Atravesso a ponte como todos os dias em que venho trabalhar. E hoje vim trabalhar. O céu que parece menos carregado do que realmente está deixa ver tudo à esquerda até à Vasco da Gama. À direita, uma regata que começa em Belém leva, o que daqui parecem pequenos barquinhos, para uma tarde bem passada. Mas se o cenário desta travessia me agrada, deixar a minha filha em casa não. Fica bem – fica com a mãe – e vai passar a tarde toda a brincar, a rabujar, a dormir a sesta e a fazer tudo o que se faz aos 20 meses. É capaz de chamar pelo “papá” duas ou três vezes mas há-de passar-lhe. A mim não. Não passa esta coisa de ter que vir trabalhar e deixá-las em casa. Queria lá estar. Aproveitar estes fins de semana que são, em boa verdade, os únicos dias em que consigo estar mesmo, sem ser como de 2ª a 6ª, entre as 7 e meia e a nove e meia, por entre banho, jantar e pouco mais de meia hora de brincadeira pura.
Irrita-me ter que sair às escondidas para ela não ficar a chorar, mas prefiro que não chore.
Dá-me cabo dos nervos ter que ficar aqui até às 8 da noite à espera que nada aconteça para finalmente, e já de noite, atravessar novamente a ponte em direcção ao norte para abrir a porta e ver a pin pin correr pelo corredor até se aninhar nos meus braços e gritar “paaaaaaaa páááááááá”.
Ainda faltam 7 horas para isso acontecer.
E enquanto aaui vou ficando, vou largando pela ponta da bic o que me vai na alma.
1 comentário:
Escreves com uma ternura viciante... (sim, sim, estou a ler....)
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