Estou morto e com sono, nem de pé nem sentado; estou virado.
Estou irado.
Liguei e desliguei vezes sem fim o mundo da lua
Virei-me ao contrario e em mim só consigo encontrar uma noite nua
Consigo ver-me no céu, sentado no breu a com os olhos no chão.
Consigo fechar-me na cama, esconder as ideias e entrar no colchão.
Perder-me no canto do escuro, nos pássaros soltos que voam aqui
Estender-me de corpo esticado, em pé e sentado à espera de ti.
Não vens não sonhas não queres não sabes se deres o mais que há para dar
Se sentes se amas e mentes, se tens entre os dentes palavras e mar.
Não tens o que é mais preciso, que eu tenho e consigo dar até de mais
O amor que trago comigo e que é um castigo perder se tu vais.
Um dia eu amuo, não trago e não dou (se quiseres eu vou) para lá do que é meu
E espero, sentado e de pé, à beira de um sonho que sem ser já é.
Esvoaço no tempo e no espaço como a poesia se devia ouvir
Viagens doentes dementes, sem terra sem gentes para ser só sentir.
Constato – palavra complexa – que o tempo que dou a este tormento
É mais que demais que o que sinto não tem a expressão do que vai cá dentro.
Saber eu já sei, mas sendo eu que o sei, sou eu que o farei mais feliz ou não
Em mim eu fecho as janelas e os dias mais negros que trago na mão.
E por fim, para não me cansar, deitado a pensar em tudo o que ouvi
Dou um grito para dentro, apago o momento e começando outra vez, já não saio daqui.
2 comentários:
Gosto da frenética do discurso que nos faz ficar sem ar. Gosto da quase poesia que me tem um "je ne sais quoi" de do Ary. Gosto.
Muito bom. Acho que o li todo sem respirar.
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