelo num desgrenho total, sai assim, indiferente, num andar meio doente, num parco equilíbrio amparado por mim.

Caminhamos os dois; mão aqui, mão ali.
Vens agarrado, amparado; e eu com o cuidado que me trouxe encostado estes anos a ti.
Vale o que te ris e não paras. Vale essa força com que te agarras e não largas. Essa força que não é tua. São os teus músculos que se fecham, não és tu.
Não te consigo tirar disso. Ninguém te consegue tirar isso de cima. Olhas de lado mas de cima para baixo sou eu que te procuro.
Olha para mim a olhar para ti. 

quinta-feira, setembro 13, 2012

Aos políticos da minha terra

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Ser pai é uma experiência altamente complexa. De todas – e vivi algumas – é sem margem para dúvidas aquela que nos põe  em perspectiva tudo.
Não só o que com eles se relaciona mas tudo. Todos os pequenos gestos, todas as palavras, todos as acções.
Não sinto que me tenha anulado enquanto indivíduo e que seja apenas pai. Não sou. Sou homem, cidadão, marido, colega e tudo o que mais cabe em mim enquanto ser pensante e enquanto pessoa integrado numa miríade de conjuntos com outras pessoas.
Mas ser pai obrigou-me definitivamente a olhar para mais longe. A pensar mais além, a antecipar, a prever.
Ser pai obrigou-me a medir as mudanças levando em linha de conta as suas vidas – e não apenas a minha.
E é por ser pai que no próximo sábado me vou manifestar.
Não é por mim; é por eles.
Porque eu trabalho há mais de 20 anos e desconto há mais de 20 anos.
Porque consegui (com sorte e audácia e coragem e felicidade e sei lá que mais) trabalhar em áreas e projectos que me fizeram feliz e me pagaram as contas e me permitiram ter uma vida sem ter de olhar constantemente para a coluna da direita no menu do restaurante.
Porque quando sai de casa do meu pai para ir viver com a pessoa que amava (e que amo), fizemo-lo com as contas aos salários e foi com a mesma folha de papel, rabiscando e alterando valores, que mudámos de casa, comprámos carros, fomos de férias, fizemos viagens, tivemos 2 filhos.
Porque nós temos idade para sobreviver seja de que forma for e por isso, não é por mim, não é por nós que me insurjo. É por eles.
Porque fui enganado e roubado. Porque me obrigaram a refazer as contas sem que me tenha enganado a fazê-las.
Porque me obrigaram a olhar ainda mais à frente e a perceber uma tremenda incógnita.
Não é por mim que me manifesto nem   ter que pagar.para governarretroactoivamente a pensar em 2020 e nas facturas que outros vam garantir o meu futuro e deveriam dé por mim que escrevo. É por eles. Porque o meu trabalho e os meus descontos de mais de 20 anos mais os anos que ainda vou trabalhar deveriam garantir o meu futuro e deveriam deixar que os meus filhos escrevessem o deles.
Não deveria ser uma corja de interesses instalados a hipotecar os seus sonhos.. Com que direito?
Foram eleitos para governar hoje. Não foram eleitos para governar a pensar que em 2020 alguém pagará as facturas.
Foram eleitos para resolver hoje os problemas de hoje. Com medidas à medida de hoje. Com equidade e com respeito. Com um olhar crítico sobre a sociedade. Com a capacidade de auto crítica que nunca tiveram.
Não são capazes.
Não me interessa quem provocou o problema. (para o caso, quem governa hoje foi quem governou no passado intercalando com o maior partido da oposição entre arranjinhos e jantaradas).
Vão à merda e tenham vergonha.
Há pessoas desesperadas. Há quem comece a ter fome. Vê-se nas ruas.
As pessoas têm medo e quando as pessoas têm medo, fazem o que não fariam em situações normais.
Façam a vossa parte. Tomem medidas que façam a diferença. Ponham os olhos noutros países.

Não peçam às pessoas coragem e paciência. Tenham vocês a coragem de dizer “basta” às corporações e aos interesses instalados. Tenham a coragem de  condenar meia dúzia de gente suja. Tenham a coragem de dar o exemplo. Cortem nos carros, nas despesas de representação. Não resolve nada? Pois não, mas dão o exemplo. Mostram que estão com as pessoas e não contra as pessoas.
A continuar tudo como está, terão cada vez mais pessoas contra vocês.

