quinta-feira, outubro 26, 2006
O ano passado era quarta
Faz hoje um ano.
Agarrei na Bic e desatei a escrever. Escrevi muito mas muito menos do que queria. Escrevi acima de tudo por 2 bons motivos – como no anúncio da Olá – por tudo e por nada. Escrevi alguns dias porque sim. Outros, porque não? Escrevi porque a pim pim sorria ou porque a pim pim chorava. Escrevi porque um dia amava ainda mais os dias e outro dia me apetecia mandar da ponte. E este foi um ano um bocado grande, um bocado doce e muito amargo. Foi um ano de ver a filha crescer e aprender e explicar-se cada vez melhor. Foi um ano de ver o que fazia e como fazia tantas coisas novas que a vidinha lhe ia oferecendo. Foi – claro que foi – um ano muito negro, muito duro, muito diferente. Foi um ano de chorar muito e pouco. Mas foi um ano de chorar.
E foi um ano de esperar o próximo bebé. Um mano para a pim pim.
Foi ano de mudar de vida.
E foi ano de mudar de emprego.
E de hábitos.
Acompanha-me este bloco de notas há exactamente um ano e não o quero perder. Nem as visitas que – regra geral – não conheço.
Quero continuar a escrever e quero escrever pelos motivos de sempre.
Porque a pim pim chora ou porque a pim pim ri. Porque fez isto ou até mesmo, porque fez aquilo. Porque continuo apaixonado como no primeiro dia e amo mais ainda do que ontem. Porque aquele beijo de bom dia foi diferente e aquele olhar matou-me de amor. Porque vai ser tão bom fumar um cigarro enquanto vejo a chuva cair no mar como olhar para as estrelas no verão deitado na rede.
Porque o Alentejo vai continuar a cheirar a férias e as noites quentes me vão tirar o sono e dizer para escrever só mais um texto, só mais uma linha, só uma palavra que seja que suou tão bem na minha cabeça.
Escrevo mais agora, por causa deste vício de escrever aqui.
Descubro-me – às vezes – a cada linha e abro o peito a cada ideia.
E mesmo assim não escrevo tanto como queria.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
domingo, outubro 15, 2006
Mais um
Mesmo quando o dia acaba – ali no final depois do mundo estar a dormir – agarro em mim e na cabeça cheia e deposito-a – serena – na almofada doce do dormir. Faço o balanço, meço e desmeço as horas de sono, prometo a mim que amanhã será melhor. Mas nunca é.
É sempre tarde para ir para a cama, é sempre cedo para me ir deitar.
Somos 2 na cama e na minha cabeça há sempre uma palavra a mais que não me deixa fechar os olhos. Sempre uma ideia. Um jogar de forças do que fiz bem ou fiz mal. Do que não fiz. E é sempre o que não fiz. O que ficou por dizer, por escrever. O que deixei solto num canto do dia e que amanhã já não vai lá estar. Há sempre mais um cigarro até nos dias em que não há mais. Posso fumar tantos numa noite como nenhum. E amanhã logo se vê no humor do dia. No bom dia de cada um. Nas noites mal dormidas de tanta gente mal amada e mal vivida. No que não disseram no dia que passou e que guardam para dizer nunca dos dias todos em que nada disseram. Parece mentira como de tantas bocas sai tão pouco.
Parece doença crónica de não dizer nada.
E todas as noites penso que não revelo fotografias desde o verão passado. Não edito um filme desde que a miúda nasceu.
A primeira vez que o disse foi quando peguei nela a primeira vez, mas continua a ser verdade que esta filha me ocupa o corpo todo.
É tanto o prazer de a ter e de a sentir que me quebra o raciocínio. Sofro de me sentir bem em cada abraço apertado. Não quero que saias do meu colo nunca. Tantas festas e tão doces. As tuas mãos pequeninas e os pés fora da cama.
Os dias que se apresentam com um chamar tão calmo. Os dias em que acordas com fome ou os que acordas com sono e te aninhas em mim ou na mãe.
Não sei se é dos meus olhos mas os meus dias são sempre bons.
É sempre tarde para ir para a cama, é sempre cedo para me ir deitar.
Somos 2 na cama e na minha cabeça há sempre uma palavra a mais que não me deixa fechar os olhos. Sempre uma ideia. Um jogar de forças do que fiz bem ou fiz mal. Do que não fiz. E é sempre o que não fiz. O que ficou por dizer, por escrever. O que deixei solto num canto do dia e que amanhã já não vai lá estar. Há sempre mais um cigarro até nos dias em que não há mais. Posso fumar tantos numa noite como nenhum. E amanhã logo se vê no humor do dia. No bom dia de cada um. Nas noites mal dormidas de tanta gente mal amada e mal vivida. No que não disseram no dia que passou e que guardam para dizer nunca dos dias todos em que nada disseram. Parece mentira como de tantas bocas sai tão pouco.
Parece doença crónica de não dizer nada.
E todas as noites penso que não revelo fotografias desde o verão passado. Não edito um filme desde que a miúda nasceu.
