segunda-feira, março 29, 2010
Como se escreve o vento?
Como se escreve o vento?
Com palavras soltas, desgarradas? Com sonhos altos e baixos que flutuam?
Como se escreve o vento?
Que eu sei como o sinto mas não o sei escrever.
Que sei que se enrola em mim e me beija e me acaricia e me aconchega.
E que às vezes chega doce e outras não.
Que às vezes passa por mim, faz-me uma festa e outra e segue. E outras fica colado à boca, ao corpo.
E outras leva-me tudo.
Como se escreve o vento que dança um tango a solo? Que serpenteia à minha frente e à volta. E que na volta me traz o mesmo sabor fresco que me deu à ida.
Como se escreve o vento que me trás o mar e me enche o peito? O mesmo que me leva com ele até ao céu. O vento que é meu e só meu por um instante.
O vento que me leva o fumo do cigarro amargo da boca. O vento que leva os beijos que lanço. O vento que agora está e agora não.
O vento que eu não sei escrever é o vento que me empurra à noite. É o vento que me diz que aguento. Que consigo. Que não vou parar agora.
O vento que me agarra e me tapa a passagem. O vento que é vento e que é uma aragem.
Este vento aqui à minha frente que faz dançar as folhas nas árvores. Que faz ondas no jardim e que deixa o lago inquieto.
Como eu, que não sei escrever o vento mas que quando o sinto, o deixo escrever por mim.
De memória:
A tentar pôr a escrita em dia
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1 comentário:
O vento que nos faz flutuar? Escreve-se como dizes e como sentes. Exactamente assim.
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