sexta-feira, junho 25, 2010

Chegou o Verão no calendário.



Chegou o Verão no calendário.
Trouxe novas nuvens sob o mesmo sol. Um calor bom e um barco no fundo do mar.
Trouxe os incêndios que ardem nos dias de sempre e queimam os olhos com o fumo quente.
Chegou o Verão do futebol. Da selecção de todos nós em que ninguém acreditava. Do futebol espectáculo da América do sul. Do pragmatismo da Europa central, das surpresas africanas e das desilusões e vergonhas gaulesas e italianas.
Chegou o Verão com o mar vermelho pintado de negro e de “amarelo-crise” o mediterrâneo. Das praias cheias de gringos e sem chumbo 95.
Chegou o Verão dos dias mais longos. Do sol até mais tarde. Da lua até mais não.
Chegou o Verão da roupa fresca de linho em casa, da água fresca no corpo; dos banho de água fria; da água.
Chegou o Verão da cabeça quente. Das discussões suadas pela manhã. Das ideias parvas. Dos almoços adiados na esplanada frente ao mar. Dos barcos no rio sem vento p’ra andar.
Chegou o Verão das saudades de casa. Das tardes na relva e da sardinhada.
Chegou o Verão de parar um bocado. Das férias mais perto e do tempo adiado.
De aproveitar para almoçar demoradamente, beber 2 copos de sol, comer 2 nacos de tempo e esperar que chegue a noite. Sempre.
Chegou o Verão de encontrar espaço para quem se gosta. De perguntar porquê mesmo que não haja resposta.
Chegou o Verão há 4 dias mas estamos mais moles e mais moles é mais lentos e se me desse na cabeça, era capaz de escrever isto lá para Setembro.
Depois do Verão, verão que nada mudou.

quinta-feira, junho 17, 2010

Do que passou a correr




Do acordar antes da hora que o corpo quer. Do despertar à força. De abrir os olhos com os dedos porque de outra maneira, fecham-se num sonho qualquer.
Do entrar no duche ainda a dormir e sair ainda mal acordado. Do me arrepender cada dia das horas perdidas que deveriam ser passadas na cama.
Dos beijos que se dão de manhã. Das festas e cócegas. Do passar a mão pelos cabelos dela. Do enrolar os dedos nos caracóis dele.
Do sentir novo de a deixar sair debaixo da asa. Do sentir saudades ainda com ela à vista. Do deixar ir por uns dias.
Do sol que lhe sabe bem. Do quanto sei que vai rir.
Do que ele gosta da praia. Do que ele corre na praia.
Do voltar atrás. Do pequeno almoço à pressa fora de horas.
De uma manhã perdida na estrada. De uma tarde perdida em nada. Dos sorrisos.
Do pensar no 28, na volta que dá e no que alguém vai descobrir amanhã.
De uma Masterclass que foi uma feira de vaidades. Da ausência de conteúdo e de novidades.
Dos amores que não se vê um dia inteiro. De uma voz que não se ouvia há muito.
Das saudades da Pim que me faz falta ver. Das saudades do Digos que quando chegar vai estar a dormir.
Das histórias escabrosas sem planeamento. Da ausência de estratégia.
Do bater na mesma tecla. Do jantar ao frio sem sair do lugar.
Das pessoas que não se vêm todos os dias mas que sabe bem ouvir. De rir.
De falar no mesmo grupo 3 línguas diferentes. De fazer o frete porque tem que ser.
De ir a correr.
Dos caprichos.
De uma viagem de metro por duas estações. De Lisboa à noite sem distracções.
Dos beijos que faltam e que já não vou ter. De olhar para ele mais tempo e mais tempo. De lhe fazer festas até quase acordar. De lhe dar beijos sem som mais beijos e beijos.
Da vontade que tinha de aqui vir escrever.
Do Manuel João no Maxime a cantar. Do Miguel Guilherme a sair para jantar.
De pensar que amanhã poderá ser melhor.