A primeira vez que o disse foi quando peguei nela a primeira vez, mas continua a ser verdade que esta filha me ocupa o corpo todo.
É tanto o prazer de a ter e de a sentir que me quebra o raciocínio. Sofro de me sentir bem em cada abraço apertado. Não quero que saias do meu colo nunca. Tantas festas e tão doces. As tuas mãos pequeninas e os pés fora da cama.
Os dias que se apresentam com um chamar tão calmo. Os dias em que acordas com fome ou os que acordas com sono e te aninhas em mim ou na mãe.
Não sei se é dos meus olhos mas os meus dias são sempre bons.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
terça-feira, outubro 10, 2006
Mão na mão
Quase a chegar a casa ouviu-se uma vozinha vinda do banco de trás: pai, dá a mão. Com a ginástica necessária - e já habitual - dei.
A mão pequenina enroscou-se na minha procurando os dedos para se segurar. Não havia máquina com milhões de pixeis suficientes ou câmara com película sensível o suficiente para retratar o que foi. É uma mão pequenina que procura na minha o conforto, a segurança. É uma mão pequenina que se agarra a mim. É aquela mão pequenina que todos os dias seguro quando saímos do carro, quando vamos para o elevador, quando a ajudo a subir para a sua cadeira ou, pura e simplesmente, quando ela quer. É uma mão igual à de todas as crianças mas esta procura na minha o que só esta lhe pode dar.
É uma mão pequenina numa mão grande. É aquele toque suave a deslizar por entre os meus dedos que me aconchega a alma e a conforta. A ela e a mim. E isto tudo só por ter a sua mão na minha. Deve ser mágica a minha pim pim.
quinta-feira, outubro 05, 2006
Na sombra da lua
"Estou de Alentejo" para este fim de semana maior que os outros. Sãõ férias depois das férias.
E no Alentejo o tempo anda mais devagar e estes 4 dias vão saber a 10.
Queria vir com a caixinha arrumada sem mágoas, mas as saudades são coisa dura de mandar embora e acabámos por fazer uns quilómetros de lágrimas penduradas nos olhos a ofuscar os máximos de quem vinha em sentido contrário.
É sempre bom vir para aqui mas por enquanto nunca é ão bom como já foi.
Valem estas estrelas e iluminar as nossas noites e os caminhos junto ao mar.
Valem as noites frescas de calções à lua e camisola quente no corpo.
Vale o silêncio.
E valem as memórias que por entre um choro mais contido lá deixam sair um sorriso e nos vão aconchegando e embalando.
E no Alentejo o tempo anda mais devagar e estes 4 dias vão saber a 10.
Queria vir com a caixinha arrumada sem mágoas, mas as saudades são coisa dura de mandar embora e acabámos por fazer uns quilómetros de lágrimas penduradas nos olhos a ofuscar os máximos de quem vinha em sentido contrário.
É sempre bom vir para aqui mas por enquanto nunca é ão bom como já foi.
Valem estas estrelas e iluminar as nossas noites e os caminhos junto ao mar.
Valem as noites frescas de calções à lua e camisola quente no corpo.
Vale o silêncio.
E valem as memórias que por entre um choro mais contido lá deixam sair um sorriso e nos vão aconchegando e embalando.
quarta-feira, outubro 04, 2006
Mais um Raio-X à cabeça.
Não sei se inato é o termo certo. Se é droga, vício. Necessidade talvez. Não sei bem explicar mas é uma vontade enorme esta que me dá de vez em quando. As palavras perecem acumular-se caixote acima. Uma e mais outra. E outra palavra e mais uma ideia. Vou escrever então.
.
.
.
.
Ideias que se vão formando por motivo nenhum. Pequenos momentos.
Pode ser o sol, o céu, o ar por cima de mim.
Pode ser uma fotografia que tentei tirar de Lisboa até casa sem nunca ter apanhado o ângulo que queria, a luz que queria e acabou por sair isto.
Era aquele vermelho sangue – mas do bom. Daquele que diz que o dia a seguir vai ser quente. Pode ser um semáforo vermelho que queria fazer funcionar para fazer parar o tempo e olhar... olhar infinatamente para lado nenhum. Só aquele tom vermelho. Só aquele azul celeste do fim do dia. Só eu.
Era uma hora de faz de conta que o dia acabou. De vamos embora para casa receber um abraço enorme de uns braços pequeninos e um beijo grande de uma mulher quase mãe outra vez.
Era hora do banho. Dos sorrisos e dos risos.
Da água quente que é quente e fria que é fria e que as duas juntas sabem tão bem. Hoje foi dia de tomar banho de pé como os crescidos. Como o pai e a mãe.
Ontem foi dia de ver o mano na ecografia e perguntar: e eu? Tu já aqui estás filha. E eu? E eu?
Não consegui articular um raciocínio a tempo porque ela fugiu a rir e aos saltos. Já estava noutra.
É este desejo de que a noite não acabe sem começar e não começe tão funda sem desligar a cabeça.
Este desejo grande de amontoar à toa palavras e mais palavras - que remédio doce este.
É este café surpresa em cima da mesa virada para o mar que me sabe tão bem.
