sexta-feira, dezembro 23, 2005

Gosto Disto


Gosto disto
De escrever sem ser obrigadoPor prazer, por gozo, por deleite.
Puro deleite
Gosto de escrever assim sem ideias pré-concebidas
Sem pensar em nada e com cérebro a.........mil.

Gosto do frio, da casa quente.
De desligar o computador e ir para casa uma semana de férias.
Agora só volto para o ano.
Só para o ano.

Gozar a minha filha gozar com a minha filha.
Gozar os dias todos.
Olhar para ela olhar por ela


Sou feliz

segunda-feira, novembro 28, 2005

Um café

Já faz parte. Mas é daquelas coisas que sendo ritual não perde o prazer. Sou dos que gosta e não faz a coisa como desculpa para não fazer outra. Dir-se-ia que com este grau de assiduidade na prova seria um especialista, mas nem isso. Tomo um dos bons como um dos medianos. Maus é que não – que sabem mal. Ah e sem açúcar também não. Gosto muito de café e o da manhã a seguir ao pequeno almoço é absolutamente único.
Bom dia.

sábado, novembro 12, 2005

Old School

Ando aqui a ruminar uma ideia para um tratado sobre Old School. O termo já não era novo, mas nas Bahamas ouvi um tipo que fazia stand up falar sobre o tema. E é muito sobre todos nós, os trintões. Um dia deste desenvolvo. Agora vou trabalhar, que o Pai Natal chega amanhã.

quinta-feira, novembro 03, 2005

La muñeca brava

Vivo dentro de uma novela mexicana com dobragem sem sincronia. Sou do lado dos pobres mas bons e começo a ficar farto desta merda. Estou farto de dizer que isto podia ser mais simples se as pessoas fossem mais simples. Mas não são. E tanta confusão começa a dar-me cabo da cabeça e da paciência. Há os que eram os maiores e que são afinal uns filhos da puta, há os bons que afinal não são assim tão bons, os maus que serão sempre maus e os maus que afinal não são tão maus como os pintam. Há ainda personagens secundárias que passam despercebidas sem que lhes descubram as falhas, os que se aguentam como podem, os encornados, os traídos, os sentimentais bacocos e os que pura e simplesmente nem deviam fazer parte do enredo. Há os revoltados silenciosos que passam os dias a dizer qualquer dia lhes salta a tampa mas que o argumentista já deixou provado que nunca acontecerá. E depois há os outros todos que em círculos mais ou menos certinhos deambulam e gravitam por aí. Que história merdosa esta que vivo todos os dias.

Pedras Pretas

Vou escrever um poema numas pedras da praia. Cada pedra uma palavra. Vou escolher palavras bonitas que me façam lembrar de vocês e depois de escritas, não importa a ordem. As pedras todas num monte que se possa ler de cima para baixo ou de baixo para cima; da esquerda para a direita, ao contrário ou sem ordem nenhuma. Pedra após pedra palavra após palavra. E nesse monte de pedras pretas cada letra branca há-de ter um brilho especial. Primeiro da tinta que há-de brilhar por si e depois das pedras por serem pretas. Não sei se arranjo pedras suficientes para escrever. Porque quando penso em vocês são muitas as palavras. Se arranjar escrevo. E ponho todas num monte para me lembrar de vocês.

quarta-feira, novembro 02, 2005

O dia errado do blog

Ontem, feriado, estive a trabalhar. Melhor, estive no escritório. E com algum tempo que tinha, tinha muito para dizer. Raios parta o Blogger que decidiu empancar e não me deixou fazer nada.
Hoje que tenho muito que fazer já isto anda sem atrito.

terça-feira, novembro 01, 2005

Bic Cristal

Atravesso a ponte como todos os dias em que venho trabalhar. E hoje vim trabalhar. O céu que parece menos carregado do que realmente está deixa ver tudo à esquerda até à Vasco da Gama. À direita, uma regata que começa em Belém leva, o que daqui parecem pequenos barquinhos, para uma tarde bem passada. Mas se o cenário desta travessia me agrada, deixar a minha filha em casa não. Fica bem – fica com a mãe – e vai passar a tarde toda a brincar, a rabujar, a dormir a sesta e a fazer tudo o que se faz aos 20 meses. É capaz de chamar pelo “papá” duas ou três vezes mas há-de passar-lhe. A mim não. Não passa esta coisa de ter que vir trabalhar e deixá-las em casa. Queria lá estar. Aproveitar estes fins de semana que são, em boa verdade, os únicos dias em que consigo estar mesmo, sem ser como de 2ª a 6ª, entre as 7 e meia e a nove e meia, por entre banho, jantar e pouco mais de meia hora de brincadeira pura.
Irrita-me ter que sair às escondidas para ela não ficar a chorar, mas prefiro que não chore.
Dá-me cabo dos nervos ter que ficar aqui até às 8 da noite à espera que nada aconteça para finalmente, e já de noite, atravessar novamente a ponte em direcção ao norte para abrir a porta e ver a pin pin correr pelo corredor até se aninhar nos meus braços e gritar “paaaaaaaa páááááááá”.
Ainda faltam 7 horas para isso acontecer.
E enquanto aaui vou ficando, vou largando pela ponta da bic o que me vai na alma.

