terça-feira, agosto 10, 2010

sempre igual




Não muda o cenário que me envolve quando escrevo.
É quase sempre a noite que me mexe.
Quase sempre a estrela que não esquece.

É a memória das horas cheias que se entornam pelos dias.
Dos risos, das palavras e das alegrias.

Do lume que se fez forte; do tempo que não tem norte.
Da aragem solta que me leva o fumo.
Dos grilos longe que marcam o compasso.
Dos amores mais sólidos que o aço.

Das crianças aos gritos no jardim. Dos mergulhos do Digos e da Pim.
Dos amigos a correr; do saber sem saber que fazem hoje o que serão depois.
Que amanhã quando o sol nascer e quando abrirem os olhos, tudo o que vão ver é um sorriso largo. É um bom dia cheio de saudades.
É um abraço, um beijo e os planos das horas cheias de novidades.

À minha volta estou só eu. Na minha volta não estou só.
Uma sebe mal aparada não conta que só se acerta no Outono ou na primavera. E agora é verão e não posso agarrar na tesoura só porque a estética botânica diz que sim. Não posso e é assim.

Obedeço a estas regras naturais. Trato da relva que ouço crescer nos dias mais longos.
Estendo os dias ao sol e escolho a molas melhores.
Não por serem a mais fortes mas por serem as maiores.

Desenho as palavras que me peço. Escrevo o que quero e o que não esqueço.
Desdenho os escritores maiores. Pela lucidez, pelo que se impuseram, pelo talento.
Pelas regras que seguiram no seu tempo. Pelo tempo que ganharam na escrita que nos deram. Pela capacidade absoluta de dizer tudo o que sentiam.

Desdenho e admiro os escritores maiores. Por não ser capaz de o fazer. Por não ter pretensões e só prazer.
Pelo gozo que tiro quando uma frase sai bem. Pelo bem que me faz sem ter que o fazer a mais alguém.

E por ser tão complicado, tão intrinsecamente rebuscado; por ser tudo quase nada. escrevo isto numa penada, fecho o texto e vou para dentro.

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