domingo, agosto 20, 2006

Lisboa tem mais cor do que parece


Lisboa parece outra. Diferente da cidade dos dias da semana. Há menos pessoas, menos carros, menos barulho.
Parece que avançou e deixou toda a gente para trás. Parece parada a pensar na vidinha dela.
Ainda assim, aqui neste meu canto as coisas são sempre diferentes. Nesta zona da cidade mais urbana, mais trendy e mais fashion, a paisagem acaba sempre por ser diferente. Diferente do resto da cidade e diferente de tudo. O que aqui existe só existe aqui.
Cá em baixo, virado de frente para a Rua Garret como quem dá as boas vindas a quem desce, o edifício dos Armazéns do Chiado observa, sereno e abre as suas portas ao melting pot que o Chiado também é.
A descer vem a “menina” da Bad Bones; uma mulher de cabelo encarnado com 50 e tal anos, tatuada dos pés à cabeça, dizem – que há partes que não se vê e eu também não tenho grande curiosidade - 3 betos de camisinha Tommy, calcinha de pinça da Gant e mocassin Sebago do El Corte Inglês.
Mais à frente 2 gays de camisolita de alças e calça descaída – e não era preciso tanto rapazes! -e um executivo ao telefone com ar de quem dá ordens de compra em Wall Street mas que muito provavelmente está a dizer ao mecânico que se calhar é melhor carregar a bateria mais uma vez que aquilo ainda aguenta porque ele tem um primo que fez mais de 300 mil quilómetros com um Punto de 87 e a bateria foi carregada vezes sem fim.
Um pouco mais abaixo, 3 caixas do balcão do Totta da R. do Ouro e mais 3 tias com saquitos da Zara metidos dentro de outros da Hermès e da Paris em Lisboa.
Mais um maluco a falar sozinho e a andar às voltas.
E mais um músico de viola no colo a embalar esta gente toda com bossa nova.
Atrás, 3 putos do IADE e 3 miúdas da ESBAL com os cadernos de desenho A3 debaixo do braço.
Paradas no cimo da R. do Carmo, 2 miúdas estrangeiras com ar de quem está ali numa pensão da R. Augusta e que à noite quando se deitam pensam sempre: será que ela vai tentar alguma coisa. Eu até era gaja para experimentar. Pronto, assim naquela de estou de férias e longe como o caraças de toda a gente e aqui ninguém nos conhece e era só uma vez e era um segredo só nosso e já não morria estúpida!
2 boiolas com 60 e tal anos que disseram às mulheres e aos filhos lá em Munique que vinham a uma reunião de negócios em Lisboa, decidiram sair do armário e andam agora de mão dada a tirar fotografias ao pé das Vacas da Cow Parade com as suas peuguitas brancas enfiadas nas sandaluchas.
A entrar, 2 actrizes riem e conversam.
E logo a seguir, uma jornalista bem conhecida caminha com os olhos no chão escondidos pelas lentes esuras dos óculos.
Quais semáforos, 2 punks com crista às cores atravessam a rua.
Cruzam-se com os taxistas que param em frente ao Hotel do Chiado e cruzam-se com 2 caramelos com aquele ar de que se aparecessem numa rua deserta às 3 e meia da manhã, eu era gajo para dar meia volta e acelerar o passo.
No passeio, 3 agentes da Policia Municipal em patrulha motorizada e poucos metros acima destes, 4 homens com ar de quem parou a obra um bocadinho para ver “o ambiente” e não consegue deixar de olhar para as 2 bifas da pensão. Para elas e para todas as outras que passam à volta – as cabeças perecem um radar.

Lá em cima - desilusão – um casal perfeitamente normal.


O chiado é isto e é isto todos os dias.
Tem muita cor esta cidade. Muita cor mesmo. Muito mais cor do que aquilo que parece.

3 comentários:

Lígia disse...

adoro Lisboa, concordo contigo, o Chiado tem cor, pena é que por vezes não se note. Beijocas

Domingos Patena disse...

Boa descrição
Parabéns

Ana disse...

Vim agradecer as palavras que deixaste no meu cantinho e deparei-me com um blog humano e muito simpático.
Continua, parabéns :-)

PS: Lisboa também é a minha paixão :-)