sexta-feira, março 19, 2010
Reflexo
Do outro lado tenho uns olhos abertos.
Querem que eu escreva o que não disse. Que me entregue aqui.
Que dispa o dia e tudo o que não interessa. Que me ponha a nu sem que o corpo arrefeça. Que diga em palavras doces o que ficou por dizer. Que sirvam para embalar quando o corpo quiser dançar. Que me deite e adormeça.
Querem fechar-se enquanto escrevo. Sonhar enquanto ouço ao longe o mar. Querem que descreva as ondas que chegam e as ondas que vão. Querem tudo numa linha e numa linha um trovão. Querem estremecer-se de emoção. Querem que aqui deixe toda a paixão. Todas as paixões. Todas as mínimas sensações.
Olhos abertos que me assustam. Que me pedem tudo o que lhes possa dar e não querem nada que os faça chorar.
Querem estes olhos que os faça levitar. Que os deixe soltos no ar.
Com 3 linhas de texto não querem mais ficar no chão. Querem sonhar com letras que escrevam amor e ir buscar outras que escrevam paixão.
Querem emoções desfiadas, alinhadas; letra após letra, espaço em cima, espaço em baixo. Querem que digam ao mundo tudo o que eu acho. Sobre o quê? nem sempre importa desde que o diga da forma certa e que não deixe nenhuma ideia à porta.
Querem estes olhos que não tiram os olhos de mim que faça de mim caminho e que os leve do princípio ao fim.
Querem estes olhos encontrar aqui o que sinto e o que penso. E o que vivi.
Não importa se foi hoje, ontem ou noutro dia qualquer. O que importa é que escreva e que escreva até doer. Que me esgote, que me entorne, que me derreta por fim.
Porque estes olhos são os meus e sou eu que olho para mim.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Os dons são uma benção, mas também podem ser um castigo. Faz do teu dom apenas e só um prazer. Quem escreve assim não merece castigos.
Há palavras, meias-palavras e perfeitas palavras. Aqui só encontro das últimas ;)
e olham para ti também olhos da cor de chocolate e os verdes mais belos do mundo
Enviar um comentário