sábado, outubro 02, 2010

Noite cheia




Nem lua nem nada (que se esconde atrás das nuvens para que não se veja)
No molhe da marina umas palmeiras que ontem não estavam lá. Parece outro o sítio.
Parece outro país.
Desta vez somos 7. Nós os 4 mais 3 que acabámos de conhecer. E isso não importa. Ainda o barco não saiu e já estamos apresentados.
E vamos.
E chegamos.
Foi rápido desta vez.
O fato já está vestido. O equipamento montado e agora só falta ser-mos um só de garrafa às costas.
E demora nada a acontecer. Cada um sabe das suas coisas.
Coletes e garrafas dispostos lado a lado. Cada um identificado com a mistura que leva lá para baixo. Luvas, barbatanas, máscara, lanterna. Está tudo. Estou todo.
Costas ao mar e mergulho.
À esquerda, luzes difusas. À direita, água.
E então descemos.
Somos 4 pontos de luz (que um feixe para ser feixe tem que ser maior que aquilo).
Quatro, cinco, sete, dez, doze metros, treze metros. Estamos no fundo que não é fundo. Escuro é. Fundo não.
Sinais de luz. Estamos bem. E então seguimos.
Por 40 e tal minutos seguimos pelo fundo. Nunca a mais de um, dois metros da areia. Nunca a mais de dois, três metros uns dos outros.
Porque ao contrário do dia, diz que a noite escura tira a visibilidade e que lá em baixo quatro metros é como daqui para “onde é que eles estão?”.
Não,
se vê,
nada.
E isso impressiona.
Como impressiona a quantidade de vida e como nos recebe.
Estive com um pequeno peixe na mão e não é uma questão de ter sido mais ou menos tempo do que esperaria. Não esperava um segundo que fosse.
Não esperava nada.
Não esperava que um polvo brincasse connosco, que os peixes dançassem à nossa volta.
Não esperava que os chocos fossem fosforescentes nem que o tempo passasse a correr por nós.
Queria agarrar noutra garrafa e voltar para baixo. Voltar a encontrar a concha perfeita que os fez sorrir no dia seguinte.
Ver outra vez um peixe galo que tem tanto de bonito como – dizem – de raro de avistar.
Queria outra vez o mar quieto, a água boa de fria sem estar gelada.
O tempo lá em baixo sem luz nem nada. Só estar. Olhar à volta e ver. Ver só. Descobrir uma solha na areia com os olhos de fora. Fazer-lhe uma festa.
Inspirar devagar, controlar a flutuabilidade só com os pulmões.
Queria estar ali.
Ver a lua outra vez na volta, descoberta, sem vergonha e ser noite cheia outra vez.

1 comentário:

Ana disse...

A descoberta é ainda melhor quando não esperamos nada. Quando tudo o que vemos e sentimos é, além de mais, inesperado. Noite cheia, sem dúvida.