De chegar a casa sem ter feito nada.
Do que o dia foi feito desde a noite passada.

segunda-feira, junho 07, 2010

Um olho em Londres




Pelos passeios rampeados é mais fácil levar o carrinho de bebé e é mais fácil levar o carrinho de bebé quando se anda com 2 miúdos. Ela com 6, ele com 3. É verdade que se o carrinho fosse maior até o sénior lá tinha andado mas assim, alternava entre “agora sou eu” e “a mana vai sempre no carrinho” depois dele lá ter passado meia manhã, uma sesta, uma maçã e meio litro de água.
Passámos 4 dias de rua, ou melhor, 3 de rua e um de Legoland. Mas a rua foi melhor – para os crescidos pelo menos que quando os mais pequenos tiverem m blog escreverão sobre o que quiserem.
Passámos 3 dias de ponta a ponta da cidade que conhecemos mas que nunca se conhece bem. Do London Eye a Notting Hill, de Convent Garden a Kensignton Gardens.
Tudo de manhã à noite. Tudo, ou quase quase tudo a pé.
E mesmo com as trocas e as reclamações quanto à posse do carrinho, os meus filhos são os melhores companheiros de viagem do mundo. Cansados, fartos de andar, basta um jardim para repor os níveis de energia.
Para mim, fica a nova velha cidade de sempre. As novas velhas culturas. As novas velhas pessoas. As ruas que não mudam.
Fica Portobello Road com o mercado de Sábado de manhã e Convent Garden com milhões de pessoas Sábado à tarde. Fica a vontade de olhar para tudo vezes sem conta porque à segunda, há uma segunda visão sobre o mesmo olhar.
Há sempre mais. Mais diferenças, mais ruas, mais becos, mais carros, mais pessoas.
Há sempre mais.
Há uma insuspeita quinta-feira à noite com danças de salão num segundo andar. Mesmo em frente ao hotel. Mesmo em frente aos meus olhos. E consigo ver como as mãos deles seguram o par sem lhes tocar deliberadamente. É tango aquilo que se ouve. É música com sexo nas cordas da guitarra, nos acordes do piano e ainda assim. Não se tocam mais que a conta. Não se tocam mais que o tango. Que é muito menos que aquelas duas miúdas que pelos beijos, não se viam há mais um mês. Aquilo é beijos e abraços para mais de um mês. Aquelas mãos entrelaçadas não se tocavam há mais de um mês e quando passam por mim Ainda ouço: how was your flight?
Não sei se era do voo que a trouxe se do voo para os braços uma da outra.
Do outra lado do passeio 3 casais com filhos pela mão. Uma corredora que nos atravessa a todos em direcção a Hyde Park e um inevitável Fox Terrier que faz sempre lembrar um aspirador quando anda com o nariz no chão.
E ainda não acabei um cigarro.
Passamos pela rua manhosa antes de Notting Hill Gate e o cheiro a chicha que sai dos narguilés faz com que o Digos e Pim virem a cabeça. Isto cheira a qualquer coisa. Pois cheira. Vá. Olhem para a frente e sigam. E seguimos.
São 9 da noite. Os 27 graus dizem-nos que estamos noutro lado qualquer que não na cidade onde só choveu para nos dizer adeus. Parece que os ingleses descobriram agora as havaianas. É uma invasão de chinelo no pé e vestidos curtos que de certeza que estamos noutro lado. Afinal não. As cabines telefónicas e os táxis denunciam-na. É Londres mesmo.
Onde não cabe mais gente em lado nenhum mas há sempre uma “table for six”.
Seja no Nando’s, no Grill ou no Zizzi onde a Sandra, espanhola retinta me serviu uma Mela Crocante que passou à segunda colher a ser a melhor sobremesa do mundo.
Cabiam mais linhas aqui como mais olhares sobre a cidade. Como mais pessoas nas ruas, no metro ou lá em baixo.