domingo, agosto 20, 2006

Eu sou uma besta e a minha filha é muito educadinha



Dito assim, até parece uma afirmação sem possibilidade de rebate. Ao pormenor, confirma-se: é mesmo uma afirmação sem possibilidade de rebate.
Na quinta feira passada, depois de chegar a casa e dar banho à Pim Pim, levei-a para o quarto para lhe pôr o creme e vestir.
Há 2 anos e meio que lhe ponho creme e há 2 anos e meio que faço exactamente os mesmos movimentos. Há 2 anos e meio que o esquema é pernas, barriga, braços, cara e costas. Sempre foi assim e sempre foi assim. Sempre foi assim.
Na quinta feira, deitei-a no muda fraldas, levantei o toalhão e comecei. Creme nas mãos esfrega uma na outra para não ficar tão frio e vai de massajar. – acho que este esquema que arranjei tem também a ver com o facto de ela nunca ter deixado fazer o programa inteiro de massagens do curso que nós tirámos... Não pára quieta a bicha... – pernas para cima e para baixo, primeiro uma, depois a outra. Passamos à barriga. Movimentos circulares. O I L U (I Love U) – eu posso explicar depois a quem estiver interessado ou dar o contacto da massagista – e mais umas cócegas e umas festas e umas palermices que ela gosta. Chegamos então aos braços. Das axilas até às mãos, normalmente os dois ao mesmo tempo. Ela sempre gostou assim, sempre se riu muito. E estava a rir-se até ao momento em que fez uma cara muito assustada. Agarrou o braço direito com o esquerdo e começou a dizer: dói, dói. Então fez beiça e começou a chorar.
Pensei que tivesse sido um bocadinho mais bruto – e não ainda uma besta como mais tarde se veio a comprovar – que lhe tivesse aberto o pulso ou dado um jeitinho qualquer. Acabei de lhe pôr o creme mas a carita de desconforto não saía.
Fomos jantar, sempre a choramingar. A espaços, lá levantava um bocadinho o braço, mas não comeu por ela, foi a mãe que lhe deu. E para ela não comer, uma gajita que está sempre: “a Pim Pim com’i, a Pim Pim com’i chójinha”.
Depois de jantar, a rotina do costume. E lá foi dormir, sem stresses. Não acordou durante a noite e sempre que a fomos ver, estava na posições habituais: pés fora da cama, virada ao contrário, atravessada, enfim, the usual.
Sexta de manhã: “paiiiiiii“, “oh papáááááá”. Levantei-me e fui buscá-la. Estava bem disposta e com o seu habitual enorme sorriso. “Bom dia filha. Dormiste bem?” “xim” ainda com a chucha na boca.
Até que a agarrei pelos braços – como sempre faço para a ajudar a levantar e pegar-lhe ao colo. “Aiiiiii, dói”. Agarrou-se ao braço e dói dói dói.
Como mais vale perder uma hora ou 2 no hospital para o médico dizer que não tem nada do que a bichinha andar com dores não sei quanto tempo, lá fomos para as Novas Urgências Pediátricas do S. Fransico Xavier.
E vamos atalhar a história porque senão nem amanhã.
Chegámos ao hospital e ela foi vista por um médico que a mandou fazer um raio-x. Daí, fomos até à Ortopedia para que o médico especialista pudesse dizer de sua justiça. Em menos de 2 horas fizemos tudo. “Pim Pim à Ortopedia” pelo sistema de som e lá fomos nós.
“A radiografia diz que ela não tem nada. Mostra lá o braço”. Ela, muito diligentemente, lá foi anuindo e mostrando o braço e mais o que a médica – muito simpática – lhe pedia. “Provavelmente foi só um jeitinho”. Suspirei de alívio e pensei que afinal não tinha sido bruto nem nada. Um bocadinho só, vá. Mas só um bocadinho.
De saída, disse-lhe: “diz adeus à Sra. Dra. filha”. E ela lá levantou um bocadinho o braço e acenou. Acto contínuo, a médica chama-a. “Anda cá Pim Pim”. Ela foi. Uma mão no cotovelo, outra na mão. Para cima para baixo para cima para baixo e.... click.
“Pronto, já está. Tinha o cotovelo deslocado”.

- acho que se fez um vazio no mundo quando a médica disse isto, pelo menos na minha cabeça era o que parecia –

Eu sou uma besta que deslocou o cotovelo à sua pobre filha de 2 anos e meio e ela, tão educadinha, que disse adeus à Sra. Dra. mesmo em sofrimento. Não fosse ela dizer adeus e teríamos que voltar lá seguramente nesse mesmo dia ou no outro a seguir.
Agora quando lhe ponho creme parece que estou a tratar de um achado arqueológico com 2 milhões de anos que se pode desintegrar à mais pequena pressão. Mas que serei sempre uma besta, lá isso..

4 comentários:

Domingos Patena disse...

Não tem que se considerar uma besta. Acidentes acontecem. Só se fosse mau pai e não pusesse o creme à sua pim pim é que não corria o risco de a magoar. Já lá diz o velho ditado "quem anda à chuva molha-se"

Lígia disse...

a minha mae deslocou-me a clavicula na banheira... acontece sempre qwq coisa do genero, nao es tu que es bruto... as vezes acontece

Ana disse...

Não penses assim... não foi uma uestão de força, acredita que diz quem sabe :-)

Ana disse...

Se calhar nem foste tu mas sim um jeito qualquer que ela deu. Sabes como elas são.....sempre a 100 à hora. Continuação de boas massagens!