É sem sentido esta coisa de sentir.
Sensações que tenho e que sinto em mim.
Sento-me e sinto-me sozinho.
Sofrido e suado de pensar.
Porque há feridas que não saram.
Sentidos que esvoaçam.
Sons que soam sonoros no meu cérebro.
Mas em silêncio.
Se eu soubesse que sofrer seria assim.
Se eu tivesse visto.
Saio de mim por um pedaço de tempo e sem querer, sou só eu.
Sorvo as lágrimas e subo ao mais cimo dos cimos.
Sussurro só para me lembrar de não me esquecer .
Dou-te um beijo e despeço-me das sombras. Os dois somos um. É só um.
Dá-me um sorriso. Dá-me um sabor bom num beijo sôfrego. Dá-me um som de prazer. Serena, sossega. Segura em mim. Para sempre.
sábado, dezembro 30, 2006
Para 2000 e Sete
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
domingo, dezembro 24, 2006
Boas Festas On Tour
Os filhos de pais separados têm um Natal diferente dos outros.
Os filhos de pais separados sofrem nesta altura de um problema que é não terem o dom da ubiquidade. Não temos, pronto, mas dava jeito se o tivéssemos.
Quando somos pequenos, dividimo-nos – obrigatoriamente – pelos almoços e jantares sucessivos de véspera, almoço do dia de Natal, jantar do dia de Natal, lanche do dia de Natal, enfim, uma tourné de farta comezaina e prendas até mais não. Mas isto é quando somos pequenos.
Quando somos grandes, a coisa piora. Porque temos vontade própria, porque este ano não me apetece andar de um lado para o outro mas lá vai ter que ser, porque isto ou muitas vezes – e isto é muito frequente – porque aquilo.
Depois de sermos grandes, somos finalmente adultos, juntos com uma mulher que também tem família e que – é preciso procurar muito mas com um bocadinho de trabalho encontra-se – também é filha de pais separados. Dobra a parada. 4 conjuntos de pais para duas pessoas. É muita fruta – para não dizer que é como o Super Sumo dos Gato Fedorento.
E se durante alguns anos conseguimos gerir a coisa, ferindo uma susceptibilidade aqui, uma susceptibilidade ali, quando temos filhos a coisa piora. Oh lá se piora. Agora não somos nós o centro das atenções, são os nossos filhos. É a Pim Pim que é desejada e querida e adorada por todos os avós – os legítimos e os postiços (que para mim também são avós).
Acontece que há sempre alguém a ficar pendurado e necessariamente, mais do que um ano seguido. Pendurados, mas para as grandes ocasiões – que são 3; a saber: jantar de Natal, Almoço do dia e jantar do dia. É assim que tecnicamente se designam os repastos da época.
E isto levanta uma série de problemas a quem, como eu, de contabilidade conhece o T e 2 ou 3 noções. Fraquinho, portanto.
E por norma, dá merda.
“Ah, porque o ano passado não vieste cá” e o outro “Ah porque já é o 3º ano que não jantas na véspera” e outro ainda “Ah – e começam todos sempre por Ah – porque eu gostava de ver a Pim Pim na noite de Natal”. Irra.
Não é fácil.
Se somarmos a isto o meu irmão – filho do 2º casamento da minha mãe que, surprise surprise, é filho de pais separados, está o caldo entornado. É mais um que tem que gerir a sua agenda de Natal para jantar com o mano, ou almoçar com o mano, ou – como este ano – ver o mano ao almoço de 30 de Dezembro.
Afinal de contas, até aos Reis ainda é Natal não é?
terça-feira, dezembro 19, 2006
Era assim
Acertavam as agendas – aquelas duas mulheres com vida a depender de alguém – e marcavam o dia. Um dia qualquer do meio de Dezembro. Era um dia especial, aquele de fazer os doces e os fritos e as delícias todas que só as avós sabem fazer. E naquele dia viravam a cozinha do avesso. Farinha na bancada de pedra, a mesa ao centro pronta a receber ingredientes – antes - e resultado final – no fim. Garrafas de óleo, alguidares e um tacho enorme e largo de barro. Colheres de pau, ovos, farinha e mais farinha. Rolo de amassar, e aquele instrumento com a roda irregular que servia para abrir a filhó.