É o cinzeiro que teima em não funcionar como quero e o feriado aí à porta.
É o fumo deste cigarro novo que me envolve como se o vento soprasse à minha volta menos aqui.
É a lua quase cheia que ilumina a água da noite.
São as distâncias. A vontade de ir e voltar. O mistério da pressão que faz voar aqueles gigantes de aço. Dos ventos que fazem andar um barco em todas as direcções.
Tudo isto me faz escrever.
E a minha filha que – temo – perca um dia o nome de tanto ser pim pim. São as palavras novas, as ideias claras.
O jogo do sério a seguir a jantar que não consegue jogar porque se perde de riso com o sorriso escondido da mãe.
É o dormir. Aquela coisa pequenina que me apetece tirar da cama só para sentir ao meu colo e dar beijos até de manhã.
O mistério que é querer deixar aqui um bocado meu todos os dias.
Dá vontade de não parar. De encher páginas e páginas de mim.
É o medo de me entregar para que toda a gente me leia.
Pessoas que eu nunca vi e outras que vejo todos os dias. Pareço outro aqui mas sou o mesmo. Não se ouve a minha respiração. Não se sente o meu cheiro. Não me sentem.
Não me tocam.
Ninguém do outro lado me vê e toda a gente sabe quem eu sou.
.
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Ideias que se vão formando por motivo nenhum. Pequenos momentos.
Pode ser o sol, o céu, o ar por cima de mim.
Pode ser uma fotografia que tentei tirar de Lisboa até casa sem nunca ter apanhado o ângulo que queria, a luz que queria e acabou por sair isto.
Era aquele vermelho sangue – mas do bom. Daquele que diz que o dia a seguir vai ser quente. Pode ser um semáforo vermelho que queria fazer funcionar para fazer parar o tempo e olhar... olhar infinatamente para lado nenhum. Só aquele tom vermelho. Só aquele azul celeste do fim do dia. Só eu.
Era uma hora de faz de conta que o dia acabou. De vamos embora para casa receber um abraço enorme de uns braços pequeninos e um beijo grande de uma mulher quase mãe outra vez.
Era hora do banho. Dos sorrisos e dos risos.
Da água quente que é quente e fria que é fria e que as duas juntas sabem tão bem. Hoje foi dia de tomar banho de pé como os crescidos. Como o pai e a mãe.
Ontem foi dia de ver o mano na ecografia e perguntar: e eu? Tu já aqui estás filha. E eu? E eu?
Não consegui articular um raciocínio a tempo porque ela fugiu a rir e aos saltos. Já estava noutra.
É este desejo de que a noite não acabe sem começar e não começe tão funda sem desligar a cabeça.
Este desejo grande de amontoar à toa palavras e mais palavras - que remédio doce este.
É este café surpresa em cima da mesa virada para o mar que me sabe tão bem.
É o cinzeiro que teima em não funcionar como quero e o feriado aí à porta.
É o fumo deste cigarro novo que me envolve como se o vento soprasse à minha volta menos aqui.
É a lua quase cheia que ilumina a água da noite.
São as distâncias. A vontade de ir e voltar. O mistério da pressão que faz voar aqueles gigantes de aço. Dos ventos que fazem andar um barco em todas as direcções.
Tudo isto me faz escrever.
E a minha filha que – temo – perca um dia o nome de tanto ser pim pim. São as palavras novas, as ideias claras.
O jogo do sério a seguir a jantar que não consegue jogar porque se perde de riso com o sorriso escondido da mãe.
É o dormir. Aquela coisa pequenina que me apetece tirar da cama só para sentir ao meu colo e dar beijos até de manhã.
O mistério que é querer deixar aqui um bocado meu todos os dias.
Dá vontade de não parar. De encher páginas e páginas de mim.
É o medo de me entregar para que toda a gente me leia.
Pessoas que eu nunca vi e outras que vejo todos os dias. Pareço outro aqui mas sou o mesmo. Não se ouve a minha respiração. Não se sente o meu cheiro. Não me sentem.
Não me tocam.
Ninguém do outro lado me vê e toda a gente sabe quem eu sou.
De memória:
Tinha mesmo que escrever isto
segunda-feira, outubro 02, 2006
Postais
Não quero escrever muito para não estragar. Faltam aqui os sorrisos da pim-pim, as corridas, a genérica arrogância francessa e o muito mau serviço um pouco por todo o lado. Falta o espanto de não se poder comer fora, fora de horas - tipo almoçar às 2 e um quarto - e os milhares de quilómetros de auto-estrada. Falta o sinal que não estava lá e que nos levou quase a Marselha quando queríamos ir a Avignon. Falta o pôr do sol em Cannes e a banda que tocava jazz no cocktail da Regata. Faltam os milhões de "puquês" até ao ponto do "porque tem que mesmo que ser assim filha". Faltam as conversas na varanda até às 2 da manhã. Faltam os mapas. Faltam as frases todas que sabia dizer com os artigos errados. Faltam a genovesa bezana que só dizia para a pim pim: "ma que bela". Falta muita coisa que guardo para mim.
Ficam os postais.
Ficam os postais.
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