Não é por mim que sinto a revolta, é por eles.
Porque eles vão crescer num país que não os quer, que os manda embora, que lhes dá sinais que não querer que a justiça funcione, que os tribunais julguem de forma independente. A continuar tudo como está – e não há sinais de mudança – vão crescer num país só para alguns.
A continuar tudo como está, correm até o risco de crescer noutro país. Por isso sábado, quando sair de casa e eles me perguntarem onde é que vou, eu vou responder-lhes que vou dar 2 gritos de revolta e tentar fazer alguma coisa. Não é por mim; é por eles.

quinta-feira, agosto 02, 2012

O que me faz falta


Já me faziam falta estas noites aqui. Dos grilos ao longe – tão perto – da lua inteira – enorme – e das estrelas todas – tantas.
Fazia-me falta apagar a mesquinhez que preenche os dias na cidade. Fazia-me falta escrever neste frio de Agosto.
Acordar para o sol com o sol ao meu lado. Acordar para os dias sem ter os dias contados. Fazia-me falta sentir a areia nos pés.
Fazia-me falta ser pai de manhã à noite. Lavar a fruta que vamos comer na praia. Levar as pranchas, as pás, a bola e o mundo inteiro numa mochila e meia.
Fotografar cada rosto molhado enrolado numa toalha ao sol. As pestanas encharcadas, o sal no corpo, os pés nus, quarenta mergulhos e duas voltas de bicicleta.
Fazia-me falta o azul do céu, o verde do mar e as cores todas dos sorrisos mais perfeitos. Faziam-me falta os risos. Os abraços e os braços enrolados a mim.
Fazia-me falta e agora só me faz bem.

terça-feira, junho 12, 2012

Os pássaros da minha rua não sabem o que é a crise

Na minha rua há 2 pássaros pretos que esvoaçam por entre os arbustos sempre que os vejo. Não sei se é o seu modo de ser ou se é o que fazem por fazer. A verdade é que seja manhã cedo ou noite funda, lá estão eles. Chilreiam por tudo e por nada e às vezes, quando me apetece ouvi-los, calam-se, como se brincassem comigo.
E seja da forma que forem os dias, lá estão eles atrás um do outro sem saber que para mim, estes têm sido meses turbulentos – e truculentos.
Chuva intensa que me apanha na curva dos dias e que não previ. Às vezes tempestades e granizo. Mas, por convicção ou pura ingenuidade, lá mais à frente vejo sempre um arco-íris, um raio de sol por entre as nuvens. Um acreditar sem saber muito bem em quê.
Ainda assim, a crise dos mercados, o desemprego, o banco central europeu e uma data de instituições que governam agora o meu país, fazem-me vergar a cabeça com as preocupações que carrego.
São as bolsas oscilantes, os mercados emergentes, os ratings inconsequentes e acima de tudo, as saídas que parecem inexistentes. Tudo levo e trago comigo um dia inteiro entre os intervalos da cama. Tudo é preocupação, inquietação, indignação.
O esgrimir de argumentos surdos entre governo e oposição, o desembainhar de razões em programas de televisão, o assombro do desplante de uns tantos e a aparente tranquilidade de uns quantos; tudo numa manhã e 2 noticiários ouvidos à pressa.
É uma sombra que só se quebra com os amigos, com a mulher de sempre e com os miúdos. Esses sim. Esses são só luz. Brilham até a dormir.
Levam-me para os seus mundos inventados de jogos de bola improvisados. De golos marcados de livre directo de uma ponta à outra de um quarto. De casas de bonecas e castelos, de dragões, vilões e “aqui temos o desenho de um tigre muito feroz e aqui temos o barco de um pirata e este és tu e esta é a mãe, esta aqui é a mana e este sou eu pendurado no barco. E aqui é um tubarão... vês os dentes?”.
Já ouviram falar do estado em que se encontra a economia e da crise mas essa conversa séria de gente crescida “que vocês já têm idade para entender” não passa disso mesmo, de uma conversa; é mais um tema que, como dizia ela hoje ao jantar: “é giro; nós começamos a falar de uma coisa e acabamos sempre a falar de outra e pelo meio falamos de montes de coisas diferentes”.
Pois é. E este é apenas mais um tema entre um barco pirata que voa carregado de monstros por entre as princesas e dois cromos da liga dos campeões que já acabou.
Não há maneira de os fazer parar de sonhar. Nem eu queria. Fazer aterrar duas cabeças brilhantes que voam sem espaço aéreo definido seria como fazer calar os pássaros da minha rua e para eles, também não há crise. Só o voar entre os arbustos, seja manhã cedo ou noite funda.

