quarta-feira, agosto 11, 2010

Coisas Simples




Estou encostado, meio deitado num cadeirão insuflável que mal se mantém amparado.
Balanço ao som da rega. Ora para cá, ora para lá.
Por cima, a mesma companhia de ontem e dos outros dias todos.
Os pés nus vão sendo compassadamente molhados pelos restos colaterais que os aspersores libertam (apesar de cuidadosamente alinhados).
O Alentejo continua quente – mesmo a esta hora - e o dia de amanhã promete ser febril.
As crianças dormem. Estão cansadas e quando chegam à cama a vontade de continuar as conversas é rapidamente anulada pelo sono.

Lá dentro, por detrás de um laranja vivo num tecido leve, esperam-me mais umas horas de conversa. Mais um entrelaçar de pés no sofá enquanto os personagens de um filme qualquer contam uma história.
Cá fora, encostado, meio deitado, debito mais uma ideia. Sobre as coisas simples que me deixam feliz. Como os pés molhados.

Fumo mais um cigarro.
Perco-me na moldura amarela da janela.
Fecho os olhos no escuro à procura de uma estrela. Quero vê-la.

Não quero notícias nem novidades. Não quero saber de meias verdades. Não quero saber.

A cadência ritmada e este tac-tac-tac deixam-me as ideias claras. Ponho de parte as palavras caras. Quero o mais simples das coisas simples. Quero os pés molhados, uma e outra vez. Até que o jardim se sinta saciado. Até que o calor seja abafado. Até que a noite se entregue toda. Até amanhã.

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