terça-feira, dezembro 27, 2011

Diz que disse 44

Depois de sair do banho na mais completa excitação, desatou a tocar "air guitar" como se não houvesse amanhã enquanto lhe punha creme e o vestia. De repente, no fim de um solo acompanhado de um tam tam tam final, vira-se para mim e diz: sabes, fui eu que inventei.
- o quê filho?
- esta musica que estava a cantar.
E continuou. Nem 2 minutos depois, olha-me nos olhos a 2 cm da cara e pergunta:
- pai, sabes o que é quando eu me calo?
- o quê filho?
- é intervalo.
O meu filho é uma verdadeira rock star.

sexta-feira, julho 08, 2011

Diz que disse 42 e 43

O meu filho tem uma memória prodigiosa. Se calhar "prodigiosa" é exagerado mas como é meu filho posso abusar da adjectivação o que me apetecer.
Lembra-se de coisas que viu há meses.
Outro dia, passamos na auto-estrada por uma D.Elvira, típica de anos 20. Um banheirão de carro. E diz o Digos:
- Pai, este carro é igual ao dos maus do filme dos cães.
- qual filme filho?
- o dos Sete e uns Dálmatas.
- de qual Digos?
E ele com ar paciente e sabedor, como quem explica o básico dos básicos ao Pai:
- Sete........ e...... uns.....dálmatas.
- cento e um Digos. Cento e um dálmatas. São 100 mais um.
- ah... Mas isso são muitos pai.

-----------------------

Chegamos a casa, estaciono na garagem e tiro-o do carro.
- Pai, vou-te contar uma coisa.
Sabes quando há relampaMos...?
(pensei, ouvi mal)
- quando há o quê, Digos?
- relampaMos
- nao são relampaMos, são relâmpagos. Diz lá...
- relampaMos
- relâmpagos, gos, gos. Diz lá "gos, gos"
- gos
- boa. Então diz lá.
- pai, sabes quando há relampaMos?
- oh Digos, relâmpagos.
Olha para mim de baixo para cima, faz uma pausa e segue:
- sabes quando há relâmpagos?
- sim
- é quando está a chover.

.... E eu armado em parvo a corrigir o português quando havia conhecimento cientifico para ser partilhado.

sábado, maio 21, 2011

Depilação a laser

Não me preocupa muito o que os outros pensam de nós. 
Chateia-me isso sim, o que nós pensamos de nós. Aborrecem-me as mentiras, o atirar de culpas, o eterno solucionar com o futuro para que no futuro alguém encontre as soluções que não fomos capazes de encontrar até agora. 
Irrita-me o discurso cuidado, ensaiado; a máscara sem pudor que se mostra como se de uma pele se tratasse. 
Porque eu posso dizer os disparates todos, todos os dislates, os maiores palavrões e as asneiras mais escabrosas. Eu não sou uma figura público-político-pseudo-iluminada. Eu sou nada. Sou mais um. Eu até posso dizer que se discutem pintelhos em vez de assuntos sérios, eu até posso ter soluções de algibeira, ideias mirabolantes de fazer baixar o endividamento público, dizer que baixo os impostos que subo a receita e que aniquilo a despesa do estado com três medidas.... e meia. Que faço aumentar as exportações em quatorze virgula sete. 
Eu posso dizer o que quiser que eu sou ninguém. E por isso é indiferente que qualquer das minhas medidas fique aquém.
Mas assim não. A brincar é que não. Basta o que basta. Se é para nos responsabilizarmos que sejamos todos. Que se mudem as regras. 
Ou então que se assuma que somos assim. Que a contextualização histórica nos moldou. Que os mouros nos deixaram os números mas que precisamos de um tradutor de serviço que os explique. Que o nosso papel geo-estratégico foi um erro de casting e que de facto, os 500 anos de ensaios não correram bem; que se entregue a outro.
Porque até os mais empedernidos começam a ter dificuldade em encontrar justificações. A segunda guerra passou-nos ao lado, a revolução passou de mansinho e nós, vamos passando de mansinho pelos dias.
Agora vem 5 de Junho de mais um mês de verão que há-de ser bom para a praia e que vai ter menos gente interessada que aquela a quem tudo isto interessa. Porque nada é claro. Nem esquerda nem direita. Nem liberalismo económico, neo-liberalismo, socialismo dentro e fora da gaveta. O problema acaba por nem ser a peça de mobiliário.  Acabam por ficar as ideias todas no armário. Acaba por ficar tudo a meio de coisa nenhuma e nós, no meio disto tudo sem saber onde nos arrumar. 
Pela primeira vez - eu, que sou de paixões e convicções - fico dividido entre o discurso dos analistas e a análise dos taxistas. Fico a pensar que o último a sair seria um mau programa se não fosse tão bom. Há ali qualquer coisa de genial. Qualquer coisa de imoralmente genuíno. Há ali material humano apaixonante. Que é tudo o que tem faltado nestes dias cinzentos. Convicção, acreditar, amar, pensar. O querer um projecto. O idealizar. 
Falta-me sentir que alguém se importa e que quem se importa pode fazer a diferença. Porque há diferenças. Não chega um mundo de ideais que se apoiam numa ideia só. Não chega o desejo comum a todos de acabar com o sofrimento dos animais. São sãos mas são ideais isolados e isolados estamos tramados. 
É preciso encontrar o elemento agregador. O cimento disto tudo. É preciso um trolha que meta a mão na massa e que se junte a outro que saiba pintar e a mais outro que não se importe de acartar. É preciso acreditar e acima de tudo, é preciso querer. 
Porque nós sabemos. E fazemos tão bem ou melhor que outro qualquer. Somos capazes de inovar, de criar com todas as dificuldades. De aproveitar as adversidades e de as transformar em oportunidades. E o tempo de o fazer é agora. Quem não quiser vai embora. Quem não acreditar que se ponha andar. E a nós, os que acreditam que é possível, os que acreditam que isto tem que melhorar, ajudem-nos a ajudar. Levantem as bandeiras e digam-nos que este é o caminho certo. Que é por aqui e que quando formos, cheguemos a algum lugar.

