terça-feira, agosto 03, 2010

O Escafandro e a Borboleta



As férias têm destas coisas. Deixam-nos à mercê dos dias e nós, de férias, deixamo-nos ir. Sem horários, sem pressa para coisa nenhuma – a não ser para chegar à praia antes das 9 e meia. Tudo o resto tem tempo.
E como tudo o resto para além do que tem tempo, continua, ligo o rádio de manhã só para saber o que é que o resto do mundo anda a fazer. Regra geral, 3 notícias chegam. São as grandes parangonas do dia e repetidas à exaustão de meia em meia hora não me vão trazer nada de novo para além da primeira vez em que as ouço.
Mas hoje, hoje foi diferente. Hoje as notícias que trazia o éter não me deixaram indiferente.
A semana passada foi o António Feio. Hoje, Mário Bettencourt Resendes. E se a semana passada foi a morte de um actor que me habituei a ver na televisão e no teatro e com quem estive uma vez apenas, hoje foi diferente. Hoje foi um professor de faculdade. Daqueles por quem se ganha um tremendo respeito pela sapiência infinita e generosidade na distribuição de saber. Hoje foi o professor de faculdade por quem – acredito – todos os seus alunos ganharam admiração e respeito.
Durante um ano, foi meu professor e durante um ano, todas as aulas foram plenas de sabedoria, de experiência e de uma tremenda simpatia.
Se calhar por nunca ter sido um aluno espantoso – longe disso – não foram muitos os professores que guardo da minha vida académica. Da secundária, um único com quem me cruzei há pouco tempo na rede. Da faculdade, meia dúzia e desses, 3 que guardo com enorme apreço e carinho. O Mário Bettencourt Resendes era um desses.
E mais uma vez, doença sinistra que bate à porta e mais uma vez, a sabedoria de uma vida não foi capaz de a ludibriar.
Ao homem e ao professor digo adeus. A tudo o resto,
Lá em casa, numa prateleira, repousa um livro que comprei quando mo indicou. “O Escafandro e a Borboleta”. Fala de um homem que no pico da sua carreira sofreu um acidente vascular cerebral paralisando-o por completo com excepção do olho esquerdo e do cérebro. Foi o suficiente para letra a letra escrever o livro em questão. Um livro autobiográfico carregado de esperança e de perseverança.
Ao escrever isto, sinto-me como um jornalista à antiga em início de carreira. Ao que parece, quem entrava fresquinho numa redacção de qualquer pasquim tinha a dolorosa tarefa de fazer a ronda pelos hospitais, policia e bombeiros para saber as desgraças. E quando graves, reportar os óbitos.
Quem me contou foi o Professor Mário Bettencourt Resendes e tal como aos jovens jornalistas, de vez em quando a notícia que reportavam tocava-lhes mais fundo.
Adeus professor. E obrigado.

2 comentários:

marion disse...

Lo siento, amigo. Allá donde sea que esté el Professor Mário Bettencourt Resendes seguro q está orgulloso del trabajo que hizo contigo y de que fueras su alumno.

disse...

Como sabes foi também meu Professor e depois disso tive o privilégio de privar com ele ainda mais de perto. Há pessoas que vale muito a pena conhecer e que nos fazem sentir especiais por ter tido essa oportunidade.