terça-feira, fevereiro 23, 2010

Sede de dias mais quentes.

Ah que sede!
Do fresco dos dias no meio do calor. Do quente das noites. Do suor.
De um cigarro amargo a queimar os lábios. De um beijo molhado com sabor a sal.
Que sede do sol, brilhante e constante. Dos dias quietos em pleno Alentejo. Das pilha de livros, dos amigos, da praia.
Que sede! Que cheguem os dias compridos em que o sol me leva e me trás a tempo de ver o mar brilhar. Das esplanadas ao almoço, do trabalho arrumado, dos castelos na areia e das conversas. Das tantas palavras que se trocam. Das pessoas que se tocam. Da relva fresca depois do jantar, das fotografias ao mar, do verão.
Que sede da música no jardim, das corridas do Digos e da Pim, dos baloiços, do escorrega.
Escorregam os dias devagar até que chegue o tempo bom de fazer isto tudo. Escorrego eu por entre eles; com eles. Escorrego nos minutos soltos que perco. Escorrego em mim. Caio, levanto-me, não aprendo e não me rendo. Não me chega tudo o que faço e desdobro-me em ficções, em paixões. Desdobro-me na escrita, maldita, que me consome, que me tira a fome só por um instante e me deixa faminto para descobrir o que sinto. Que sede, que saudades, que raiva de não ter tempo para tudo o que o tempo quer que eu faça. Que nervos de não ter levado a máquina ontem de manhã quando as ondas faziam curvas e formas e rebentavam sempre diferentes. Sempre bonitas num minuto e depois, ausentes.
Entro nas manhãs com um sorriso e com vozes pequeninas a cantar.
E enquanto a temperatura não sobe, tudo o que sinto do que a água leva e não me dá, do que os dias querem e eu não dou; do que eu não me dou e não passa de vontade e do que eu não me entrego por querer sempre a verdade, fica pouco mais do que eu sou e não quero ser. Pouco mais de mim, pouco mais para ver, pouco mais para ler.

2 comentários:

disse...

A vida ensina-nos muitas coisas. Ensina-nos por exemplo que depois do Inverno vem a Primavera. E depois da Primavera vem o Verão. Ensina-nos que, com maior ou menor intensidade, hão-de chegar. Mas o que a vida mais nos ensina, é que às vezes é precisar saber esperar. Principalmente pelas coisas boas. Quando chegam, têm outro sabor.

HuuuugeFan disse...

Estou completamente embalada pelas palavras. E pelas saudades.