segunda-feira, março 14, 2011

Tu, no palco.

Hoje é capaz de acordar o dia com chuva. O chão molhado, o céu carregado, as nuvens pesadas. Hoje é capaz do dia ser cinzento, de soprar o vento logo pela manhã. Hoje é capaz do trânsito ser um inferno, de se levantarem ondas na marginal, de mesmo fora de tempo ser um dia invernal.
Ainda assim, vais acordar com o beijo meu, com festas dos teus filhos que incapazes de mimos e carinhos por muito tempo, acabarão aos saltos a cantar-te os parabéns. A dizer que te amam muito e que és a melhor mãe do mundo. A dar-te presentes comprados em segredo que o Diguinhos foi incapaz de guardar.
E depois vais sorrir como sempre fazes. Vais ser o mesmo anjo de sempre. Vais ser a melhor mãe do mundo outra vez, a melhor mulher do mundo outra vez. E eu, vou repetir-me outra vez e dizer que te amo muito, mais que a vida, mais que o mundo. Vou lembrar-me de todos os aniversários. Pensar que daqui a 2 anos serão tantos os que celebraste sem mim como os que comigo.
E então acaba o dia e tu continuarás, perfeita, um anjo, linda, doce, como sempre. E é tão bom estar na primeira fila da tua vida. Amo-te. Parabéns.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

4 anos de gente




E quando eu pensava que não era possível amar mais, chegaste, pequeno, a fazer disparates ao primeiro minuto. A assustar-me como nunca antes me tinha assustado. Apareceste, vieste, foste tu. Eras tu. Ali, enrolado e a tentarem que respirasses. E respiraste. A seguir choraste e fizeste tudo o que era suposto.
E então começaste a crescer. Começaste a ser tu. Vivo, esperto, mexido.
Quando sorrias, fazias aquelas covinhas irresistíveis que ainda hoje fazes. Que aprendeste a usar para teu proveito. Aquele sorriso com que seduzes toda gente com quem te cruzas. Aquele sorriso maroto.
És um apaixonado. Amas loucamente. Gostas da mãe, da mana e do pai. Dos avós, dos colegas, das professoras. Gostas e gostas de gostar. Gritas de braços abertos: és linda mamã. Abraças com toda a força que tens. Penduras-te no meu pescoço e pedes que te leve. Sobes para os meus pés e pedes que te leve. Queres ir; sempre. Parado nunca. Sempre a andar. Ouço-me dizer-te o que ouvia ao meu pai. Tens bichos carpinteiros, não sabes estar quieto mas... há histórias que te levam à calma. Há livros que te fazem sentar, quieto, calmo, sereno. Não é menos verdade que mesmo assim, há sempre uma pergunta, uma observação, qualquer coisa.
És curioso, queres saber, queres descobrir. Não te chega uma brincadeira, um carro, um boneco. Queres sempre mais, diferente, outra coisa. Queres chegar depressa, partir para outra.
Ainda assim, és do mais meigo que se conhece. Doce.
Não há como chegar a casa e ouvir-te – quase sempre em coro com a tua irmã – gritar: paaaaaaaiiiiiiiiiiiii.
Cura tudo.
E hoje, são 4 anos de gente. Gente pequena, esperta, viva.
E foram os melhores 4 anos da minha vida.
Amo-te muito Diguinhos.

sábado, janeiro 22, 2011

Diz que disse 41 (coisas dele)

Porque não é coisa de que me orgulhe, fumo às escondidas dos meus filhos. Nunca, nem um nem outro me viram puxar de um cigarro. E por isso, sou obrigado a fazer outra coisa de que também não me orgulho: mentir.
Páro muitas vezes numa bomba de gasolina à ida para casa com o pretexto de ir comprar uma revista que, curiosamente, nunca há.
Hoje, à vinda de um jantar com os avós e sem a Pim que ficou a dormir em casa de uma amiga (e isto poderá ser tema a desenvolver :-) parei na dita bomba para ver da tal "revista".
Já com o tabaco no bolso mas curiosamente sem qualquer revista, entro no carro para encontrar a mãe a conter o riso e a dizer para o Digos:
- vá, diz ao pai...
E ele disse:
- sabes pai, isto é esquisito.
- o quê filho?
- vens sempre aqui para comprar uma revista e nunca há a revista. É esquisito não é?

De facto é. É esquisito.
Mas tem tanto de estúpido este mentir como de engraçada esta atenção aos detalhes.