quinta-feira, março 25, 2010

eu e tudo à volta



Raios partam a folha branca.
Nem se enche de letras nem muda de cor. Nada. Está aqui especada. A olhar para mim. A ela não lhe devo nada e a mim... Talvez. Pelo que preciso de escrever como de respirar. Pelo que estive em apneia meses a fio e agora voltei. Pelo bem que me sabe. Pelo mal que me faz. Pelo ar que me traz. Pelo que me apazigua e me acalma.
A ela devo-lhe tudo. Da ideia que fui ao que sou.
Entro aqui e procuro a paz. Procuro o tempo.
Deixo-me embalar pelo vento, irado, revolto, mas ao mesmo tempo, solto, livre. Sem compromissos, nem atalhos nem caminhos. Sem virtudes. Aqui volto sempre a mim. Ao que fui, ao que sou.
Não tenho hora marcada e tenho sempre lugar. Não marquei, apareci.
Aqui sou só eu e a bendita folha branca que amo e odeio e venero. Aqui na folha por onde serpenteio. Aqui na folha onde tudo cabe sem saber de onde veio.
Aqui sou eu.
Aqui sou só eu. Eu e o que trago comigo. As malas cheias de ideias. Soltas, mal arrumadas, empurradas à força.
E acabo sempre por me esquecer de alguma coisa.
Não há viagem nesta folha de papel para onde consiga levar tudo e para onde acabo por trazer pouco.
Não sei quem vou encontrar pelo caminho e a maior parte das vezes dou de caras comigo e isso é bom.
Gosto de me ver quando me deixo aqui. Parado, quieto. Como o vento solto e revolto que não sai do lugar. Gosto de me ver pintado na parede dos dias.

2 comentários:

Jô disse...

não serão as coisas simples as mais puras, as mais genuínas? não serão elas as que constroem os princípios mais sólidos? os maiores? como as folhas brancas, onde constróis os teus textos. grandes. cheios. plenos.

Huuuuge fan disse...

se a folha é branca, a tinta é mágica - mesmo quando trazes o vento, encontramos a paz.