quinta-feira, abril 19, 2012

Diz que disse 46

- Pai, afinal decidi que já não vou ser árbitro de futebol
- ah sim filho? Então?
- Agora decidi que vou ser ninja. Vou ter que estudar muito e aprender a dar saltos muito altos.
- Pois é filho. Estuda.

E é isto o futuro.

domingo, abril 08, 2012

8 anos num instante

Há 8 anos passámos de 2 a 3. Foi o principio desta Familia onde agora somos 4. Foste o inicio. De tudo o que é bom e é medo e é feliz. Foste o sol na noite. Foste o primeiro dos meus melhores projectos. Foste o mais sucedido esboço tornado vida. Foste mais do que esperava e muito mais do que parecia. Foste o brilho dos dias, o mar no verão, o vento na cara. Foste a adrenalina maior, o maior vício. Reinventei-me em cavalo, príncipe e castelo. Fui avião, fui barco. Sou o mais forte, o mais corajoso, o mais bonito, o melhor pai do mundo. Sou porto de abrigo contigo. Sou tudo o que quiseres que eu seja porque sou feliz quando me pedes. Sou a voz que se zanga e a voz que te elogia. Sou a mão da palmada e a mão de mão dada. Sou o que te faz chorar e o que chora por ti. Sou o que dança contigo a meio do jantar. O que te pega ao colo e te dá voltas no ar. Sou o que te vê crescer todos os dias. O que te viu nascer e hoje te ouve ler. Sou tanto. Sou tudo e muito mais do que alguma vez julguei ser capaz. Sou o que te diz que consegues, o que alimenta os sonhos que persegues. Sou eu, a mãe e o mano. 
E há 8 anos passámos de 2 a 3. E agora somos 4. E eu nunca fui tão feliz.
Parabéns meu anjo. Amo-te muito.

sábado, fevereiro 25, 2012

Diz que disse 45

Como faço sempre, vou vê-los antes de me deitar.
E hoje fui. Ela, no sono mais profundo e com os lençóis mais revoltos, nem deu que a pusesse direita e a tapasse. Já ele... que dormia atravessado na cama e completamente destapado, depois de o "compor", diz-me por entre dentes:
- quero continuar a dormir
- continua filho (disse baixinho)
- ainda é de noite?
- é meu anjo. Dorme.
E com um sorriso sem abrir os olhos
- yesss

Adoro isto.

terça-feira, dezembro 27, 2011

Diz que disse 44

Depois de sair do banho na mais completa excitação, desatou a tocar "air guitar" como se não houvesse amanhã enquanto lhe punha creme e o vestia. De repente, no fim de um solo acompanhado de um tam tam tam final, vira-se para mim e diz: sabes, fui eu que inventei.
- o quê filho?
- esta musica que estava a cantar.
E continuou. Nem 2 minutos depois, olha-me nos olhos a 2 cm da cara e pergunta:
- pai, sabes o que é quando eu me calo?
- o quê filho?
- é intervalo.
O meu filho é uma verdadeira rock star.

sexta-feira, julho 08, 2011

Diz que disse 42 e 43

O meu filho tem uma memória prodigiosa. Se calhar "prodigiosa" é exagerado mas como é meu filho posso abusar da adjectivação o que me apetecer.
Lembra-se de coisas que viu há meses.
Outro dia, passamos na auto-estrada por uma D.Elvira, típica de anos 20. Um banheirão de carro. E diz o Digos:
- Pai, este carro é igual ao dos maus do filme dos cães.
- qual filme filho?
- o dos Sete e uns Dálmatas.
- de qual Digos?
E ele com ar paciente e sabedor, como quem explica o básico dos básicos ao Pai:
- Sete........ e...... uns.....dálmatas.
- cento e um Digos. Cento e um dálmatas. São 100 mais um.
- ah... Mas isso são muitos pai.

