Dias e dias vazio. Sem nada de nada, ou melhor, com muito, mas nada de digno. Não que fossem coisas impolutas todas as que costumavam sair.
Já me tinham pedido e pedido e pedido mas andava relutante em voltar. Mas volto, desta vez sem promessas nem cadências. Volto com a mesma vontade de sempre. Com a força mais forte. Mas sem compromissos.
É que aqui ao lado, por trás da porta, o que vejo enche-me, preenche-me e transborda fora do mais que possa amar. Está tudo ali. Deitados no chão e a cantar. Estão ali.
Eram as horas mais bem passadas as que pudesse ficar só a ouvir as vozes doces que me alimentariam. Mas não posso. Ninguém pode. Os dias passam num repente que não damos por ele e ao espelho, às vezes não reconheço o reflexo de um dia e outro.
Passa o hoje, o amanhã – e agora tocam piano – e o que não se fez não se fez. Faz-se depois.
Porque há dias doces de lamber os dedos e outros em que se descobre na crueza das coisas o fascínio de alguém.
Não há uma pessoa do lado de lá, há o mundo inteiro. Não há um amor, há o amor. Não há uma vida. Há isto que é bom todos os dias e às vezes assim assim.
Pela chuva que cai diria que está frio mas não; está bom. Ou então sou eu que estou quente.
Andei tanto tempo para agora dizer tão pouco.
Mas é que soube-me bem este bocadinho aqui ao pé de ti que não me apetece ir embora. Fazes-me falta.
Às vezes bastavam duas frases. Duas frases e já matava o bicho. Às vezes bastava uma ideia pequenina. Era só vê-la aqui que me deixava logo mais feliz.
Podia ser escrita à beira de um abismo, podia ser gritada para se ouvir com eco. Podia ser tanto e tão pouco. Era só querer e a verdade é que às vezes quero e às vezes não.
1 comentário:
se pudessemos viver a vida parada nos momentos fotográficos que temos gravados...era tão bom! gosto das descrições que fazes dos vossos filhos, são...reais, muito visuais! gosto!
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