Estou cansado do futuro adiado e do banco hipotecado.
Dos fundos mal geridos e dos poços secos e feridos.
Estou cansado de não ver o sol a fazer brilhar os seus olhos grandes e os seus dentes brilhantes.
Estou cansado da má gestão e da sempre e autista politica de intervenção.
Da questão sindical e das greves no hospital.
Estou cansado do nuclear pacifista num reactor comunista. Do comunista mal amado que em que se tornou o capitalista estado. Estou cansado da globalização e da reacção que provoca. De ver na Suécia uma manifestação com uma marcha feita em sola de borracha do Paquistão.
Estou cansado do terrorismo assumido, da bomba inaudível que mata milhões. Estou cansado de túneis profundos e de falsificação de neutrões. Estou cansado das nacionalizações e das anunciadas recessões.
Do genoma humano descodificado que não é capaz de curar a doença que me tem atormentado.
Dos clones de ovelhas e de partes de ratos que não garantem mais amor nem sapiência, nem menos dores a quem sofre maus tratos.
Estou cansado dos artistas boémios, rebeldes, pertinentes e cheios de paixão que dão 2 gritos no escuro e fazem disso uma intervenção.
Estou cansado da novidade que se anuncia como a viragem que tem que ser feita e do presidente que há-se ser a cura da próxima colheita.
Estou cansado de concursos que premeiam a pequenez humana e dos outros que dão dinheiro às fatias a quem come numa hora o que muitas crianças não comem em dias.
Da escalada de violência que nos consome e da violência que se ignora de quem tem fome.
Estou cansado da corrupção com desmantelamento anunciado num juízo adiado.
Estou cansado da notícia pequenina que ninguém lê e de quem nunca pergunta porquê?
Estou cansado dos analistas que têm sempre opinião e nunca gritam: acção.
Do D. Sebastião – o da esquerda ou o da direita - que nunca se há-se chegar à frente enquanto a crise estiver à espreita.
Estou cansado dos tablóides que colocam na capa quem nunca disse nada de jeito porque queria meter a mulher e a sogra no leito.
Estou cansado das sensibilidades mal geridas, das pessoas que são falsas e quase quase sempre, “emocionalmente feridas”.
Estou farto das histórias tristes que fazem chorar as pedras da calçada e da felicidade propositadamente adiada.
Estou cansado das carpideiras.
Do choro fácil e soluçado numa falta de protagonismo ensaiado.
Estou cansado de me doerem os olhos quando vejo o que não quero. Do que sofro quando não dou tudo que tenho e me escondo atrás das sombras de um objecto estranho.
Estou cansado de ouvir banalidades amplificadas pelo poder de quem nunca soube o que era aprender.
Estou cansado que ver passar por mim as mesmas caras sombrias que nunca se abrem para dar os bons dias.
Estou cansado de Forças de Manutenção de Paz pela contradição que este nome trás.
Das armas inteligentes criadas por grandes mentes.
Dos génios oprimidos que criam novos comprimidos.
Estou cansado do investimento em botox e em cosmética que não ajuda os que esperam na fila por uma fatia de pão numa embalagem hermética.
Das experiências médicas mal sucedidos onde não se dá conta quando se perdem vidas.
Estou cansado do domínio etéreo da televisão e de quem não pensa numa solução.
Estou cansado.
E então eu pergunto: quanto custa ser feliz?
1 comentário:
não fiquei cansada de o ler. não sei qual seria o teu estado de espírito antes de o escreveres, mas certamente que depois era mais...descansado! gostei! directo, certeiro, interessante. gosto das rimas e da força das mesmas! keep going!
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