Era uma labuta de um dia inteiro e eu gostava.
Ia com uma avó para casa da outra e os mimos eram todos meus. Ajudava – desajudando – e fazia parte. Os doces também eram meus. Rapava os tachos, lambia as colheres e amassava a massa. Ajudava aqui e ali e no fim, a provar todos os doces.
Era eu ali naquela cozinha. Com as minhas avós que ainda tenho mas que já não fazem doces. Estão velhotas, longe de mim e aqui tão perto. Estão longe da minha vida de todos os dias e sei que um dia ainda vou ter saudades. Já sinto a falta desses dias de Dezembro. Desses dias de fazer doces.
Dessas mulheres cheias de força que hoje, são uma sombra dessas tarde frias.
Era assim que o meu Natal começava a saber a Natal.
sexta-feira, dezembro 15, 2006
De
De amor: quero, sempre, os dois, nós, um só, quente, ainda, lembras-te?, o primeiro beijo, o primeiro olhar, o primeiro, os dias, as noites, quero-te, amo-te.
De raiva: larga-me, cala-te, deixa-me, sai, nem consigo olhar para ti, não tem graça, não tens graça, ridículo, que figura, que tristeza, que retrato tão pobre de ti próprio.
De carinho: dou-te um beijo, abraça-me com força, chega-te a mim, faço-te uma festa, olho para ti, sinto-te, pego-te na mão, dou-te a mão, guia-me, escrevo para ti.
De paixão: quente, sentes?, toca-me, toca-te, dá-me um beijo, provo-te, sinto-te, agarro, aguento, aguenta, força, suo, aquela música de Vanessa Daou, leva-me, abre a janela, puxa o lençol.
De ódio: mato-te.
São só palavras soltas de associação directa entre o cérebro e a alma. Palavras de letras pequenas, de gritos largados na noite, num dia, aqui ou em qualquer pedaço de terra. Palavras de querer dizer e não sair e ficar a sentir a explosão na boca (-9), palavras de querer sentir sem deixar a razão tomar conta de nada. Palavras. São só palavras.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
quinta-feira, dezembro 14, 2006
Hoje vai
Há 3 dias que ando a pensar que quero escrever sobre o meu filme azul. E agora vai. Queria fazer um filme azul; fresco como as manhãs, doce como um beijo, quente como tu.
Um filme em película da boa, com qualidade, com garantia e selo de inviolabilidade. Um filme cheio de grão – de cafés – de fumo – nos planos largos – e de música – baixinho mas lá.
Queria fazer este meu filme pelas ruas da cidade. Queria mostrar tudo sem mostrar nada. Dar a ideia de uma rua, de uma luz, de uma pedra. Dar a ideia. Deixar que tu visses tudo e descobrisses o resto – que o tudo tinha que ser pouco.
Queria fazer um filme às cores. Esbatidas do sol sem ser gastas. Pastel sem ser mortas. Pinceladas largas na tela de projecção. Cores e mais cores. Pontos de luz atrás uns dos outros. Sai preto, entra azul e sai e vem vermelho. Tudo assim milhões de vezes por segundo num bailado suave.
Queria fazer um filme curto como a vida. Uns anos de película a serpentear pelo chão. Queria ser realizador, guionista, produtor e assistente – sempre me dou uma ajuda. Queria fazer este filme numa noite. Pelas ruas, pelas estrelas.
Queria agarrar nesta ideia e dar-lhe nexo mas a única coisa que parece fazer sentido são estes flashes que os meus olhos vêm.