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Chegamos a casa, estaciono na garagem e tiro-o do carro.
- Pai, vou-te contar uma coisa.
Sabes quando há relampaMos...?
(pensei, ouvi mal)
- quando há o quê, Digos?
- relampaMos
- nao são relampaMos, são relâmpagos. Diz lá...
- relampaMos
- relâmpagos, gos, gos. Diz lá "gos, gos"
- gos
- boa. Então diz lá.
- pai, sabes quando há relampaMos?
- oh Digos, relâmpagos.
Olha para mim de baixo para cima, faz uma pausa e segue:
- sabes quando há relâmpagos?
- sim
- é quando está a chover.

.... E eu armado em parvo a corrigir o português quando havia conhecimento cientifico para ser partilhado.

sábado, maio 21, 2011

Depilação a laser

Não me preocupa muito o que os outros pensam de nós. 
Chateia-me isso sim, o que nós pensamos de nós. Aborrecem-me as mentiras, o atirar de culpas, o eterno solucionar com o futuro para que no futuro alguém encontre as soluções que não fomos capazes de encontrar até agora. 
Irrita-me o discurso cuidado, ensaiado; a máscara sem pudor que se mostra como se de uma pele se tratasse. 
Porque eu posso dizer os disparates todos, todos os dislates, os maiores palavrões e as asneiras mais escabrosas. Eu não sou uma figura público-político-pseudo-iluminada. Eu sou nada. Sou mais um. Eu até posso dizer que se discutem pintelhos em vez de assuntos sérios, eu até posso ter soluções de algibeira, ideias mirabolantes de fazer baixar o endividamento público, dizer que baixo os impostos que subo a receita e que aniquilo a despesa do estado com três medidas.... e meia. Que faço aumentar as exportações em quatorze virgula sete. 
Eu posso dizer o que quiser que eu sou ninguém. E por isso é indiferente que qualquer das minhas medidas fique aquém.
Mas assim não. A brincar é que não. Basta o que basta. Se é para nos responsabilizarmos que sejamos todos. Que se mudem as regras. 
Ou então que se assuma que somos assim. Que a contextualização histórica nos moldou. Que os mouros nos deixaram os números mas que precisamos de um tradutor de serviço que os explique. Que o nosso papel geo-estratégico foi um erro de casting e que de facto, os 500 anos de ensaios não correram bem; que se entregue a outro.
Porque até os mais empedernidos começam a ter dificuldade em encontrar justificações. A segunda guerra passou-nos ao lado, a revolução passou de mansinho e nós, vamos passando de mansinho pelos dias.
Agora vem 5 de Junho de mais um mês de verão que há-de ser bom para a praia e que vai ter menos gente interessada que aquela a quem tudo isto interessa. Porque nada é claro. Nem esquerda nem direita. Nem liberalismo económico, neo-liberalismo, socialismo dentro e fora da gaveta. O problema acaba por nem ser a peça de mobiliário.  Acabam por ficar as ideias todas no armário. Acaba por ficar tudo a meio de coisa nenhuma e nós, no meio disto tudo sem saber onde nos arrumar. 
Pela primeira vez - eu, que sou de paixões e convicções - fico dividido entre o discurso dos analistas e a análise dos taxistas. Fico a pensar que o último a sair seria um mau programa se não fosse tão bom. Há ali qualquer coisa de genial. Qualquer coisa de imoralmente genuíno. Há ali material humano apaixonante. Que é tudo o que tem faltado nestes dias cinzentos. Convicção, acreditar, amar, pensar. O querer um projecto. O idealizar. 
Falta-me sentir que alguém se importa e que quem se importa pode fazer a diferença. Porque há diferenças. Não chega um mundo de ideais que se apoiam numa ideia só. Não chega o desejo comum a todos de acabar com o sofrimento dos animais. São sãos mas são ideais isolados e isolados estamos tramados. 
É preciso encontrar o elemento agregador. O cimento disto tudo. É preciso um trolha que meta a mão na massa e que se junte a outro que saiba pintar e a mais outro que não se importe de acartar. É preciso acreditar e acima de tudo, é preciso querer. 
Porque nós sabemos. E fazemos tão bem ou melhor que outro qualquer. Somos capazes de inovar, de criar com todas as dificuldades. De aproveitar as adversidades e de as transformar em oportunidades. E o tempo de o fazer é agora. Quem não quiser vai embora. Quem não acreditar que se ponha andar. E a nós, os que acreditam que é possível, os que acreditam que isto tem que melhorar, ajudem-nos a ajudar. Levantem as bandeiras e digam-nos que este é o caminho certo. Que é por aqui e que quando formos, cheguemos a algum lugar.

segunda-feira, março 14, 2011

Tu, no palco.