domingo, outubro 30, 2005

Está tudo tratado

Andava triste já há um tempo. Tanto, que nem conseguia precisar muito bem desde quando sentia essa nuvem pesada e negra sobre a cabeça. Esse desalento quase mortal de tanto que lhe entorpecia os membros. Fazia a sua vida normal de todos os dias e todos os dias pensava que um dia tinha acordado assim, mas não sabia bem porquê. Sabia que de um dia para o outro se tinha dado conta que já não havia paixão, namorada ou amigos. Da família sabia muito pouco e um telefonema de mês a mês bastava para saberem que ele estava (bem). Ele "estava" simplesmente mas a sua tia distante no raciocínio e nos quilómetros que os separavam tinha como “estar bem” ouvi-lo apenas. E ele fazia-lhe essa vontade.
O dia começava cedo – por volta das 7. Acordava, tomava o seu banho e barbeava-se. Vestia o seu fato escuro, a camisa branca e a gravata azul e saía de casa em direcção à estação. Chegava regra geral, 2/3 minutos antes do sonoro apito do combóio e nessa altura, lá se perfilava na quinta pedra preta a contar do 3º banco. Esse era o local que o colocava exactamente junto à 1ª porta da 2ª carruagem. E nada disto era feito com método. Era apenas o hábito e o apito que o impeliam para aquela pedra qual teoria de Pavlov. Aos bons dias envergonhados dos companheiros habituais de carruagem acenava com a cabeça sem abrir a boca. A viagem demorava pouco menos de 20 minutos e a caminhada até ao edifício da seguradora onde trabalhava mais 10. Entrava de olhos colados no chão, despia o casaco e afundava-se nas centenas de processos e papeis e carimbos que o emolduravam na secretária vazia de vida. Aos telefonemas respondia com cortesia mas sem um sorriso que se sentisse na sua voz. Ao meio dia e meia, saía sem aceitar convite algum que lhe fosse feito para almoçar. Mas almoçava, sozinho, metido no meio de um prato do que estivesse a sair. Essa era a sua ementa. E a sua vida. Tudo o mais rápido possível para poder ir para casa, descalçar-se, despir-se e sentar-se em frente à televisão horas e horas a fio. Não havia um objectivo, uma meta, um prazer. Um sorriso. Nada na sua vida o faria abrir a boca para esboçar um ar mais leve.
E foi assim, até um dia ser encontrado em casa, sentado no sofá, com a televisão ligada. Nem vizinhos nem ninguém dera pela sua falta, não fora o chefe do serviço achar estranho que alguém que nunca em vinte e dois anos de serviço tinha chegado atrasado, tivesse um dia faltado. Isso e a estranha arrumação da sua secretária, sem papeis, sem canetas, sem mácula. Limpa como nova e uma nota apenas num post-it amarelo “Está tudo tratado”.

sexta-feira, outubro 28, 2005

O Natal está à porta, alguém é capaz de abrir?

O natal já chegou – pelo menos aqui. As grinaldas estão penduradas, as fitas já decoram o edifício e as luzes, estrelas e demais adornos estão quase quase no sítio. O que na verdade é uma merda. Tanta decoração e preparação fazem com que, chegada a verdadeira época natalícia, já não possa ver árvores, estrelas, presépios e tudo o que tenha minimamente a ver com o Natal. Não me apetece o bacalhau, o cabrito, os doces típicos, o caraças. Ainda por cima o ano passado no dia 24 fui mais cedo para dar uma ajuda em casa na preparação da consoada e fiquei sem gasolina no meio da auto-estrada. Paguei €35 por 5 litros de gasolina que quase não davam para chegar à bomba e quando finalmente entrei em casa, já estava toda a gente à mesa à minha espera. Foi bom foi. Foi muito agradável. Agora que o Natal está à porta, alguém é capaz de abrir?

quinta-feira, outubro 27, 2005

Saudades de Nova Iorque

Tenho saudades de Nova Iorque. Tenho saudades das ruas cheias de gente a toda a hora e do fumo denso que o chão cospe. Tenho saudades do cheiro agri-doce do pronto-a-comer na esquina da nossa rua. Tenho saudades de Central Park e dos esquilos e dos cães que passeiam os seus donos. Tenho saudades dos prédios e dos passeios; dos carros que só aparecem nos filmes e das bandeiras às janelas. Tenho saudades do ar despreocupado com que toda a gente anda. Tenho saudades de ir às compras e ver coisas que ainda não há cá. Tenho saudades de olhar para o céu e ver janelas que dão para o chão em edifícios impossíveis de desenhar que cresceram na cabeça de um arquitecto qualquer. Tenho saudades da ponte de Brooklin que amo desde sempre. Tenho saudades do Chrysler que amo desde sempre. Tenho saudades do Flat Iron desde sempre. Tenho saudades de Nova Iorque. Desde sempre.
dia 2 de escrita normal.
O dia amanheceu como se o mundo fosse acabar. Acordei, preparei o biberão da minha filha e fui tomar banho. Voltei e a pim pim já estava acordada.
Olhar para aquela cara e aquele sorriso maravilhoso escondido por detrás da chucha fez nascer o sol. Depois, o abracinho e o "papá" prolongado deu ao meu dia uma luz tal que ainda não consegui tirar os óculos.

quarta-feira, outubro 26, 2005