Não vendo a ideia a ninguém mas eu compro para mim. Se calhar fica guardada no meu arquivo morto aqui do sótão. Mais ideia menos ideia; não é de certeza isso que me vai deixar passar a linha.
Hoje foi, mas se o tivesse posto aqui há 3 dias tinha saído melhor. O filme já não é o mesmo. Aliás, nunca é, mas não posso parar a cada vez que surge uma ideia.
Se calhar devia – assim não ficava com este gosto amargo na boca de que não era bem isto e ontem estava melhor. 3 dias é muito tempo para encubar coisas simples. E as minhas ideias são simples, são básicas. São coisas de sentir e isso, toda a gente sabe o que é.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
terça-feira, dezembro 05, 2006
Já tinha saudades de vir aqui
Já lá iam uns dias grandes como o vento que tem soprado. Já as velas enfunavam rumo ao frio mais frio e eu sem escrever.
Foi uma semana proibida. Difícil. Um documento – o documento – com prazo intransponível, inadiável. Com os tempos de produção a esmagarem os dias do princípio e do fim uns contra os outros.
Por fim lá saiu. E está bonito até.
Na cabeça de sempre as ideias do costume. A pim, o pingente que aí vem, a mãe dos dois, o mar de manhã e à noite. O Chiado à chuva e ao sol. O Natal de T-shirt no corpo.
E ao mesmo tempo, tantos marcos importantes. O primeiro trabalho para a escola no papel de “pai”. As palavras e as frases novas como “vamos fazê uma ideia” ou o “vamos fazê achim ‘tá bem?”.
O articular de novas expressões é diário.
Os raciocínios são novos sobre coisas simples que naquela cabeça pequenina parecem fazer tanto e sempre sentido.
A cama nova grande. O descobrir do espaço. O vou domi’ antes de jantar com um livro na mão para v(l)er na cama. Os puz’es cada vez menos complicados de levar até ao fim e eternamente os desenhos. A mão e o traço mais firmes. Mais linhas e menos rabiscos. Contornos (é a última das últimas). E as histórias inventadas, os personagens. O Rod’igo que agora é “o meu Rod’igo”.
O lobo mau – sempre ele – que arca com tanta desgraça que chego a ter pena do bicho e a achar que se calhar não é assim tão mau como isso.
E o tanto que isto vale.
Os dias vão passando assim por mim, e eu aqui, a acenar-lhes como a uma regata de horas boas, seguindo umas atrás das outras.
Foi uma semana proibida. Difícil. Um documento – o documento – com prazo intransponível, inadiável. Com os tempos de produção a esmagarem os dias do princípio e do fim uns contra os outros.
Por fim lá saiu. E está bonito até.
Na cabeça de sempre as ideias do costume. A pim, o pingente que aí vem, a mãe dos dois, o mar de manhã e à noite. O Chiado à chuva e ao sol. O Natal de T-shirt no corpo.
E ao mesmo tempo, tantos marcos importantes. O primeiro trabalho para a escola no papel de “pai”. As palavras e as frases novas como “vamos fazê uma ideia” ou o “vamos fazê achim ‘tá bem?”.
O articular de novas expressões é diário.
Os raciocínios são novos sobre coisas simples que naquela cabeça pequenina parecem fazer tanto e sempre sentido.
A cama nova grande. O descobrir do espaço. O vou domi’ antes de jantar com um livro na mão para v(l)er na cama. Os puz’es cada vez menos complicados de levar até ao fim e eternamente os desenhos. A mão e o traço mais firmes. Mais linhas e menos rabiscos. Contornos (é a última das últimas). E as histórias inventadas, os personagens. O Rod’igo que agora é “o meu Rod’igo”.
O lobo mau – sempre ele – que arca com tanta desgraça que chego a ter pena do bicho e a achar que se calhar não é assim tão mau como isso.
E o tanto que isto vale.
Os dias vão passando assim por mim, e eu aqui, a acenar-lhes como a uma regata de horas boas, seguindo umas atrás das outras.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
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