quinta-feira, maio 03, 2007

Outra Vez


Encosto-me. A nada e a ti. Deito a cabeça no colo da noite para te ver passar. Recortada, à frente da lua, desfilas um rosário de promessas de sol. Silhueta de luz fosca, paleta de pretos que não chegam a cinza e tu, serena, vais passando levando a brisa contigo sendo a brisa quem te arrasta.

Choveu ainda não fez um dia. Choveu devagar. E molhou-me as ideias e limpou-me a cara. Pelo corpo abaixo, em cada ruela de braços e pernas e tronco, choveu. A água levou tudo o que podia. Levou-me as ideias que tinha para amanhã.
Deixou-me.

E por mais que procure palavras novas são sempre as mesmas.
E por mais que procure palavras novas são sempre as mesmas.
E por mais que procure palavras novas são sempre as mesmas.
E não é que não procure com força, mas são sempre sempre as mesmas.
Sou sempre eu nesta mesma posição: de cara virada ao mar com a lua a bater-me nos olhos.
Sou sempre eu aqui ao fim de um dia que já é princípio de outro. Volto amanhã ou será que é já hoje?
Volto ou não volto? Volto?
Hei-de voltar. Se ao menos conseguisse arranjar uma palavra nova então voltava mais depressa. Se ao menos conseguisse outra posição – mas não dá jeito para escrever.
Se ao menos não fosse eu aqui.

3 comentários:

Escondida em mim disse...

Por vezes temos dias assim.
Há dias em que me sinto cansada do trabalho, da vida que levo, da intensidade, da urgência que requer tudo para ontem.
Tantas vezes resta tão pouco tempo para mim, e tudo acaba por ser tão banal... :(

Beijinho

Caracóis disse...

Para que queres palavras novas se amas tanto as que sabes, se não poderias viver sem as que tens no teu reportório e se o uso que fazes delas dá um resultado tão bonito?

Marie Louise de L'Enfer disse...

gostei muito, tanto da imagem como do texto