quinta-feira, setembro 13, 2012

Aos políticos da minha terra

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Ser pai é uma experiência altamente complexa. De todas – e vivi algumas – é sem margem para dúvidas aquela que nos põe  em perspectiva tudo.
Não só o que com eles se relaciona mas tudo. Todos os pequenos gestos, todas as palavras, todos as acções.
Não sinto que me tenha anulado enquanto indivíduo e que seja apenas pai. Não sou. Sou homem, cidadão, marido, colega e tudo o que mais cabe em mim enquanto ser pensante e enquanto pessoa integrado numa miríade de conjuntos com outras pessoas.
Mas ser pai obrigou-me definitivamente a olhar para mais longe. A pensar mais além, a antecipar, a prever.
Ser pai obrigou-me a medir as mudanças levando em linha de conta as suas vidas – e não apenas a minha.
E é por ser pai que no próximo sábado me vou manifestar.
Não é por mim; é por eles.
Porque eu trabalho há mais de 20 anos e desconto há mais de 20 anos.
Porque consegui (com sorte e audácia e coragem e felicidade e sei lá que mais) trabalhar em áreas e projectos que me fizeram feliz e me pagaram as contas e me permitiram ter uma vida sem ter de olhar constantemente para a coluna da direita no menu do restaurante.
Porque quando sai de casa do meu pai para ir viver com a pessoa que amava (e que amo), fizemo-lo com as contas aos salários e foi com a mesma folha de papel, rabiscando e alterando valores, que mudámos de casa, comprámos carros, fomos de férias, fizemos viagens, tivemos 2 filhos.
Porque nós temos idade para sobreviver seja de que forma for e por isso, não é por mim, não é por nós que me insurjo. É por eles.
Porque fui enganado e roubado. Porque me obrigaram a refazer as contas sem que me tenha enganado a fazê-las.
Porque me obrigaram a olhar ainda mais à frente e a perceber uma tremenda incógnita.
Não é por mim que me manifesto nem   ter que pagar.para governarretroactoivamente a pensar em 2020 e nas facturas que outros vam garantir o meu futuro e deveriam dé por mim que escrevo. É por eles. Porque o meu trabalho e os meus descontos de mais de 20 anos mais os anos que ainda vou trabalhar deveriam garantir o meu futuro e deveriam deixar que os meus filhos escrevessem o deles.
Não deveria ser uma corja de interesses instalados a hipotecar os seus sonhos.. Com que direito?
Foram eleitos para governar hoje. Não foram eleitos para governar a pensar que em 2020 alguém pagará as facturas.
Foram eleitos para resolver hoje os problemas de hoje. Com medidas à medida de hoje. Com equidade e com respeito. Com um olhar crítico sobre a sociedade. Com a capacidade de auto crítica que nunca tiveram.
Não são capazes.
Não me interessa quem provocou o problema. (para o caso, quem governa hoje foi quem governou no passado intercalando com o maior partido da oposição entre arranjinhos e jantaradas).
Vão à merda e tenham vergonha.
Há pessoas desesperadas. Há quem comece a ter fome. Vê-se nas ruas.
As pessoas têm medo e quando as pessoas têm medo, fazem o que não fariam em situações normais.
Façam a vossa parte. Tomem medidas que façam a diferença. Ponham os olhos noutros países.

Não peçam às pessoas coragem e paciência. Tenham vocês a coragem de dizer “basta” às corporações e aos interesses instalados. Tenham a coragem de  condenar meia dúzia de gente suja. Tenham a coragem de dar o exemplo. Cortem nos carros, nas despesas de representação. Não resolve nada? Pois não, mas dão o exemplo. Mostram que estão com as pessoas e não contra as pessoas.
A continuar tudo como está, terão cada vez mais pessoas contra vocês.

Não é por mim que sinto a revolta, é por eles.
Porque eles vão crescer num país que não os quer, que os manda embora, que lhes dá sinais que não querer que a justiça funcione, que os tribunais julguem de forma independente. A continuar tudo como está – e não há sinais de mudança – vão crescer num país só para alguns.
A continuar tudo como está, correm até o risco de crescer noutro país. Por isso sábado, quando sair de casa e eles me perguntarem onde é que vou, eu vou responder-lhes que vou dar 2 gritos de revolta e tentar fazer alguma coisa. Não é por mim; é por eles.