Faz frio. Não muito mas o suficiente para me arrefecer ao ponto de ter de escrever. Faz frio ao ponto de me incomodar. Faz frio ao ponto de me querer aquecer aqui.
Preciso de virar uma página que me atormenta. Preciso de arrumar um livro que me pesa. Preciso de definitivamente fechar uma sala cheia de histórias. Ou de a abrir de vez.
Preciso de aquecer a cabeça e o silêncio das noites não me faz bem.
Às vezes precisava de me encontrar para encontrar outras coisas. Precisava de não me iludir e de me render à evidência da mais solene resignação. Que abomino tanto que tremo.
Ou então é o frio. Deve ser.
Gelam-me as mãos para deixar aquecer a alma e não fechar os olhos. Gela-me a boca para me silenciar. Todo eu tremo. Não sinto as letras que correm em mim. Apago e ando para trás a cada palavra porque nenhuma termina como quero.
Há dias que me sinto a perder o chão. A perder a razão.
Por mais que me encoste e me enrosque não aqueço.
Por mais que escreva não me aqueces. Por muito que queira, esmoreces. Porque há horas do dia que não fazem sentido, que não rimam umas com as outras.
Há horas do texto que não se acertam nem com vírgulas.
Há palavras que não fazem sentido ficarem de fora. Há silêncios contidos que não o deveriam ser. E há sempre tanto para dizer.
Quantas letras serão precisas para perceber?
1 comentário:
Es sorprendente... yo nunca conseguiría escribir algo bonito sobre el frío. Todo lo q escribes es bonito, ya sea sobre cosas tristes o alegres.
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