Hoje é capaz de acordar o dia com chuva. O chão molhado, o céu carregado, as nuvens pesadas. Hoje é capaz do dia ser cinzento, de soprar o vento logo pela manhã. Hoje é capaz do trânsito ser um inferno, de se levantarem ondas na marginal, de mesmo fora de tempo ser um dia invernal.
Ainda assim, vais acordar com o beijo meu, com festas dos teus filhos que incapazes de mimos e carinhos por muito tempo, acabarão aos saltos a cantar-te os parabéns. A dizer que te amam muito e que és a melhor mãe do mundo. A dar-te presentes comprados em segredo que o Diguinhos foi incapaz de guardar.
E depois vais sorrir como sempre fazes. Vais ser o mesmo anjo de sempre. Vais ser a melhor mãe do mundo outra vez, a melhor mulher do mundo outra vez. E eu, vou repetir-me outra vez e dizer que te amo muito, mais que a vida, mais que o mundo. Vou lembrar-me de todos os aniversários. Pensar que daqui a 2 anos serão tantos os que celebraste sem mim como os que comigo.
E então acaba o dia e tu continuarás, perfeita, um anjo, linda, doce, como sempre. E é tão bom estar na primeira fila da tua vida. Amo-te. Parabéns.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

4 anos de gente




E quando eu pensava que não era possível amar mais, chegaste, pequeno, a fazer disparates ao primeiro minuto. A assustar-me como nunca antes me tinha assustado. Apareceste, vieste, foste tu. Eras tu. Ali, enrolado e a tentarem que respirasses. E respiraste. A seguir choraste e fizeste tudo o que era suposto.
E então começaste a crescer. Começaste a ser tu. Vivo, esperto, mexido.
Quando sorrias, fazias aquelas covinhas irresistíveis que ainda hoje fazes. Que aprendeste a usar para teu proveito. Aquele sorriso com que seduzes toda gente com quem te cruzas. Aquele sorriso maroto.
És um apaixonado. Amas loucamente. Gostas da mãe, da mana e do pai. Dos avós, dos colegas, das professoras. Gostas e gostas de gostar. Gritas de braços abertos: és linda mamã. Abraças com toda a força que tens. Penduras-te no meu pescoço e pedes que te leve. Sobes para os meus pés e pedes que te leve. Queres ir; sempre. Parado nunca. Sempre a andar. Ouço-me dizer-te o que ouvia ao meu pai. Tens bichos carpinteiros, não sabes estar quieto mas... há histórias que te levam à calma. Há livros que te fazem sentar, quieto, calmo, sereno. Não é menos verdade que mesmo assim, há sempre uma pergunta, uma observação, qualquer coisa.
És curioso, queres saber, queres descobrir. Não te chega uma brincadeira, um carro, um boneco. Queres sempre mais, diferente, outra coisa. Queres chegar depressa, partir para outra.
Ainda assim, és do mais meigo que se conhece. Doce.
Não há como chegar a casa e ouvir-te – quase sempre em coro com a tua irmã – gritar: paaaaaaaiiiiiiiiiiiii.
Cura tudo.
E hoje, são 4 anos de gente. Gente pequena, esperta, viva.
E foram os melhores 4 anos da minha vida.
Amo-te muito Diguinhos.

sábado, janeiro 22, 2011

Diz que disse 41 (coisas dele)

Porque não é coisa de que me orgulhe, fumo às escondidas dos meus filhos. Nunca, nem um nem outro me viram puxar de um cigarro. E por isso, sou obrigado a fazer outra coisa de que também não me orgulho: mentir.
Páro muitas vezes numa bomba de gasolina à ida para casa com o pretexto de ir comprar uma revista que, curiosamente, nunca há.
Hoje, à vinda de um jantar com os avós e sem a Pim que ficou a dormir em casa de uma amiga (e isto poderá ser tema a desenvolver :-) parei na dita bomba para ver da tal "revista".
Já com o tabaco no bolso mas curiosamente sem qualquer revista, entro no carro para encontrar a mãe a conter o riso e a dizer para o Digos:
- vá, diz ao pai...
E ele disse:
- sabes pai, isto é esquisito.
- o quê filho?
- vens sempre aqui para comprar uma revista e nunca há a revista. É esquisito não é?

