Ando numa ânsia contida que não me incomoda nada. Está sempre aqui presente este “é agora?” a cada volta mais complicada ou movimento mais penoso. O digy – será que vai pegar como “pim pim” pegou? – vem aí não tarda nada e até quando tocam à porta penso que pode ser ele, de malinha feita para ficar cá em casa. O quarto está pronto – apesar do nervoso miudinho da mãe que temia o contrário. Está pintado e só faltam meia dúzia de detalhes que o tempo se encarregará de trazer e decorar como esses dias que aí vêem quiserem. A roupa está pronta, a mala está feita e o kit para a criopreservação das células estaminais repousa embalado ao lado da mala. O hospital está tratado e o número da médica no speed dial. Está tudo. Só falta o bichinho querer.
Estamos à tua espera filho.
O pai, a mana e a mãe. Especialmente a mãe, que te trouxe estes quase nove meses com ela. E que nove meses. Tu e a mãe são uns heróis. Uns valentes.
A mana dá-te beijinhos todos os dias e eu, à noite, escondo-me por baixo dos lençóis, encosto a minha boca à barriga da mãe e vou-te segredando o quanto te amo e te quero e como vai ser bom viver connosco. Vou-te sussurrando como é a mãe e a mana. Os feitios, os risos, os sons que ouves todos os dias. Como vais ser feliz – palavra de pai - e como vai ser bom sermos 4. O que vamos fazer com toda a certeza. As viagens quando cresceres. Como a mana vai tomar conta de ti e como te vai dar carinhos e mimos e festinhas. Vai ser muito bom, vais ver.
Agora já sabes, quando quiseres vir, vem. Nós não vamos sair daqui.