De facto é. É esquisito.
Mas tem tanto de estúpido este mentir como de engraçada esta atenção aos detalhes.

sexta-feira, dezembro 31, 2010

Motivações

Este foi o ano. Foi - como todos são - diferente de todos os outros. Foi o ano de me descobrir debaixo de água. Foi o ano do mergulho, das viagens a Sesimbra aos fins de semana, dos buddy check, do diamante de Dalton e de outras preciosidades. De descobrir a marginal outra vez. De começar a correr em Março para acabar agora com 300 quilómetros feitos. Foi o ano de começar novos projectos, acabar e começar outra vez.
Este foi o ano de meter na cabeça e começar a fazer o que há muito andava para começar a ser feito. E começou com deadline bem definido e vontade de o cumprir. Este foi o ano de voltar a Londres, de namorar em Munique, de andar por aí. De pisar terrenos com história e de histórias tristes.
Foi o ano de me descobrir outra vez. De conhecer pessoas, de ouvir pessoas, de ouvir conselhos.
Foi o ano de começar e acabar muita coisa. Foi o ano de fazer cenários, de criar projectos, de fazer pesquisa.
Foi o ano da crise, das crises, das conversas e do início da Conversa. Foi o ano de criar expectativas, de arranjar motivação, de sonhar um bocadinho e alimentar o que um dia - que não foi aquele - será verdade. Foi o ano de grandes noites de verão, das sardinhadas, dos putos à solta no jardim, de dias maravilhosos de sol, de praia, de calor, de piscina, de andar a pé e de ver as estrelas.
Foi o ano de ver palavras minhas puxadas na rede, ouvidas, escutadas, comentadas por quem não me conhece.
Foi o ano do grande relatório que parecia não ter fim. Foi o ano das apostas ganhas em almoços e perdidas ainda por pagar. Foi o ano de ver como se faz lá fora. De voltar pela segunda vez a Londres por um dia para ficar dois. De ficar retido e fazer em oito horas o que se faz em 2 e meia.
Foi o ano de criar novos hábitos, de olhar para dentro. Foi o ano de fazer para mim como nunca antes fizera.
Foi o ano de ver e ouvir grandes bandas, de descobrir novos sons. De incutir paixões, despertar para outras realidades, abrir os horizontes. Este foi o ano da rede. Foi o ano de escrever muito. De gritar muito.
Este foi o ano de descobrir dores maiores. Foi o ano de sofrer como não sabia ser possível. Este foi o ano de priorizar.
Este foi o ano das decisões difíceis. Foi o ano de fazer o que não se deseja porque não havia outra forma de fazer. Foi o ano de querer e não querer. Foi o ano de ser pai - e mãe 2 noites por semana. Foi o ano das conferências, de ouvir quem pensa de forma diferente. Foi o ano de começar a aprender a escrever outra vez com letra manuscrita e ditongos na ponta da língua. Foi o ano de começar a escola. Foi o ano dos trabalhos de casa. Foi o ano do iPad - deste - e do iPhone. Foi o ano de reencontrar quem não via há mais de 10 anos e começar uma conversa como se tivesse sido deixada a meio.
Este foi o ano dos amigos de sempre e dos almoços de sempre. Este foi o ano dos amigos novos e dos novos almoços. Este foi um ano cheio de ideias novas. Este foi um ano novo cheio de dias novos. Este foi um ano de sentir de novo.
Este foi o um bom ano.


O próximo será melhor.

terça-feira, dezembro 21, 2010

Um chuto na conversa

- queres falar?
- não
- mas não sabes que é importante? Tu é que 'tás sempre a dizer que temos que falar...
- mas não quero... hoje não adianta
- oh
- não vale a pena. Vamos falar e depois chateamo-nos e hoje não me apetece.... não insistas, estou cansada.... e não adianta
- tu é que sabes.
-(...)
-(...) porra, que golo do caraças! Tu viste aquilo? Como é que o gajo faz aquilo?!
(...) este não era do Benfica o ano passado?

in "Di Maria e o planeamento familiar"